Aconteceu agora neste Natal, em alguma cidade grande do
Brasil. Três jovens estavam bebendo cerveja na frente da casa de um deles
quando, entre uma foto no Instagram e um post raivoso no Facebook, perceberam alguma
coisa estranha do outro lado da rua.
Alguém estava tentando invadir uma casa pelo telhado. Ou,
pelo menos, era isso que parecia, já que as sombras não permitiam ver muita
coisa. Estavam pensando em chamar a polícia torcendo para que o vagabundo fosse
fuzilado quando o ladrão desapareceu. Antes que decidissem o que fazer, o
sujeito subitamente apareceu no quintal da casa.
Tinha barba branca e carregava um saco de brinquedos. Mas
ele usava vermelho e isso era tudo o que os jovens precisavam saber.
Imediatamente, foram correndo em sua direção e o cercaram.
“Seu merda!”, gritou um deles.
“Tá usando vermelho por quê? Aposto que você ganha sanduíche
de mortadela para apoiar o governo!”, emendou o segundo, dando uma peitada no sujeito.
“É por sua culpa que o país está assim! Fica defendendo esse
governo de ladrão! Desgraçado! Comunista!”, concluiu o terceiro.
Assustado, o homem de barbas brancas deu um passo para trás,
tentando mostrar que não queria briga. “Olhem”, ele disse, levantando as mãos. “Eu
não quero problemas. Estou apenas entregando brinquedos...”
“Dando brinquedo? Aposto que é a gente que paga por esses
brinquedos!”, disse o primeiro.
“É! A gente fica pagando imposto para você ficar aí vestindo
roupa vermelha e dando brinquedo para filho de vagabundo!”
“É fácil para caralho apoiar o governo e morar no Polo
Norte, certo?”, disse o terceiro. Mas imediatamente percebeu que podia estar
falando bobagem. Talvez fosse Polo Sul. Então, resolveu perguntar, apenas por
garantia: “Você mora no Polo Norte, não mora?”
A discussão continuou. O sujeito de vermelho explicou que
não apoiava partido político nenhum, mas isso irritou ainda mais os agressores.
“Se não apoia ninguém, por que está usando vermelho?”
“Volta pra Cuba! Mensaleiro!”
“Se você não está do nosso lado, é por que está contra o
Brasil!”
A coisa quase descambou para a violência, mas o velho
conseguiu correr até seu trenó e saiu voando, deixando os jovens para trás.
“Vamos fazer um post no Facebook. Isso não pode ficar assim”,
um deles disse.
Minutos depois, o velho pousou em outra rua, onde três
jovens estavam bebendo cerveja na frente da casa de um deles. Entre uma foto no
Instagram e um post raivoso no Facebook, perceberam alguma coisa estranha do
outro lado da rua.
Alguém estava tentando invadir uma casa pelo telhado. Ou,
pelo menos, era isso que parecia, já que as sombras não permitiam ver muita
coisa. Estavam pensando no que fazer, pois não podiam chamar um órgão de
repressão do governo para impedir o assalto. Antes que decidissem o que fazer, o
sujeito subitamente apareceu no quintal da casa.
Tinha barba branca e carregava um saco de brinquedos. Mas
ele estava cercado por três anões e isso era tudo o que os jovens precisavam saber.
Imediatamente, foram correndo em sua direção e o cercaram.
“Seu merda!”, gritou um deles.
“Obrigando seus funcionários a usarem esses uniformes com chapéu
pontudo! Vai postar fotinho deles no Instagram?”, emendou o segundo, dando uma
peitada no sujeito.
“Pleno século 21 e você aí explorando seus empregados na
noite de Natal! Desgraçado! Reacionário!”, concluiu o terceiro.
Assustado, o homem de barbas brancas deu um passo para trás,
tentando mostrar que não queria briga. “Olhem”, ele disse, levantando as mãos. “Eu
não quero problemas. Estou apenas entregando brinquedos...”
“Aposto que esses brinquedos são feitos com trabalho
escravo!”, disse o primeiro.
“Sim! Agora que você está fora do seu trenó não é tão
valente, né? Quantos ciclistas você atropelou com esse trenó?”
“Quantos processos trabalhistas você tem no Polo Norte?”,
disse o terceiro. Mas imediatamente percebeu que podia estar falando bobagem.
Talvez fosse Polo Sul. Então, resolveu perguntar, apenas por garantia: “Você
mora no Polo Norte, não mora?”
A discussão continuou. O sujeito de vermelho explicou que
não apoiava partido político nenhum, mas isso irritou ainda mais os agressores.
“Claro que não! A elite só apoia partido que tem dinheiro!”
“Tira essa roupa vermelha! Vai colocar camisa da CBF e bater
foto com PM!”
“Se você não está do nosso lado, é por que está contra o
Brasil!”
A coisa quase descambou para a violência, mas o velho
conseguiu correr até seu trenó e saiu voando, deixando os jovens para trás.
“Vamos ali pichar ‘Mais amor, por favor’ naquele muro. Isso
não pode ficar assim”, um deles disse.
Agora seguro nos céus, o velho de vermelho decidiu que aquele
era o último Natal que ele distribuiria brinquedos para as crianças. A partir
do ano seguinte, entregaria livros para os adultos. Talvez fosse melhor.
3 leitores:
Parabéns! Gostei muito.
Sensacional! Triste, mas sensacional.
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