24 de julho de 2007

A Verdadeira Saudade

Se um dia você for embora, acho que eu não sentiria saudade da primeira vez que te olhei, do primeiro beijo que trocamos ou, nem mesmo, da primeira vez que me disse eu te amo e saiu correndo, sem nem me dar tempo de responder. Essas memórias, pelo contrário, me darão forças para continuar. Mesmo sabendo que toda saudade é, por definição, grandiosa e os sorrisos, a partir daí, seriam, no máximo, irregulares. O pior não será a saudade de você, mas das pequenas coisas que você me deu a honra de saber e ter comigo – justamente aquelas que faziam você ser você. Aquelas que não faziam você ser diferente, mas ser única.

E, deitando, à noite, deixaria uma lágrima cair não pelas vezes que fiz você sorrir, mas por saber que você apertava os olhinhos quando ria e jogava a cabeça para trás quando gargalhava alto, deixando o mundo saber que você estava feliz. E iria mexer meus dedos discretamente – talvez sem nem mesmo perceber – ao lembrar do jeito “errado” que você segurava na minha mão, fazendo com que eu tivesse que deixar o braço torto para entrelaçar sua mão na minha. Olharia para o lado e sentiria saudade do jeito que você dormia encolhida, no frio (e de saber que mesmo assim, você era a única pessoa do mundo que gostava de deitar na cama gelada).

No inverno, não sentiria saudade de comer fondue com você, mas sim de tomar o cuidado de saber se tem remédio para nariz, ou se precisa da manteiga de cacau que você usava a cada 10 minutos no inverno, lembra? Morreria de saudade de saber que seu quarteirão com queijo é sem cebola, que você adora morango com chocolate e de pedir seu suco de laranja sempre sem açúcar ou sem gelo. Saudade não dos filmes que assistimos, mas daquela vez em que você deitou no meu colo no cinema, ou de quando tivemos que traduzir um filme juntos porque a legenda era horrorosa. Saudade de tomar vinho na varanda e de ver você falando que estava ficando tonta.

Saudade de brincar de mímica no msn e de quando você descobria um emoticon novo, cismava com ele e ficava usando o dia inteiro. E também de saber que você queria um relógio com pulseira vermelha, de ponteiros – mas com números, hein? – e me pegaria pensando se você já o comprou junto com outra boina. A pior saudade não seria a de saber se você está bem de saúde, mas de saber se você continua indo à academia no final da tarde, por causa da sua dor nas costas.

Saudade não dos desenhos que você me fazia, mas do jeito que você mordia os lábios enquanto desenhava. Saudade não dos nossos apelidos, mas de inventá-los com você, e descobrir afinidades entre livros, filmes e frutas. Saudade não de tirar sua roupa, mas de brincar sobre sua blusa de princesinha ou a de executiva. Saudade de brigar com você para impedir que você corte o cabelo – mesmo você tendo razão, ficou melhor mesmo – e de ficar pressionando você para se maquiar logo. Saudade de não encontrar o restaurante com você, saudade da lágrima que você deixava rolar no metrô.

E sentiria essas saudades a noite inteira, até o sol nascer, quando eu sentiria saudade de acordar às 07:30 da manhã para te ligar e dar bom dia, sabendo que eu não lembraria de nada do que falei depois.

E passaria o dia assim, sentindo saudade do amor, mas morrendo de saudade, mesmo, de você.

13 leitores:

Anônimo disse...

Belíssimo texto... a pior saudade vem mesmo das pequenas coisas.
Você deveria mudar de profissão... escreve bem demais, moço!

Menáge à Trois disse...

Se eu ouvisse o que li do homem que amo, acho que não largaria dele jamais. Lindo.


Como ninguém

Bina Goldrajch disse...

O seu texo é lindo, lindo, lindo!
Me deu até uma tristeza por dentro. Me deu uma tristeza e medo de perder aquele que eu amo!
Saudade é muito ruim... sufoca demais e espreme o peito.

Não quero sentir saudades nem para escrever poesias. =)

Johnn. disse...

Gostei muito do texto, bem bacana mesmo!

mila. disse...

se eu ouvisse isso de alguém, também não largaria nunca.

esses pequeno detalhes das pessoas fazem uma falta imensa!

muito lindo o texto, o blog inteiro.
;*

Lua Durand disse...

que texto.

o que deixa a saudade não são as coisas importantes e sim as banais.

são elas que ficam aqui na nossa mente, quando tudo passa, e so resta a gente com uma garrafa de vinho, talvez velho, talvez barato, sentado num lugar talvez banal, talvez movimentado.

pois bem.

li o texto Isadora também, muito bom e muito bem escrito.

quem dera minha vida estivesse planejada desde uma festa que eu não quis ir.

voltarei aqui com frequencia, o espaço me cativou.

beijos

au revoir

danidias disse...

Cara, parabéns, tu escreve tri bem, tanto que te peço autorização de publicar este texto em meu blog, ele vem bem a calhar no dia de hoje, na história contemporânea da minha vida.
Publiquei lá, dei os créditos a ti, caso tu não autorize, por favor, me avise, pra eu tirar a postagem do ar.
Grato, Daniel Dias.
danieldias11@hotmail.com

Mariliza Silva disse...

Será que "saudade" é um termo somente português?? Será que Platão não era português??? Será....

Na Saudade nossos amores viram deuses

Beijão da sumida

Mariliza

Lais Mouriê disse...

Ah, eu tb quero ouvir isso do homem que amo!!!!

Bjos!

milene portela disse...

a saudade arruma formas maliciosas de se manifestar, sempre. em todo e qualquer detalhe, deixa um traço da falta.

mto bem escrito. e qual é a mulher que não quer ouvir (ler) isso??

bravo!

passarei vez em qdo por aqui.
;)

R. O. disse...

Realmente você sabe tocar na alma de uma mulher, felizarda da sua amada que que tens um apaixonado ao seu lado...

Li uma vez que uma paixão pode existir de várias formas, sabores, intensidade, enfim... pode ser de uma noite apenas, mas que ela seja intensa enaquanto dure!

abraços...

Unknown disse...

Texto que não diz nada mais que a verdade.As pequenas coisas são as principais,nao só no amor,mais em tudo,basicamente.

Andreia disse...

Seus textos, digo seus, porque caí aqui por acaso, li um, dois, três... Vc é muito bom, os fragmentos são ótimos! Muito talentoso! Um mais lindo que o outro. Este, por exemplo, comecei ler por ler, por se tratar de um simples texto e de um texto simples, porém, a medida que li fui sentindo verdade, não que eu diga que o que escreveu vc realmente viva, só que vc passou uma verdade gritante a estas linhas, tocantes mesmo. Parabéns pela intimidade com as palavras, muito bom ler teus escritos.

 

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