Toda a parte em
itálico é uma narração em off, que descreve (e contextualiza) exatamente o que
está sendo visto na tela. As três cenas (Marcelo, Lúcia, Roberto) vão se
alternando simultaneamente, conforme a narração indica.
Desde o começo do dia,
Marcelo planejou tudo direitinho. Pensou em cada detalhe e cumpriu à risca cada
uma de suas obrigações, sempre de olho no relógio e cuidando do horário. Mas
tem coisa que escapa do nosso controle.
Por exemplo: o Walter,
um taxista que Marcelo nunca viu na vida, ficou doente sem mais nem menos. Nem
conseguia sair da cama e seu filho, Roberto, teve que trabalhar em seu lugar. O
mesmo aconteceu com a Lúcia, que, quando acordou de manhã, nem imaginava que do
outro lado da cidade o currículo que ela mandou para uma empresa cairia no chão
por causa do vento que entrava na janela.
E o Marcelo ali,
trabalhando a todo vapor, e de olho no relógio.
Assim, foi mais ou
menos isso que aconteceu. O Jonas, que precisava de uma garçonete nova no seu
bar para começar naquele dia mesmo, apanhou o currículo que caiu da pilha da
mesa. Achou que era um golpe de sorte e resolveu ligar para a dona do currículo
e marcar uma entrevista para o mesmo dia. Do outro lado da cidade, a Lúcia
desligou o telefone feliz da vida e começou a se arrumar correndo. Colocou uma
roupa bonita, arrumou o cabelo e saiu correndo para pegar um táxi no ponto da
esquina.
Mas o ponto estava
vazio.
E o Marcelo terminou
uma reunião bem no horário programado.
Para sorte da Lúcia,
quem estava passando por ali era o Roberto, dirigindo o carro do pai. A Lúcia
fez sinal, ele parou e ela subiu no carro. Deu o endereço e o Roberto, que não
conhecia nada daquele bairro, começou a entrar numa rua aqui, em outra rua ali,
procurando por uma avenida. Assim, ele parou num posto de gasolina para pedir
informações, e o frentista indicou o caminho. O Roberto agradeceu e a Lúcia, de
olho no relógio, sorriu aliviada.
E o Marcelo terminou
de mandar os últimos e-mails do dia e olhou o relógio, enquanto se levantava da
mesa para ir embora.
O Roberto acertou o
caminho, mas descobriu que uma rua estaria em obras e fechada. Assim, ele
precisou fazer um desvio e dar a volta no quarteirão, no momento em que Marcelo
saía do elevador. Marcelo cruzou o saguão, sem ser visto pelo entregador que
entrou no prédio procurando por ele para assinar um pape, e chegou à porta
junto com uma senhora de idade. Marcelo interrompeu o passo e abriu a porta
para ela, deixando- a passar primeiro. Logo em seguida, atravessou a porta e
pisou na calçada...
(Marcelo sai do prédio e leva um banho, por causa de um
taxista que passou em cima de uma poça de água. Encharcado, ele tem tempo de
ver apenas que o taxista é jovem (Roberto) e tem uma passageira (Lucia) no
banco de trás.)
Pronto. Agora, o tempo
do Marcelo ficou curto e ele vai ter que mudar todo seu planejamento. Enquanto
o Roberto deixa a Lúcia no endereço certo, agora o Marcelo precisa arrumar um
táxi e ir para casa, entrar no prédio, subir no elevador. Enquanto a Lúcia é contratada, Marcelo entra
em casa, colocar uma roupa seca, sair do apartamento, pegar o elevador, sair do
prédio e conseguir outro táxi.
(Marcelo pega o táxi dirigido por Roberto, que está passando
em frente sua casa. O táxi viaja até onde Marcelo vai, deixando-o na frente de
um bar. Marcelo olha no relógio e entra no bar.)
Tem coisas que sempre
escapam do nosso controle.
(Numa mesa no meio do bar, com ambiente sofisticado e
charmoso, seus amigos estão esperando por ele. São três e já estão bebendo há
algum tempo, com copos e uma garrafa de uísque na mesa. Assim que ele chega,
começam a gargalhar e aplaudir. Um deles dá uma nota de dinheiro para o
segundo, que sorri e diz: “eu sabia que ele ia atrasar! Você nem devia ter
apostado!” O terceiro amigo, rindo alto, grita diretamente com Marcelo: “Toda
vez você atrasa! É impressionante! Toda quinta-feira é assim!”)
Mas a vantagem de ter
grandes amigos é saber que tudo sempre acaba bem.
Marcelo sorri e senta-se, sendo cumprimentados pelos amigos.
Vira-se para a garçonete e pede um copo com gelo. O espectador vê que a
garçonete é Lúcia.
1 leitores:
Uau. Essa narrativa é genial! :D
Quero ser igual a você quando eu crescer, sabia?
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