Num dia desses, desistiu.
E em meio às lágrimas de ácido e respiração ofegante, abandonou a ideia de resistir e entregou-se. Deixou o ódio frio esquentar e explodir num grito que cortou o ar e tingiu sua alma de negro. Gritou entregando-se aos erros e até mesmo aos acertos errados. Seu coração acelerou fazendo suas veias incharem. Gritou por viver num mundo pequeno demais pra ele mesmo. O vento se afastou, a terra se abriu, o mar recuou. Plantou-se no chão permanecendo imóvel enquanto o mundo girava. Após o grito, manteve-se em silêncio, brigando desta vez consigo mesmo. Abandonou o mundo. Ressentiu os tombos do passado e abandonou as quedas do futuro. Apagou músicas amorosas e o doce do vinho de sua memória, depois de julgado não ser merecedor delas. E deixou o tempo passar, aprisionando-se no momento em que decidiu não se importar mais. Entregou o tempo aos outros, trancando-se dentro de si próprio. Sendo ele o problema, corrigiria o mundo do dilema. Se a ele não era mais permitido sonhar, trancafiaria-se dentro da realidade que sobrou. Estando em guerra com ele mesmo, entregaria a paz aos outros. E caiu de joelhos sobre a terra ainda úmida de prantos, cabeça baixa e vencida sob o céu cortado por raios. Enlouqueceria sozinho e não numa vitrine. Se a ele não era mais permitido uma alma, sopraria a sua pelos lábios torcendo para que ela escapasse. Trincou os dentes, apertou os punhos. Em breve, ninguém se importaria. Em breve, ninguém mais se lembraria. Se a ele não era permitido ter um coração, que o seu parasse. Bastava apenas esperar, escondido da paz, torcendo para que a paz banhasse um mundo que não mais lhe pertencia, pois nunca havia lhe pertencido.
Desistiu, num dia desses.
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Parece com o protagonista de um livro que estou lendo. Chama-se A Casa da Dor, de Jo Nesbo.
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