(tema sugerido por: @renatacv)
- Fernando!
- Pedro! Que surpresa, cara!
- Eu que o diga! Você sumiu!
- Ah, sim... Tenho andado bem ocupado.
- Todo mundo tem reclamado disso na turma. Faz semanas que ninguém sabe de você.
- Ah, rapaz, passei por uns problemas...
- Sério? O que houve?
- Ah, deixa para lá...
- Não, não. Diga. O que aconteceu?
- Ah, Pedrão...
- Fernando, nós somos amigos, cara. O que aconteceu? É mulher?
- Não, não.
- Dinheiro?
- Não.
- Fernando?
- Oi...
- Abre o jogo.
Vendo que não havia escapatória, Fernando apontou o bar do outro lado da rua. Cinco minutos depois, estavam no balcão tomando uma cerveja. Na metade do primeiro copo, ele começou a falar.
- Então... Eu estou frequentando uma associação.
- Como assim?
- Como eu disse, passei por uns problemas...
- Sim, sim. Que associação?
- Olhe, você tem que prometer que isso vai ficar entre nós.
- Fale logo!
- Não. É sério. Prometa! Mesmo!
- Ok. Prometo.
- É um Anônimos, sabe?
Pedro imediatamente olhou o corpo de cerveja na mão de Fernando.
- Não, não precisa se preocupar. Não sou alcóolatra.
Por um lado, a notícia era boa. Por outro, não. Se Pedro não frequentava os Alcóolicos Anônimos, podia ser algo pior. Provavelmente seria algo pior. Não havia mais motivos para rodeios.
- Abre o jogo.
- Ok. Chama Anônimos Anônimos.
- Como?
- Anônimos Anônimos.
- Que diabo é isso?
Os olhos de Fernando estavam começando a marejar.
- Cara, hoje em dia, todo mundo é famoso! É Big Brother, é Internet...
- Sim, e daí?
E daí que as lágrimas romperam numa torrente! Fernando desmoronou e escondeu o rosto molhado nas mãos.
- Eu não sou famoso! Ninguém sabe quem eu sou! Ninguém! Eu ando pela rua e sou apenas
mais um cara qualquer! Um merda!
- Não, você não é uma merda!
- Sou sim! Sou sim! Todo mundo é conhecido hoje, menos eu!
- Não é assim.
- Bom, pode ser que nem todo mundo queria ser famoso. Mas eu queria! E não consigo! Nada do que eu faço dá certo!
- Calma. E essa associação?
Fernando limpou o nariz escorrendo com a manga da camisa. Ainda bem que ele não era famoso, senão teria que perder essa mania.
- Então... Como eu disse, é como se fosse um Alcóolicos Anônimos. Mas é para gente como eu, que deseja ser famosa e não consegue.
- Como assim?
- Anônimos Anônimos, sabe? Somos Anônimos por não sermos famosos, e Anônimos por não precisarmos falar nosso nome real lá dentro.
- Mas... Mas o que vocês fazem?
- Ah, primeiro temos uma reunião de grupo. Cada um se apresenta e diz há quanto tempo não está pensando em um modo de se tornar famoso. Eu consegui ficar assim por dois dias, uma vez. Ganhei até uma medalhinha. Quer ver?
- Não, não precisa.
- Depois temos dinâmicas de grupo. Por exemplo, semana passada, simulamos uma noite de autógrafos, como se o nosso terapeuta estivesse autografando seu livro. Assim, nós formamos uma fila para conseguirmos autógrafo, e precisamos nos esforçar para não ficar olhando na direção dele com inveja, por exemplo.
- Entendi...
- É bacana, tem me ajudado bastante. Estou bem mais relaxado. Por exemplo, ontem mesmo estavam fazendo uma reportagem para a televisão ali naquela avenida. Você viu?
- Não.
- Eu vi. Pedro, se isso tivesse acontecido alguns meses atrás, eu teria ficado cego. Não conseguia pensar direito. Na mesma hora, eu teria corrido para trás da repórter, para ficar pulando e acenando para a câmera. Sério, que vergonha.
- Calma. Você não fez nada disso, certo?
- Não. Mas foi muito difícil... Eu olhei a câmera ali, na minha frente... Fiquei pensando que o Brasil inteiro poderia me ver naquela hora. Mas me controlei.
- E aguentou?
- Mais ou menos. Tive que sair correndo para casa. Passei o resto do dia tremendo, de cama. Crise de abstinência, sabe? Não era um jornal qualquer, era o jornal da noite. Puta audiência. Foi difícil, cara. Foi bem difícil.
- Mas agora você está bem.
-Estou. Mas não 100%. Essa câmera me afetou muito. Então, consegui dois de folga do trabalho, com atestado e tudo.
- Que ótimo.
- Isso tem me ajudado demais, Pedrão.
- Fico feliz, cara. De verdade.
- Agora eu preciso ir. Hoje vamos ter uma prova difícil.
- Qual?
- Vamos entrar nas redes sociais e apagar todas as fotos em que estamos pulando na frente dos outros, para aparecer mais que todo mundo. Eu vou me ferrar, tenho umas 50 fotos assim.
- Mas você vai conseguir. Tenho certeza.
- Tomara. Mantenha isso em segredo, por favor. Pela minha família. Meu pai morre de vergonha de ter um filho que quer ser famoso. Por favor.
- Pode deixar. E, olhe, precisando, é só falar, viu?
- Obrigado, Pedrão. Você é um puta de um amigo.
- Se cuida.
- Pode deixar.
Mas não se cuidou. Quer dizer, tentou. Mas não conseguiu. Semanas depois, o Fantástico descobriu a Anônimos e Anônimos e entrou em contato para fazer uma matéria. Claro que o pedido foi negado pela segurança dos participantes, mas o estrago já estava feito. Afinal, era o Fantástico. Sem saber como lidar com isso, Fernando fugiu do grupo e de casa, e desapareceu totalmente.
Depois de alguns meses, a família desistiu de procurá-lo. Achavam que ele estava totalmente perdido, vendendo o corpo para conseguir pontas como figurante em Zorra Total, ou gravando vídeos musicais para colocar no Youtube. A última vez que realmente souberam de algo dele, descobriram que estava em Minas Gerais. Foi num domingo, quando ele atravessou o gramado do Mineirão pelado durante um Cruzeiro e América.
O pai desligou o televisor e nunca mais tocaram no nome do Fernando dentro de casa.
8 leitores:
doente.
MUITO doente.
Hahahaha.... como vc imagina essas coisas? Sério! MUITO doente [2]
Hauahuahuhauahuhau! Só pode ser o sono cobrando a conta. Ficou demais.
Sim, doente. Mas sensacional haha Queria entender como ainda tem criatividade depois de já ter escrito 20 crônicas nas últimas horas.
Quando eu passei para a faculdade meu nome foi publicado no jornal...
Eu sou famoso?
"Fernando limpou o nariz escorrendo com a manga da camisa."
Que cara porco!!
Ainda bem que ele não apareceu pelado no jogo do meu amado e idolatrado, Atlético Mineiro.
Hahahahhahahahahaha
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