Sentado na varanda, ergueu os olhos do texto que fazia e
observou o pôr-do-Sol. E, por alguns instantes, lembrou-se de se esquecer de
tudo e apenas admirou o céu que desfilava diversos tons de laranja.
Encantado pelo final do dia, instintivamente abriu um novo
documento para escrever sobre a vista. Passaram-se alguns segundos até que ele
percebesse que a tela continuava ali, sem sequer uma letra maculando sua
brancura. Sacou o celular do bolso e, ainda observando o Sol que se escondia
lentamente por trás de uma montanha, pensou em uma frase que conseguisse
descrever tudo o que via, mas sabia que seria impossível colocar um pôr-do-Sol
em 140 caracteres. Algo faltaria.
Ergueu o telefone em direção ao céu e registrou o momento da
melhor forma que conseguiu. Agora, ele tinha uma miniatura do entardecer
guardada ali para sempre e, generoso que era, quis compartilhar com o mundo. E
começou a brincar de efeitos especiais. Amaro. Hudson. Earlybird. Toaster. Nada
parecia funcionar. Nashville. 1977. Nada parecia funcionar, pois subitamente
percebeu que o final da tarde não funcionava mais. Algo faltava.
Colocou o celular na mesa e desligou o computador. Ainda de
olho no Sol que se escondia cada vez mais, anunciando a chegada da noite, apanhou
um velho lápis e, segurando um guardanapo de papel, rabiscou rapidamente, sem
se preocupar com a letra:
O Sol está se pondo.
Queria você aqui.
Queria você aqui.
E, aproveitando os últimos raios de Sol, releu três ou quatro
vezes o que havia escrito, antes de dobrar o papel e guardá-lo no bolso. No dia
seguinte, colocaria o guardanapo escrito a lápis no correio.
No dia seguinte. Logo depois que o Sol nascesse.
3 leitores:
Esse texto expressa um pouco do que estou passando no momento. Me identifiquei muito nele. Por isso, obrigado. Obrigado por fazer eu encontrar um dos pedaços do eu que se quebrou ontem.
Puxa, que lindo. Às vezes a gente fica perdido no meio de tanta tecnologia... e as coisas mais gostosas e belas são mesmo as mais simples.
Agora, eu adoraria receber um bilhete assim pelo correio. Já não se fazem mais essas coisas charmosas hoje em dia. É uma pena...
Oi! Não li nada do blog ainda (vou ler), mas só pra dizer que não sabia da existência até hoje. Libertei o "Alta Fidelidade" na minha cidade e a Luma veio me contar sobre você e seu blog! No começo dos anos 2000, o livro era musa e reflexo meus e dos meus amigos. Todos queríamos ser o Rob, de certa forma, e tentávamos inventar uma Londres só da gente. Enfim. O livro foi, as memórias ficam. Agora vou ler seu blog. E opa! Tem livros também. Legal!
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