27 de dezembro de 2009

Instável

Não era nem otimista nem pessimista. Era ambos. A cada minuto. Acordava achando que as coisas iriam melhorar. Mas tomava café se sentindo um idiota. Lavava a louça com cuidado, pensando que um dia Ela iria almoçar ali com ele. Enxugava os pratos convencido de que ela jamais almoçaria ali novamente. Sentava no sofá e escolhia um filme, guardando aquele desenho animado para ver com ela. Mas percebia que ela assistiria ao desenho animado na casa dela, e desistia de ver filmes. Tentava ler um livro para distrair e tinha o impulso de memorizar os melhores pedaços para contar a ela. Aí, lembrava que um dia talvez ela lesse o mesmo livro, mas ele nem ficaria sabendo disso. Deitava no sofá, observando o teto e imaginava o reencontro, escrevendo mentalmente linhas e linhas de diálogo. Virava de lado e enterrava a cara na almofada, se amaldiçoando por esperar por isso. Almoçava no restaurante que ela mais gostava, como se ela o estivesse observando de longe, mas, na hora de entrar, percebia que tinha que pedir uma “mesa para um” e tinha vontade de ir embora. Mastigava devagar, como ela sempre havia pedido, mas lembrava que agora ela mastigava com outra pessoa. Voltava para casa, sentava e escrevia no blog, esperançoso de que ela lesse, mas lembrava que, dos comentários que chegavam, nenhum era dela. E seu coração disparava quando o celular apitava mensagem de texto, mas se sentia vazio ao perceber que seu coração havia disparado, gritando – de novo – que podia ser ela. E ficava olhando a TV, certo de que um dia tudo isso acabar, certo de que isso jamais acabaria. Jantava qualquer coisa, com a certeza de que o telefone tocaria – seria ela, convidando para jantar, mas a cada garfada se odiava mais por esperar tudo isso. E, no sofá mesmo, dormia e sonhava com ela. Mas abria os olhos e acordava sem ela. E passou anos assim, adorando pelo avesso, e esperando por uma recompensa que nunca veio, mas, que ele ainda espera receber. E, mesmo se odiando por isso, não desiste de esperar.

4 leitores:

Bia disse...

Aaahh, essa instabilidade filha da eterna luta entre senso de realidade e esperança... Quantas vezes passamos por isso na vida... Texto perfeito, como sempre!

Anônimo disse...

E quem sabe um dia nos tornemos estáveis...quem sabe...
#beijojávou

Unknown disse...

Seus textos me enchem de esperança.

É sempre muito bom saber que ainda há pessoas que sentem e não tem medo ou vergonha disso.

Lindo demais!

Dani Cavalheiro disse...

Rob, você deveria escrever MESMO um livro. Seus textos são lindos e comoventes, e me fazem muito bem.

Besos.

 

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