14 de dezembro de 2011

Heróis

E uma noite ela sonhou que nadava. Deslizava pelas águas, submerso sob o reflexo da Lua, trespassado sempre que seu corpo emergia em busca de ar, antes de mergulhar novamente num mar de saudade doída. Nua e totalmente entregue à maré, usava apenas uma coroa que a proclamava Rainha, eternamente em busca de um consorte que lhe seria Rei. Ainda sob as águas, ouviu som de tiros que vinham de um mundo distante, sons abafados como se disparados do outro lado de um muro. Nadando sem ar, percebeu que já era mais preciso respirar, visto que a própria água enchia seus pulmões de oxigênio. E avistou seu amor, nadando em direção a ele. Trespassando o muro, atravessando os tiros, beijaram-se sob as águas, enquanto o mundo ao redor entrava em colapso. Num beijo que venceu mágoas e ressentimentos, num beijo que venceu ódios e preconceitos, num beijo uniram-se em uma única pessoa, permanecendo assim pelo resto da noite, ignorando que jamais se beijariam novamente quando o Sol nascesse. Tornaram-se heróis, por um único dia que durou para sempre nas memórias da água. Mas nada poderia fazer com que permanecessem como um.

Ela acordou.

No outro lado da cidade, ele dormia com David Bowie ainda rodando na vitrola.

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