11 de julho de 2011

Demônios

Deitou-se no quarto escuro, encolhido, e fechou os olhos esperando pelo início.

Logo surgiram, dançando labaredas dentro de sua mente. Traziam nas costas lembranças torturadas de culpa e amargor, rasgando retratos de momentos felizes que haviam durado menos que um sonho. Gritavam acusando cada risada que dera, desmentido cada sorriso que ganhara, jurando que nunca uma gargalhada fora de fato. E torciam seus sentimentos como cordas, mantendo-o amarrado sobre as chamas, dependurado sobre um caldeirão entupido de mentiras sem sentido, dores lancinantes e promessas vazias.

Deitou-se no quarto escuro, encolhido, e fechou os olhos esperando por ele.

Transformaram-se em sombras e dançaram de forma a abrir espaço. E o corredor escuro e pegajoso começou a tremer e rimbombar sob os passos de uma criatura disforme, construída com pedaços de arrependimentos remendados, que se aproximou respirando fumaça e enxofre. Seu rosto se torceu numa maquiagem exagerada e indecente, suas feições se transformaram. Sorriu ao ver o desespero vazio de sua presa após ela perceber que suas faces eram iguais. Como em todas as noites, o homem era seu próprio demônio.

Deitou-se no quarto escuro, encolhido, e fechou os olhos esperando passar.

3 leitores:

Varotto disse...

DARK...

Renata Schmitd disse...

direto. intenso. sombrio. amei.

Anônimo disse...

Rob, vc tá muito sombrio. Senti uma vibe The Exorcist aí, hein.

 

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