4 de agosto de 2011
Morno
Vozes. Vozes que fazem planos, vozes que se tornam risadas. Vozes que almejam sonhos, vozes que confortam. Sentado no meio de dezenas de pessoas, suas vozes chegavam a ele por todos os lados, com estilhaços de assuntos e conversas rodando ao seu redor, feito satélites. Mas sem nunca tocá-lo. Vidas que começavam e terminavam em minutos, quando as palavras se dissipavam no ar. Vozes que planejavam as mãos dadas do cinema de domingo, vozes que convidavam para a cerveja com porção de papo, vozes que sonhavam em um dia morar junto com outra voz. Vidas e vozes que temperavam o ar com frases de amor e pensamentos soltos, sempre em busca de serem ouvidas e aceitas e queridas e amadas por outras vidas e vozes. E alheio a tudo, ele permanecia numa bolha de silêncio. Sem voz e sem vozes. Numa vida sem vidas. Em prédios, ônibus, vagões, ruas. Vozes faladas, vidas vividas. Vozes que o cercavam, o rodeavam, e se afastavam levando sentimentos e sensações às quais não tinha acesso. Vozes às quais não tinha acesso, vidas às quais nunca teve acesso. E, ao final do dia, deixava-se levar pelo vento para dentro de casa onde esquecia a própria vida e brincava com as palavras do seu próprio jeito: em silêncio, no papel.
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3 leitores:
Aaaaaahhh. Você é muito bom. Te odeio.
Uma porrada...
Vontade de ler, reler, ler novamente... Assim, constantemente.
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