17 de novembro de 2010

Explosão

Não queria abrir os olhos com medo de ver nada e descobrir-se imaginando. Havia sonhado tanto com aquilo, dormindo ou acordado, que não agüentaria novamente descobrir que tudo era, mais uma vez, dolorosamente intangível. Mas era quase impossível resistir ao desejo de olhar, devorar e decorar com os olhos, de tatuar na memória a imagem que se descortinava à sua frente. Mas resistiu, permanecendo refugiado na doce e protetora escuridão, certo de que veria algo que fugiria à sua compreensão e desafiaria tudo o que conhecia sobre a vida e sobre si próprio.

Inebriado, correu em busca de ar e encontrou somente o cheiro dela. Doce, impregnado nas paredes e lençóis; suave, dançando ao redor de sua mente; instigante, consumindo suas memórias e despertando seus instintos. E, ali, cercado e formado por uma névoa de perfume animal, deixou-se abater pelo odor, vendo sua forma que conhecia morrer e renascer feito menino que descobre a fragrância do mundo e o cheiro da alma, num mosaico de aromas que, feito nuvens, constroem os sonhos.

Naturalmente feito um bicho que encurrala sua presa, deixou-se invadir pelos ruídos da tarde quente. Mas estava deliciosamente surdo, pois tudo o que conseguia captar eram o som doce, colado à sua pele, que reproduzia seu nome em todos os tons existentes e conhecidos. Ouviu seu nome ser gemido de loucura, gritado de paixão, sussurrado feito segredo, recitado feito um cântico. E a menção do seu nome emoldurado na voz dela rasgou o silêncio pacífico de sua vida de forma impiedosa, declarando guerra à sua solidão, atacando a ferro e fogo tudo em que ele acreditava.

Alucinadamente, deixou seus dedos se deliciarem ainda mais com a superfície quente e aconchegante pela qual haviam corrido e percorrido durante eternidades. Suas mãos, em brasa, aqueciam e deixavam-se esquentar até a fervura, mesclando-se ao suor pecaminoso da primeira vez que encharcava sua pele e transbordava sua vida, tornando seu passado escorregadio e seu futuro lambuzado. E, sentindo seu corpo inteiro formigando em milhares de agulhas que dançavam de forma sensual sobre sua pele, apertou até marcar, dominando impiedosamente, carinhosamente tomando posse.

Repentinamente, sentiu um gosto doce e vivo invadindo sua boca e dançando de forma frenética em sua boca. A memória da elegância da língua dela, dançando, vivendo e deslizando suavemente num ritmo inédito causou uma explosão de sabores coloridos, que vibraram de forma quase luminosa dentro de seus lábios. Minutos atrás, havia aprendido os sabores de seu corpo. Agora, finalmente entendia que ela possuía apenas um sabor, e que ele jamais poderia ser descrito ou explicado, somente existido e tudo fez sentido.

Com a consciência ameaçando lhe deixar, respirou fundo de olhos fechados ouvindo a voz dela apertando o corpo dela ao seu e, sem alternativas, gritou o nome dela em êxtase, devorando cada letra e adorando o som de cada sílaba. E, ao final desta explosão, implodiu-se desmoronando na cama ao lado dela, ouvindo, tocando, sentindo, enxergando, respirando. Desta vez, de verdade. Desta vez, com todos os cinco sentidos. Desta vez, para sempre.


1 leitores:

Otavio Oliveira disse...

Ia fazer uma piadinha aqui mas achei indigno em relação ao primor que tá isso aí.


é isso aí, rapaz.

 

Championship Chronicles © 2010

Blogger Templates by Splashy Templates