E ela era apenas um retrato em sua vida. Ele não conhecia sua voz, seu cheiro, seu modo de falar. E passava os dias olhando o retrato, desenhando o rosto dela com a ponta do dedo, contornando seu sorriso, decorando seu olhar. O dia todo, todos os dias. E brincava de imaginar o calor do toque dela, de sentir o sabor de seus lábios, e sua respiração batendo na pele. Às vezes, brincava tanto que chegava a se enganar, fingindo que tudo aquilo já havia acontecido e na verdade ele não estava imaginando, estava lembrando. Assim, desejo e saudade se misturavam, realidade e fantasia se abraçavam, o presente se tornava um pretérito perfeito, ao menos na sua mente. Chegou a imaginar e lembrar as músicas que ouviam juntos, a primeira vez que se viram, e pequenas histórias de casais, como aquela loucura na mesa da sala, na casa de uma amiga dela. E ele quase conseguia se convencer de que realmente aquilo havia acontecido, até descobrir que a saudade doída doia mais do que a saudade doída daquilo que não aconteceu. E adormecia, com o retrato dela ao lado do travesseiro e o sorriso dela nos seus olhos.
E sonhava com o dia em que iria encontrá-la.
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10 leitores:
Uau...
Muito legal cara! Parabéns!
Fui lendo o texto e montando o comentário na cabeça... "é melhor ficar no desejo, saudade dói demais"..
Não precisei.
'Quem não sabe amar, fica procurando alguém que caiba no seu sonho.'
Particularmente acho triste.
Perfeita relação do texto com a frase da Julia.
Eu prefiro a saudade. Quem lembra, revive; quem apenas sonha, não viveu.
*passando por uma situação bem semelhante...
Dois caminhos e uma mesma direção...será que dá para definir em linha reta o que é/foi saudade do que é/foi sonho?
Prefiro a eternidade do momento. =)
um misto de tristeza, beleza, e solidão... um conjunto bonito.
"...a saudade doída doia mais do que a saudade doída daquilo que não aconteceu."
singular.
Muito bom!
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