5 de agosto de 2011
Sólido
Desistiu de procurar por uma saída. Estava encurralado e asfixiado dentro de um vazio repleto de amargor. Era seu destino. Apenas acontecera. Não importava mais. Girou o tambor com o dedo e sorriu triste. Tentou lembrar quem fora a última pessoa a conhecer seu sorriso, e inevitavelmente imaginou quem também deixaria de conhecê-lo, mas afastou logo a ideia de sua mente. Não haveria mais sorrisos, de qualquer forma. O metal esfriou sua mão, deixando-a na mesma temperatura de sua alma. Tudo era frio. Olhou ao redor pela casa, procurando algo que o fizesse mudar de ideia. Não havia nada. Não havia motivos ou razões. Somente o frio. Para onde olhasse, lá estava sua dor, negra, maciça e imponente, lembrando-o constantemente de um passado que havia sonhado em ser futuro, mas que nunca viveu para se tornar presente. Sozinho, permitiu-se chorar uma última vez, pois mais uma não faria diferença, e levantou-se para feito fera enjaulada que deseja escapar. Sem saber direito do que escapar. Sem saber como escapar. Sem saber para onde escapar. Deu um último gole no uísque, sentindo o gelo sólido bater em seus dentes, e fechou os olhos. Estava trancafiado. Posicionou o cano ao lado da cabeça e fez uma oração qualquer para um deus que, de qualquer forma, não o ouvia. Respirou fundo, se perguntando pela primeira vez na vida por que o ar não tinha cheiro e apertou o gatilho, cortando o universo com um estampido bruto e seco, rasgando a manhã alaranjada com um clarão que o empurrou a uma escuridão completa e confortável, cobrindo a sala de...