Percorria as ruas incessantemente. Atravessava avenidas e praças, entrava e saía de bares repletos de gargalhadas e promessas de amor. Vagava por restaurantes escutando propostas de parceria, pedidos de casamento, bebês chorando ao lado dos pais. Sons vagos de uma realidade que lhe era tão distante. E observava as pessoas com uma curiosidade quase infantil e delicada, imaginando como elas conseguiam conversar entre si, tentando adivinhar a história de cada sorriso que avistava.
Percorria as ruas incessantemente. Buscava em seus passeios explicações para os próprios sentimentos. Em silêncio, caçava indícios de onde guardar suas próprias memórias. Sem ser percebido. Vagando, enxergava personagens centrais e figurantes de poemas e contos, imaginava cenários que dariam vida aos seus textos. Imaginava textos que o levariam de volta à vida. Criava diálogos em busca de um final feliz que jamais lhe seria permitido. Não sorria para ninguém, não era sorrido.
Percorria as ruas incessantemente. Não distinguia o tempo, não reconhecia os locais. Apenas vagava em silêncio. Sem ser visto. Sem destino e sem retorno. Sem parar e sem descanso. Flutuava vagarosamente alguns centímetros acima do chão, sem jamais tocar nele. Deslizava pelas calçadas e ruas, sem ser percebido e tampouco sem tocar em nada. Atravessava paredes e muros. Atravessava portas e janelas. Atravessava as pessoas como vento, sem deixar marcas, sem ser relembrado.
Percorria as ruas incessantemente.
Não era um escritor fantasma. Era um fantasma escritor.
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1 leitores:
Quantos fantasmas estão vagando por aí, sem serem notados e por vezes, sem nem ao menos terem um prazer, como escrever...
Belíssimo texto.
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