(tema sugerido por: @analuizap)
Estavam os dois num bar, no meio da madrugada. Já haviam bebido mais do que deviam. Um bebia somente cerveja, enquanto o outro se recusava a pedir algo que não fosse conhaque.
Conversaram sobre a vida, sobre trabalho, sobre músicas, porque adoravam conversar sobre músicas. Mas uma hora acabou o assunto. Ainda havia cerveja e conhaque, mas não havia assunto.
E bebida sem assunto é algo perigoso.
- Vamos ser sinceros aqui. Eu sou melhor que você, disse o Amor de Inverno antes de pousar o copo na mesa.
O Amor de Verão permaneceu imóvel alguns segundos, provavelmente porque as palavras estavam nadando a braçadas largas no oceano de álcool que seu cérebro havia se tornado, até encontrarem uma ilha de sobriedade na qual fariam algum sentido. Aparentemente, encontraram, porque a resposta finalmente veio.
- Você enlouqueceu?
- Não. Estou apenas observando os fatos. Eu sou melhor que você.
- Por quê?
- Vamos ser sinceros aqui. Eu sou melhor que você, disse o Amor de Inverno antes de pousar o copo na mesa.
O Amor de Verão permaneceu imóvel alguns segundos, provavelmente porque as palavras estavam nadando a braçadas largas no oceano de álcool que seu cérebro havia se tornado, até encontrarem uma ilha de sobriedade na qual fariam algum sentido. Aparentemente, encontraram, porque a resposta finalmente veio.
- Você enlouqueceu?
- Não. Estou apenas observando os fatos. Eu sou melhor que você.
- Por quê?
- Porque sou. Primeiro, sou muito mais elegante que você. Eu como fondue, tomo vinho. Faço amor em tapetes brancos dentro de chalés. E você ali, na praia, de chinelos. De chinelos! Como alguém pode amar outra pessoa de chinelos, com os pés cheios de areia?
- Você é arrogante demais. Arrogante a ponto de não ver o quanto eu sou melhor.
- Melhor como?
- Suado. Imagine aquele sexo selvagem, com o suor escorrendo pela pele, os corpos grudados. Tudo melado. O amor só ganha sentido quando se torna pornográfico. E, meu amigo, nada é mais pornográfico que o verão.
- Pornográfico?
- Sim. Biquínis. Pessoas quase nuas. Corpos à mostra. Eu sou a pornografia em pessoa. Ou melhor, em estação. Você entendeu.
- Mas o amor é elegante. Você... Sério, você não é só pé cheio de areia. Você é raspadinha na praia, com areia. Cerveja quente com areia. Você é deprimente. Isso não é amor, é ser farofeiro.
- Eu não sou apenas praia! Sou muito mais que isso!
- Claro que é! Ou você acha que as pessoas andam de biquíni fora da praia?
- Pior você, que é somente Campos do Jordão e olhe lá.
- E não está bom? Chalés, vento frio... Abraços. E a lareira?
- Lareira? Bobagem. Lareira é um forno de pizzaria que fica na sala, mais nada.
- Lareira! Morra de inveja! Lareira!
- Bela merda! Quem consegue amar com aquele cheiro de madeira queimada? Com aquela fumaceira toda? No meu caso, um ventilador alivia tudo. Um ar condicionado. Já você precisa ficar enrolando em cobertores, feito um doente.
- Sim, mas você já ouviu a expressão “preciso de um ventilador de orelha”? Claro que não, ninguém quer isso! Agora, “cobertor de orelha”, todo mundo quer! Eu sou melhor que você! Admita!
- Não, não é! Você é metido. Você e seus casacos de pele, seus cachecóis importados, suas botas de couro! As pessoas demoram tanto tempo para tirar a roupa que, quando conseguem ficar nuas, nem lembram mais do nome da outra pessoa! Isso é ridículo!
- Não. Isso é charme.
- Charme? Charme são as pessoas andando de maiô à beira da praia. Aquilo é charme. Corpos bronzeados. Sexy demais.
- Sei.
- Sexy, sim!
- Nada. Parece propaganda de cerveja. E propaganda de cerveja sempre tem pagode. Vai me falar que isso é sexy? Vai realmente insistir nisso?
- Não preciso insistir. Basta você dar uma volta pela praia, a qualquer dia. Eu levo você. E aí você vai entender que o amor é pele.
- Eu sei disso. Sabe quantas mulheres foram conquistadas com casacos?
- Não é essa pele, animal! É pele de contato, de exposição, de tesão.
- Cara... Falando em tesão, olha essa menina que entrou no bar.
- Onde?
- Ali atrás. Acho que está comprando cigarros. Olha o corpo dela.
- Porra...
- E ela está de calça e botas. Apenas para constar.
- Mas ela está com blusa sem mangas. Apenas para constar.
- Cara, que corpo é esse?
- E esse rosto? Esses olhos?
- Que mulher. Puta que pariu. Ei, você está tremendo?
- Um pouco.
- Está vendo? Sou eu! É o frio!
- E você está suado!
- Estou nada.
- Evidente que está! Passe a mão na sua cabeça.
- Porra... Estou mesmo.
- Viu? Calor, suor... Agora você entendeu?
- Cale a boca!
- Ela está vindo para cá!
- Meudeusmeudeusmeudeus.
Com um cigarro apagado entre os dedos, ela caminhou em direção à mesa da dupla. Na verdade, não caminhava, parecia flutuar. O bar inteiro olhava para ela. O tempo parecia congelado ao seu redor. Com olhos de menina, pediu:
- Vocês tem isqueiro?
Amor de Inverno e Amor de Verão puxaram um isqueiro do bolso ao mesmo tempo, acendendo. Ela jogou a cabeça para trás ao rir e acendeu o cigarro nas duas chamas. Deu uma longa tragada, agradeceu com os olhos brilhando e deu meia volta.
Mal havia andando dois metros quando um deles chamou sua atenção. Ela parou, sem olhar para trás e outro fez a pergunta que o bar inteiro queria saber.
- Qual seu nome?
Ela virou a cabeça em direção a eles, sorrindo, fazendo com que o bar inteiro finalmente entendesse o que Deus queria dizer quando criou o sorriso.
- Paixão.
- Paixão?
- Paixão. Paixão de Primavera. Prazer.
E foi-se embora. Esbanjando frio e calor. Fazendo o bar inteiro suar e tremer.
- Você é arrogante demais. Arrogante a ponto de não ver o quanto eu sou melhor.
- Melhor como?
- Suado. Imagine aquele sexo selvagem, com o suor escorrendo pela pele, os corpos grudados. Tudo melado. O amor só ganha sentido quando se torna pornográfico. E, meu amigo, nada é mais pornográfico que o verão.
- Pornográfico?
- Sim. Biquínis. Pessoas quase nuas. Corpos à mostra. Eu sou a pornografia em pessoa. Ou melhor, em estação. Você entendeu.
- Mas o amor é elegante. Você... Sério, você não é só pé cheio de areia. Você é raspadinha na praia, com areia. Cerveja quente com areia. Você é deprimente. Isso não é amor, é ser farofeiro.
- Eu não sou apenas praia! Sou muito mais que isso!
- Claro que é! Ou você acha que as pessoas andam de biquíni fora da praia?
- Pior você, que é somente Campos do Jordão e olhe lá.
- E não está bom? Chalés, vento frio... Abraços. E a lareira?
- Lareira? Bobagem. Lareira é um forno de pizzaria que fica na sala, mais nada.
- Lareira! Morra de inveja! Lareira!
- Bela merda! Quem consegue amar com aquele cheiro de madeira queimada? Com aquela fumaceira toda? No meu caso, um ventilador alivia tudo. Um ar condicionado. Já você precisa ficar enrolando em cobertores, feito um doente.
- Sim, mas você já ouviu a expressão “preciso de um ventilador de orelha”? Claro que não, ninguém quer isso! Agora, “cobertor de orelha”, todo mundo quer! Eu sou melhor que você! Admita!
- Não, não é! Você é metido. Você e seus casacos de pele, seus cachecóis importados, suas botas de couro! As pessoas demoram tanto tempo para tirar a roupa que, quando conseguem ficar nuas, nem lembram mais do nome da outra pessoa! Isso é ridículo!
- Não. Isso é charme.
- Charme? Charme são as pessoas andando de maiô à beira da praia. Aquilo é charme. Corpos bronzeados. Sexy demais.
- Sei.
- Sexy, sim!
- Nada. Parece propaganda de cerveja. E propaganda de cerveja sempre tem pagode. Vai me falar que isso é sexy? Vai realmente insistir nisso?
- Não preciso insistir. Basta você dar uma volta pela praia, a qualquer dia. Eu levo você. E aí você vai entender que o amor é pele.
- Eu sei disso. Sabe quantas mulheres foram conquistadas com casacos?
- Não é essa pele, animal! É pele de contato, de exposição, de tesão.
- Cara... Falando em tesão, olha essa menina que entrou no bar.
- Onde?
- Ali atrás. Acho que está comprando cigarros. Olha o corpo dela.
- Porra...
- E ela está de calça e botas. Apenas para constar.
- Mas ela está com blusa sem mangas. Apenas para constar.
- Cara, que corpo é esse?
- E esse rosto? Esses olhos?
- Que mulher. Puta que pariu. Ei, você está tremendo?
- Um pouco.
- Está vendo? Sou eu! É o frio!
- E você está suado!
- Estou nada.
- Evidente que está! Passe a mão na sua cabeça.
- Porra... Estou mesmo.
- Viu? Calor, suor... Agora você entendeu?
- Cale a boca!
- Ela está vindo para cá!
- Meudeusmeudeusmeudeus.
Com um cigarro apagado entre os dedos, ela caminhou em direção à mesa da dupla. Na verdade, não caminhava, parecia flutuar. O bar inteiro olhava para ela. O tempo parecia congelado ao seu redor. Com olhos de menina, pediu:
- Vocês tem isqueiro?
Amor de Inverno e Amor de Verão puxaram um isqueiro do bolso ao mesmo tempo, acendendo. Ela jogou a cabeça para trás ao rir e acendeu o cigarro nas duas chamas. Deu uma longa tragada, agradeceu com os olhos brilhando e deu meia volta.
Mal havia andando dois metros quando um deles chamou sua atenção. Ela parou, sem olhar para trás e outro fez a pergunta que o bar inteiro queria saber.
- Qual seu nome?
Ela virou a cabeça em direção a eles, sorrindo, fazendo com que o bar inteiro finalmente entendesse o que Deus queria dizer quando criou o sorriso.
- Paixão.
- Paixão?
- Paixão. Paixão de Primavera. Prazer.
E foi-se embora. Esbanjando frio e calor. Fazendo o bar inteiro suar e tremer.
8 leitores:
Rob, a falta de sono te inspira, é? Ou é o café com coca e com cigarro...rs
É verdade... A esta altura já era para você ter começado a ficar confuso. Como é que ainda está saindo coisa tão boa assim??
Amei esta crônica! Cara, como você faz isso? Ficou incrível!
“preciso de um ventilador de orelha”
ri alto aqui!
rindo muito aqui. bom demais, rs
A melhor que eu li até agora. Sem mais!
Primavera da paixão, uau!
Ameiiiii! Eu sou bem mais uma Paixão de Primavera, tbm, viu? Mas entre inverno e verão, vc que me perdoe, Rob, mas eu sou inverno!
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