Foi na noite de terça-feira que o celular dela apitou
indicando que uma mensagem havia chegado. Era tarde e ela estava quase dormindo.
O texto era curto: era um pedido dele para que ela o telefonasse no dia
seguinte, exatamente ao meio dia. Apenas isso, e um beijo no final. Ela
respondeu questionando o motivo e se estava tudo bem, ele respondeu apenas que
sim, e reforçou o pedido, desta com um “não esquece, tá?” antes do beijo.
Ela estranhou o pedido, mas concordou. Foi dormir e sonhou
com ele. Era a primeira vez que sonhava com ele. Não se conheciam o suficiente
para isso: se encontraram pela primeira vez na festa de um amigo, coisa de duas
semanas atrás e, depois disso, haviam se encontrado somente duas outras vezes.
Uma vez para ir ao cinema, e outra para almoçarem apressados entre uma reunião
e outra dela. Não tinham história o suficiente para sonhar com ele.
No dia seguinte, acordou sabendo que sonhara com ele, mas
antes de se levantar o sonho escapara do seu cérebro. Tentou apanhá-lo para si,
mas o sonho escorregou e evaporou no ar. Ao se levantar, recordava apenas que o
sonho fora com ele. Ao sair de casa, nem disso mais se lembrava, já estava com
a cabeça nas tarefas do dia.
Passou a manhã de olho no relógio. Ela estava ocupada e
tinha medo de perder a hora, mas sua curiosidade descobriu que o meio-dia
demorava a chegar. Até que finalmente os ponteiros do relógio se encontraram.
Normalmente, ela teria esperado as pessoas do escritório saírem para almoçar –
não gostava de falar no telefone na frente dos outros. Mas deu meio-dia e,
mesmo com todo mundo ali, ela cumpriu sua promessa e telefonou. Ele atendeu no
terceiro toque.
- Obrigado por ter ligado na hora certa.
Ela não precisava conhecê-lo há mais de duas semanas para
saber que ele estava sorrindo. Mesmo assim, perguntou a ela o motivo da ligação.
- Minha semana não foi boa até agora e eu preciso que ela
mude. Por isso eu pedi para você ligar exatamente ao meio-dia de quarta-feira. Estamos exatamente no meio da semana. Eu
preciso que minha semana melhore e tenho certeza que a única maneira disso acontecer é que ela
seja dividida em duas. E só
você tem o poder de fazer isso.
Ela sorriu e disse que não entendeu. Ele explicou – e ela
jurou que ele continuava sorrindo enquanto falava.
- Faz duas semanas que a gente se conheceu. E faz duas
semanas que eu percebi que minha vida tem, agora, duas partes. Uma sem você,
outra com você. Você dividiu minha vida em duas no momento que a gente se olhou pela primeira vez.
Desta vez ela não falou nada. Ele continuou.
- E se você consegue dividir minha história, aposto que
quebrar uma semana em dois vai ser fácil. Me ajuda?
Ela sorriu e percebeu que a vida dela, por outro lado, jamais
seria dividida em dois. Pelo contrário, seria uma vida única. Ao lado dele. E sorriu
ainda mais pensando se é assim que as pessoas se sentem quando descobrem isso.
E, de repente, se lembrou de algo importante e contou para
ele o primeiro segredo de muitos que compartilhariam ainda:
- Sonhei com você esta noite.
Ninguém no escritório ouviu. Mas ela não se importava mais.
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