– Sabe...
– Diga.
– Quando eu era criança, eu sonhava o tempo todo em ser herói.
– Herói? Com poderes e tudo?
– Não. Quer dizer... Também. Com ou sem poderes, tanto faz. Mas um herói.
– Mas que herói?
– Ah, um monte... Cada dia era um. Em alguns dias eu queria salvar a galáxia na minha nave, em outros eu queria resgatar a princesa no alto do castelo.
– Isso é por causa dos filmes que você assistia, aposto.
– Provavelmente. Filmes e seriados. Ficava sentado na frente da televisão, olhando os heróis e imaginando se um dia eu seria um deles. Se eu salvaria a mocinha, se eu ajudaria as pessoas de uma aldeia, se eu um dia conseguiria explodir a Estrela da Morte.
– Toda criança é assim.
– Ou mesmo um super-herói, combatendo o crime, pulando de prédio em prédio, enfrentando vilões poderosos, e a multidão embaixo apreensiva, esperando pelo resultado da luta, torcendo por mim.
– Você também lia revistas em quadrinhos?
– Claro. E achava aquilo demais. Sonhava acordado o tempo todo, imaginando como seria o meu uniforme, quais poderes eu teria. Super força? Telepatia? Cada dia era um poder diferente.
– Mas tinha algum preferido?
– Poder?
– Não, herói.
– Ah, um monte. Luke Skywalker, Indiana Jones, James Bond, Homem-Aranha... Cada dia era um. Cada dia eu queria ser um deles. Mas sempre fazendo o bem, sempre sendo admirado pela minha coragem, pela minha honra, sempre salvando a princesa e sendo aclamado como um campeão. Admirado pela cidade inteira, sabe?
– Sei.
– Seria demais.
– Posso falar uma coisa?
– Você não tem super poderes nem sabre de luz, mas você é um herói. Você trabalha, dá o melhor de si no que faz, cuida de quem você ama. Você pode não explodir a Estrela da Morte, mas você é um herói para muita gente. Para mim também.
– Obrigado... Mas não é a mesma coisa. Acho que não tem a mesma graça.
– A mesma graça? Então, deixe-me fazer uma pergunta. Quando você era criança, você queria ser todos esses heróis. Certo?
– Certo.
– E hoje? Já que você não se vê como um herói, qual herói você gostaria de ser, se tivesse que escolher hoje?
– Hoje?
– Hoje.
– Hoje eu não escolheria nenhum.
– Porque não?
– Eu já desisti de ser herói. Hoje eu queria apenas voltar a ser criança.
– Para poder sonhar em ser todos os heróis novamente?
– Não. Isso eu posso fazer agora. Mas seria apenas um sonho. Quando eu era criança, eu não apenas sonhava. Eu realmente acreditava naquilo, acreditava que me tornaria um herói um dia. E, em algum momento, a gente deixa de acreditar e vai viver a vida, como outra pessoa qualquer. É o momento em que a gente cresce, acho.
Como o amigo não respondeu, ele concluiu:
– Eu queria voltar a ser criança para nunca ter desistido. Para nunca ter deixado de acreditar.
Beberam o resto da noite em silêncio.
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6 leitores:
Lindo texto.
Me emocionou, de verdade.
é sempre muito bom chegar aqui e encontrar um texto tão bacana como esse!
"uando eu era criança, eu não apenas sonhava. Eu realmente acreditava naquilo, acreditava que me tornaria um herói um dia." Adorei isso!
Momento Watchmen-Zack Snyder. Sempre chega! Snif!
Também gostaria de voltar a ser criança para pensar que ainda posso fazer a diferença no mundo.
Lindo texto, Rob.
"Vou dar uma chance pro chronicles, pq não o chronicles? Eu sempre leio o champ! SEMPRE, sem exceção. Tá bom, vamos ver o chronicles!" E chegando aqui me deparei com isso... Fabuloso!
Cara esse texto é seu? realmente, muito bom, parabéns. Sai do clichê de que "todos somos heróis todo o dia" para uma conclusão diferente e realista.
Já salvei nos favoritos!
Abraços de mais um admirador
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