Andou pela cidade apenas tentando imaginar o rosto dela.
Atravessou multidões que não diziam nada de forma
ensurdecedora e o barulho de carros que cuspiam fumaça invadiu seu cérebro feito
posseiro decidindo que ali é seu lugar. Desesperado, correu para baixo da
terra, descendo as escadas do metrô. Mas foi em vão: logo não conseguia mais
escutar a si mesmo, pois seus pensamentos se diluíam em músicas gritadas de
telefones e trechos de conversas cinzentas sobre um cotidiano sem paixão.
Quando uma voz se sobrepôs às outras anunciando uma estação qualquer e a saída
pela direita do trem, escapou e subiu as escadas de dois em dois tentando fugir
dos ruídos. Atravessou a rua cercado de buzinas que ordenavam que se afastasse
de uma vez, e, sedento por silêncio, entrou em um bar para beber um copo de suco,
mas a música alta e estridente retirou o sabor da bebida e a gargalhada
estridente da mulher na última mesa o deixou tonto e correu de volta para a
rua. Entrou no primeiro ônibus que passou em sua frente e foi obrigado a ficar perdido
no meio da conversa entre o motorista e o cobrador, cercado de frases que não
diziam nada. Desceu e resolveu ir a pé, passando por motores de uma obra que já
deveria ter terminado, desviando de freadas de carros que não se importam com
quem está ao lado, e pulando o choro da criança que deseja apenas a atenção da
mãe que não larga o telefone. Sorriu em silêncio quando conseguiu avistar seu
prédio. O porteiro o cumprimentou por trás da pequena televisão no volume
máximo, e ficou cercado de dois amigos que sonhavam com uma noite agitada e
cheia de barulho no elevador e finalmente entrou no apartamento fechando a
porta para se libertar do barulho de fritura do apartamento do lado.
E pegou o telefone e ligou para ela. Quando ela atendeu,
tudo o que ele fez foi pedir.
– Fale comigo. Não importa o assunto. Apenas fale, por favor.
Porque ele adorava a paz do silêncio que existia apenas na voz
dela.
3 leitores:
Perfeito.
Perfeito.
Mágico...
Isso é o "viver a dois" que espero pra mim ;)
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