De repente, fez-se sozinho, certo de que sozinho sempre esteve. E olhou ao redor um mundo em branco, certo de que branco sempre seria. E tateou com as mãos procurando amor, certo de que o amor existia. Mas tocou apenas o vazio, certo de que o vazio era eterno. Instintivamente procurou por um perfume, certo de que o perfume lhe traria ar. Mas sentiu apenas seu próprio cheiro, certo de que seu próprio cheiro não seria compartilhado. Conformado, sorriu um sorriso amargo, certo de que o amargo seria para sempre. E maldisse a ausência de luz, certo de que a luz existia sem ser dele. E reclamou de suas memórias, certo de que as memórias não desapareceriam. Com olhos marejados pensou no futuro, certo de que o futuro poderia ter sido. E mergulhou na solidão, certo de que a solidão seria sua companheira. E viajou pelos textos nunca escritos, certo de que os textos não teriam feito diferença. Cantarolou chorando trechos de músicas, certo de que as músicas silenciaram logo. E por fim odiou o passado, certo de que o passado não virou presente. E deitado rogou por descanso, certo de que o descanso nunca viria. E de olhos fechados mergulhou na escuridão, certo de que a escuridão seria sem fim. E chorou odiando seu jeito de ser, certo de que seu jeito de ser não era errado. Certo de que errado era o mundo. Certo de que nada poderia ser feito.
E recolheu os aplausos, certo de que os aplausos logo morreriam.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 leitores:
E fica o texto. E o próprio cheiro, a ausência de luz, a escuridão sem fim.
Por isso outros textos.
Eu poderia dizer que não entendi esse texto... mas não se pode entender mesmo o que se é só sentido. E senti tanto, uma espécie de identificação pelo que não se entende. E lamentei, certa de que teria outros dias, pra mudar tudo e mais um pouco!
Postar um comentário