Subiu para cima no morro até chegar à pequena casa azul.
Entrou para dentro dela e deu de cara com dois homens: um gordo acima do peso,
sentado numa cadeira, e um negro de pele escura. Quem falou foi o negro.
– Fala aí.
O homem puxou o dinheiro do bolso e colocou na mesa.
– Me dá um papelote de pleonasmo para mim.
– Pleonasmo não tem.
– Como assim?
– Não tem. Acabou.
– Como eu vou fazer? Não consigo ficar sem, é vicioso.
O gordo acima do peso coçou as costas, indicando que não
podia fazer nada a respeito. Mas o sujeito não desistia.
– E barbarismo? Tem?
– Qual barbarismo você quer?
– Qualquer um. Pode ser semântico.
– Semântico não tem. A polícia tá em cima de quem faz
tráfego de barbarismo semântico. Nem mexo mais com isso.
– Porra. E cacografia? Tem?
– Advinha.
– Merda. Cacoépia?
– Também não. Eu tinha aqui, mas começou a dar poblema, aí parei.
– Porra, eu preciso de algo. Baita fissura.
– Olha, tem silabada, se você quiser.
– Eu quero. Quanto é?
– Cinco.
– Dá duas parangas de silabada, então.
– Beleza. Mas primeiro você precisa colocar sua rúbrica aqui.
– Que rúbrica?
– Para registrar a comprar. Porque eu preciso mostrar pro
meu chefe.
– Porra, não quero assinar nada.
– Vai ter que assinar. Ou não vai querer pagar também?
– Bom...
– Se quiser comprar silabada, precisa da rúbrica. Isso aqui
é meu negócio, cara. Não sou filântropo.
– Beleza.
Pegou o papel e rabiscou seu nome. O gordo acima do peso
explicou.
– Não é nada com você, cara. Mas silabada deu erro aqui, um
dia que uma mina comprou e rodou lá embaixo, quase deu merda para nós.
O negro de pele escura deu um sorriso e falou pela primeira
vez.
– Também... Ela escondeu a silabada no clítoris. Burra
demais.
– Beleza. Me dá dois aí.
Pagou e colocou as parangas no bolso. Quando estava indo
embora, lembrou-se de algo importante.
– Ah, estava esquecendo. Outra coisa que vou estar querendo
é gerúndio.
– Eu vou estar devendo. O gerúndio esteve acabando.
– Porra, eu estava bem a fim.
– Olha, se você quiser, tem queismo.
– Não, queismo é muito pesado para mim. Eu tenho um amigo
que trabalhava comigo e que usava queismo e que um dia um queismo que não estava
bom e que fez ele quase morrer.
– Sim, sim. Queismo é perigoso mesmo.
– Agora, se você querer, tem um pouco de barbarismo
morfológico.
– Não, deixa. Vou levar só isso aqui.
– Então está bom.
Fechou a porta e saiu para fora da casa. Começou a descer o
morro para baixo, mas mudou de ideia e voltou a subir para cima, até chegar a
outra casa. Não queria desistir, sua vontade mesmo era de pleonasmo. Era
vicioso demais.
2 leitores:
Despretensiosa, didática e leve.
Quando eu crescer, escreverei tão bem quanto você!!
Abraço!!
Pode ficar esse meu pleonasmo redundante, que não estou usando:
Texto foda do Rob.
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