Aos poucos, recuperou a consciência. Sentiu um vento leve e quente batendo no seu corpo e percebeu que estava nu. Lentamente, foi percebendo que estava agachado, com as pernas dobradas. Sentia a grama, ainda molhada de orvalho, sob seus pés. Começou a perceber ruídos ao seu redor. Cantos de pássaros, folhagens e galhos movendo-se de ao sabor da brisa. E, mais longe, distinguiu o que parecia ser o som de um riacho.
Abriu os olhos e percebeu que estava numa floresta. Flores de todas as cores, folhas de todos os formatos, árvores de todo o tamanho cresciam ao seu redor. Aves que nunca havia visto antes voavam sob sua cabeça. Ruídos, cores, formas, cheiros... Nunca havia sentido ou visto daquilo antes.
Colocou-se de pé e deixou seu corpo se acostumar com o contato do vento quente. Olhando à frente, percebeu que a vegetação se estendia até o horizonte, sumindo abaixo de duas montanhas arredondadas, curiosamente marrons e brilhantes ao mesmo tempo, que se erguiam soberanas sobre o mundo ao redor.
Começou a ouvir uma música, distante, quase imperceptível. Olhou ao redor e o som parou. Olhou novamente à frente, e a música voltou a tocar. O som vinha das montanhas. Quase tão deliciosamente morna como a brisa, a música envolvia seu corpo e o chamava, o convidava, o instigava.
Num átimo, começou a correr pela mata. Estranhamente, não suava ou sentia o menor sinal de cansaço. Pelo contrário, quanto mais corria, mais relaxado ficava. Sua força aumentava, na mesma proporção que a música. E sentia isso no seu corpo, sem entender porque, a cada vez que olhava na direção das montanhas, que, majestosamente marrons, o encaravam de volta.
Atravessou córregos, pulou moitas e arbustos, desviou de árvores. Sua velocidade aumentava a cada passo, bem como a necessidade de se olhar as montanhas de perto, de descobrir o que elas escondiam. A brisa quente continuava a beijar seu corpo, mas nenhuma gota de suor escorria pela sua pele.
Em seu caminho, viu flores de cores que não haviam sido inventadas. Viu pássaros que grasnavam de uma forma que ele nunca tinha ouvido. E sentia cheiros que nem seu cérebro ou seus sentidos conseguiam identificar. Cores vivas, sons lindos, cheiros doces. Tudo inédito. Tudo novo.
Chegou a poucos metros delas e olhou para cima.
Lá estavam elas. As duas montanhas, gêmeas, arredondadas, emitiam um brilho precioso e intenso, como se fossem os sóis daquele mundo. Como se fossem os sóis dele. Perdeu-se na intensidade de sua cor castanha, que o iluminavam silenciosamente. Mergulhou no castanho delas, e, lá, descobriu quem ele era, descobriu o que o mundo era e, mais importante ainda, percebeu, finalmente, porque estava ali.
Sorriu para ela, ainda deitado.
E prometeu para si mesmo que, um dia, conseguiria explicar realmente para ela como se sentia toda vez que acordava, abria os olhos, e, antes de qualquer outra coisa, sorria olhando os lindos olhos castanhos dela.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 leitores:
Começo a entender pque sua namorada riu quando queimou as calças dela....
mas essa é outra história!
Muito bom..
Nossa! Que viagem!!!
Tô besta até agora!rsrsrsrsrs
Sabe, parece que são 2 pessoas diferentes: você e o Champs.
Beijão
Mariliza
Simplesmente maravilhoso!
ufa, eram olhos castanhos...
meu referencial freudiano já estava a me conduzir a outras coisitas... rsr
boas linhas!
=)
Que texto deliciosamente lindo...lindo sim...
Hum...vc comentou meu blog..eu disse que restariam sempre boas histórias, naum histórias felizes...rs...
oi,vim pelo blog da Isadora.
Gosto muito do ritmo de crônica e as suas são muito boas :)
li teu blog inteiro quase como um vício.
acho lindo o jeito que você transita pela narrativa, é tão leve.
muito bom esse texto e tudo mais!
té mais!
Postar um comentário