4 de agosto de 2011

Quente

Sozinho na noite fria tentou se lembrar da última vez que ganhara um sorriso. Não um sorriso por algo que tenha feito ou dito, mas um sorriso apenas por ser ele. Diversos sorrisos se misturaram em sua mente, formando uma névoa que, como era esperado, não sorriria mais. Ou nunca havia sorrido de verdade. Aproximou-se do ar enevoado e tentou capturar um sorriso. Eram muitos, de infância e brincadeiras. Eram mitos, de amores e sonhos. E se multiplicavam em outros sorrisos que poderiam ser memórias de momentos doces como imaginação de épocas fantasiadas. E todos eles dançavam à sua frente, freneticamente, girando e sorrindo e colorindo o ar de laranja e sorrindo e gritando de felicidade e sorrindo. Mas sempre sem se deixarem apanhar. E feito criança ele deixou-se enganar, tomado pela vontade de sorrir que abandonara anos atrás, e mergulhou na etérea nuvem de felicidade à sua frente. Flutuou no ar enquanto a névoa, quase viva, se dissipou anes que ele a abraçasse, com os risos se tornando uma gargalhada amarga. E, caído no assoalho, permaneceu conformado e sem sorriso, decepcionado não com o silêncio da noite, mas sim consigo mesmo, por um dia ter acreditado que sorrisos existiam. E por ter esperado inocentemente que um sorriso fosse endereçado a ele. Suado de dor e envolto pelo ar frio, rastejou até encontrar um lugar para dormir, rezando baixinho para não sonhar, apenas para descansar um pouco antes do dia seguinte, que seria igual a todos os outros.

2 leitores:

littlemarininha disse...

Dolorido, hein?! Caramba...

IsabelVeronica disse...

Pôxa!
Fiquei com um nó na garganta.

 

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