Dormia.
Acordou com o barulho da porta se abrindo. Na escuridão, conseguiu apenas avistar um vulto, sem identificar o rosto. Uma voz feminina perguntou se ele estava dormindo e ele, ainda confuso de sono, respondeu que não sabia. Ela se deitou ao seu lado e o abraçou.
Ainda com os olhos abertos, passou a mão pelo rosto dela, pelos cabelos. Eram longos. O cheiro dela era doce, doce como nunca havia sentindo antes. Mesmo em meio à escuridão, percebeu que ela tirou a blusa. Fez o mesmo e a beijou.
Não sabe se o beijo durou alguns segundos ou dias inteiros. Lembra apenas do cheiro doce e do som da respiração dela. Fizeram amor ali mesmo, não na cama, mas na escuridão. Ele bêbado de sono. Ela, bêbada dele.
Pássaros começaram a cantar na rua, ao mesmo tempo em que os primeiros raios de Sol entraram pelas frestas da janela. Mas ainda era impossível ver o rosto dela, apenas as feições se mexendo para acomodar os sorrisos que deixava escapar.
Ainda suado, ainda ofegante, deitou-se ao lado dela. Ela acomodou o rosto em seu ombro. A luz já fazia com que seu corpo ganhasse formas mais definidas. Deslizou o dedo pelas costas dela e sentiu sua pele quente.
Conversaram sobre a vida. Conversaram sobre diferenças. A diferença entre amor e paixão, a diferença entre realidade e fantasia, a diferença entre Beatles e MPB e a diferença entre o que eles eram hoje e o que eram anos atrás.
E, com o Sol já iluminando totalmente o mundo lá fora, fizeram amor mais uma vez, desta vez em silêncio, sem pressa, pois sabiam que o dia estava apenas nascendo.
Novamente sem ar, largou-se na cama, exausto, e adormeceu. As últimas coisas que se lembra eram o cheiro de tabaco nas mãos e o gosto dela nos lábios.
Percebeu, então, que tinha sorte. Era uma das únicas pessoas que conseguia viver de verdade mesmo dormindo. Nada mais justo, já que havia passado a vida inteira sonhando acordado.
E, com um sorriso nos lábios, dormiu.
E viveu.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
11 leitores:
Quanta sorte, hem. Alguns têm sorte por sonhar acordados. Foi um certo pesadelo, afinal, que inspirou? ou um outro sonho?
Rob lírico?
Coisa boa!
Agora fodeu (com o perdão da palavra, claro). Porque eu estava tentando não vir aqui antes de ler o Vinyl inteiro (é, eu sempre leio os arquivos de blogs que eu gosto) porque sabia que eu ia gostar também. Mas não aguentei e vim ler o texto novo. Agora, tenho uma janela com duas abas abertas pros Champs e vou revezando a leitura. E eu quero ver COMO eu vou fazer pra parar de ler e ir dormir.
Não me empolga muito. Descreve bem as situações, mas algumas delas simplesmente não brilham eu acho.
Mas pode ser questão de gosto.
Que lindo, chorei.
Obrigada por se encantar, é real! Presença diária, eventuais comentários.
#beijojávou
Eu tento achar alguma palavra que descreva o que o seu texto me desperta, mas não dá. Não é tristeza, nao é emoçao, nao é alegria.
só sei que é bonito. Muito bonito.
Você devia dar uma conferida neste blog de uma amiga minha: http://soirild.blogspot.com/ - super haver com esse teu texto!
Muito intenso este sentir hein! Se captou é porque já viveu!
bjito
Depois do Champ, tinha que arrasar aqui também...parece que o tema do fim de semana foi amor..
Postar um comentário