- Estou bem?
Ele não ouviu a pergunta. Estava distraído, mergulhado dentro de si próprio, pensando.
Estava pensando em como se sentia. Estava reaprendendo a ser ele mesmo, pouco a pouco. Estava reaprendendo a ter voz, reaprendendo a enxergar as coisas como elas são – e principalmente, estava reaprendendo a ser ele mesmo.
Estava reaprendendo a caminhar.
Sentia-se, às vezes, como um filhote que sai do ninho pela primeira vez e arrisca os primeiros passos. Mas, no caso dele, não era preciso aprender, mas sim se acostumar. Por outro lado, sentia-se, às vezes, como um adulto, que, mais do que perder tempo provando seu valor, poderia ensinar algo. Poderia fazer algo de verdade.
Estava voltando a um admirável mundo novo, que ele jurava esquecido e perdido para sempre.
Pois havia sido convidado. Havia sido convidado por um olhar delicado que cismava em escapar do seu nos momentos de timidez. Havia sido convidado pela voz delicada e segura que pronunciara seu nome no meio de uma madrugada. Havia sido convidado pelo entrelaçar dos dedos, pelo abraço afetuoso, pelo beijo roubado no meio da madrugada.
Estava aprendendo a ser ele mesmo. Estava redescobrindo a pessoa que sempre fora.
Ela não havia pedido nada, tampouco ordenado algo. Ela não havia brigado, teimado, agarrado ou explodido. Ela havia apenas convidado:
- Seja você mesmo. Seja sempre você mesmo, do seu jeito.
Ele afastou o pensamento da cabeça e sorriu. Ela estava parada na porta ao seu lado, ainda sorrindo. Apenas uma fração de segundos havia se passado. E uma fração de segundos é algo que se pode perder quando se trata de uma vida. Levantou-se e olhou para ela.
- Obrigado.
- Por quê?
- Por ter me convidado.
- Para a minha casa?
- Não. Para viver de verdade.
Ela afastou os olhos, tímida. Ele apenas completou.
- E você está linda. Mais do que sempre, e menos do que amanhã.
Ela apenas sorriu, sem saber o que dizer. E ele redescobriu ser capaz de cativar um sorriso, sorrindo discretamente junto. Ela ficou alguns segundos com os olhos teimando em escapar para os lados, mas ele não tentou capturá-los. Havia todo o tempo do mundo para isso.
Pois, aos poucos, ele redescobria que o tempo estava ao seu lado.
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6 leitores:
Sei nem explicar o quanto eu gostei de ler esse texto.
Se já não bastasse o post vem o Tyler e faz esse comentário : ~
carai.
O mais bonito é ele esperar para capturar os olhos. :)
Seu texto me lembrou esse video http://vimeo.com/11535650
Porque o tempo é o unico que sempre estará ao nosso lado...
Que coisa mais linda! Terminei de ler esse texto e fiquei sorrindo, de tão leve, querido e sincero que ele é. Pela realidade pura e simples que ele transmite. Os dois personagens desse texto merecem muito essa paz em viver de verdade!
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