20 de junho de 2011

Labirinto

Respirou fundo.

Subiu correndo as escadas, empurrando as pessoas à sua frente. Deixou para trás dores, abandonou os amores e fugiu da saudade, subindo os degraus de dois em dois. Ao invés de entrar na porta em frente, virou à esquerda e continuou subindo, ofegante, desesperado, sem controle algum da realidade ao seu redor.

Procurava um rosto conhecido ao cruzar com pessoas sem rosto que cruzavam seu caminho sem sequer notarem sua existência. Continuou subindo como se uma redenção estivesse esperando por ele nas alturas. Gotas de suor escorriam pela sua testa, dançando junto com as escadas que o obrigavam a mudar de rumo, fazendo com que ele fosse parar sempre em si mesmo.

Chegou a um balcão aberto com vista para o nada. Não havia mundo, não havia cores nem luz. Vazio, escapou para novas escadas monocromáticas. O mundo ignorava sua presença e ele falhava em descobrir um caminho. Perseguia cores que não conhecia, corria atrás de luzes há muito apagadas, tateava com os olhos em busca do olhar de um amor esquecido anos atrás.

Subiu. Procurou em vão por conforto e paixão. Virou. Procurou em vão por carinho e afago. Desceu. Procurou em vão por um sorriso e pelo menor traço de amor. Subiu. Procurou pelo doce do beijo de lábios que não existiam. Virou. Procurou se aninhar no abraço que se dissipava com o vento. Desceu. Procurou pela paz de espírito e pelos sonhos do futuro.

Subiu, virou, desceu. Procurou.

Em vão.

E, sem fôlego algum, com as pernas fracas, descobriu que havia voltado ao ponto de partida. Ou que nunca havia saído dali. E desmoronou sobre os joelhos, pedindo perdão para si próprio por não ter conseguido escapar do próprio passado. E chorou perdoando-se a si mesmo por jamais conseguir abandonar a pessoa que sempre havia sido.

E com os olhos cheios de lágrimas, compreendeu que voltara ao ponto de partida somente porque jamais deveria ter partido. E, com a boca seca, finalmente aceitou que nunca poderia escapar de seus sentimentos.

Estava preso no seu próprio labirinto. Para sempre.

Respirou fundo.


(Inspirado no quadro Relatividade, de M. C. Escher)

3 leitores:

Nelson disse...

Jesus, Rob. Eu prefiro esse blog no papel, mas isso bateu minhas espectativas.

Já foi encaminhado para outros fãs de Escher.

Tyler Bazz disse...

Perdido.

insonne disse...

Eu juro que pude me ver ai!Lindo!!!

 

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