17 de julho de 2013

Em Dois




Foi na noite de terça-feira que o celular dela apitou indicando que uma mensagem havia chegado. Era tarde e ela estava quase dormindo. O texto era curto: era um pedido dele para que ela o telefonasse no dia seguinte, exatamente ao meio dia. Apenas isso, e um beijo no final. Ela respondeu questionando o motivo e se estava tudo bem, ele respondeu apenas que sim, e reforçou o pedido, desta com um “não esquece, tá?” antes do beijo.

Ela estranhou o pedido, mas concordou. Foi dormir e sonhou com ele. Era a primeira vez que sonhava com ele. Não se conheciam o suficiente para isso: se encontraram pela primeira vez na festa de um amigo, coisa de duas semanas atrás e, depois disso, haviam se encontrado somente duas outras vezes. Uma vez para ir ao cinema, e outra para almoçarem apressados entre uma reunião e outra dela. Não tinham história o suficiente para sonhar com ele.

No dia seguinte, acordou sabendo que sonhara com ele, mas antes de se levantar o sonho escapara do seu cérebro. Tentou apanhá-lo para si, mas o sonho escorregou e evaporou no ar. Ao se levantar, recordava apenas que o sonho fora com ele. Ao sair de casa, nem disso mais se lembrava, já estava com a cabeça nas tarefas do dia.

Passou a manhã de olho no relógio. Ela estava ocupada e tinha medo de perder a hora, mas sua curiosidade descobriu que o meio-dia demorava a chegar. Até que finalmente os ponteiros do relógio se encontraram. Normalmente, ela teria esperado as pessoas do escritório saírem para almoçar – não gostava de falar no telefone na frente dos outros. Mas deu meio-dia e, mesmo com todo mundo ali, ela cumpriu sua promessa e telefonou. Ele atendeu no terceiro toque.

- Obrigado por ter ligado na hora certa.

Ela não precisava conhecê-lo há mais de duas semanas para saber que ele estava sorrindo. Mesmo assim, perguntou a ela o motivo da ligação.

- Minha semana não foi boa até agora e eu preciso que ela mude. Por isso eu pedi para você ligar exatamente ao meio-dia de quarta-feira. Estamos exatamente no meio da semana. Eu preciso que minha semana melhore e tenho certeza que a única maneira disso acontecer é que ela seja dividida em duas. E só você tem o poder de fazer isso.

Ela sorriu e disse que não entendeu. Ele explicou – e ela jurou que ele continuava sorrindo enquanto falava.

- Faz duas semanas que a gente se conheceu. E faz duas semanas que eu percebi que minha vida tem, agora, duas partes. Uma sem você, outra com você. Você dividiu minha vida em duas no momento que a gente se olhou pela primeira vez.

Desta vez ela não falou nada. Ele continuou.

- E se você consegue dividir minha história, aposto que quebrar uma semana em dois vai ser fácil. Me ajuda?

Ela sorriu e percebeu que a vida dela, por outro lado, jamais seria dividida em dois. Pelo contrário, seria uma vida única. Ao lado dele. E sorriu ainda mais pensando se é assim que as pessoas se sentem quando descobrem isso.

E, de repente, se lembrou de algo importante e contou para ele o primeiro segredo de muitos que compartilhariam ainda:

- Sonhei com você esta noite.

Ninguém no escritório ouviu. Mas ela não se importava mais.

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