Abriu a bolsa e pegou o bombom.
Sentindo o plástico da embalagem em suas mãos, fechou os olhos. O leve chacoalhar do seu corpo, sentado ao lado da janela do metrô, tornou-se imperceptível. O barulho intenso ao seu redor começou a sumir, como se o trem estivesse partindo para longe. E, aos poucos, ela mesma começou a ir para longe, para o passado, para aquela noite.
Lembrou-se do final, do beijo estalado minutos antes, da despedida sorridente. O café da manhã apressado, com os olhos marejados de sono. Lembrou-se do Sol que brilhava na rua, diferente do que brilhara na véspera. Mais claro, mais limpo, porém mais secreto. Lembrou-se das histórias que contou, desenhou os olhos dele na memória e sorriu levemente.
Lembrou-se do meio, dos urros e nomes gritados. Lembrou-se do toque dele, forte e suave, leve e ardido. Lembrou-se do cheiro, do sabor, da visão, do suor. Lembrou-se da força e da velocidade, da física e da química, recordando o beijo enlouquecido de desejo, da sensação de pressionar a parede com a palma da mão para não se machucar e mordeu o lábio.
Lembrou-se do começo, do primeiro olhar, do cumprimento. Lembrou-se de descobrir odores e visões, recordando as primeiras palavras trocadas, no meio da rua. E lembrou-se do beijo que descortinou seu corpo, dos dedos entrelaçados e da mordida na nuca, que marcou sua pele com a promessa de gritos, urros, sabores, visões e de um café da manhã apressado.
Suspirou e abriu os olhos. O mundo continuava ali. O bombom também.
Abriu a bolsa e o escondeu como um tesouro. Comeria somente depois.
Ainda estava saciada.
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6 leitores:
Toda crônica parece lembrar, mesmo que ao longe, um momento da vida do leitor. Essa lembra um momento da minha.
Perfeita.
Caralho... esse texto deu até vontade de lembrar das vezes que já me senti assim.
xD
Nostalgia.
O momento é lindo, mas no dia seguinte, quando tiver só o papel do bombom e ele se afasta cada vez mais dos sussurros, dos grios e até do amor, o que ela vai fazer?
"Lembrar o trazia até ali, até ela.
Recordar era como que reviver cada momento, cada olhar, cada palavra, cada sorriso
Ela recordava e revivia. E nisso se saciava...
E quando a sede dele voltasse a incomodá-la, e quando a fome dele viesse atormentá-la, ela deixaria o bombom sobre a mesa, e seria no seu beijo que ela se afogaria, seria no seu corpo que ela se alimentaria."
Rá! Esse é um dos seus textos mais curtos e mais completos que já li. E que cada um que ler, tenho certeza, acrescentará mil momentos, mil palavras. Porque ele encerra tanto, que contém a todos!
ADOREI!
Muito legal esse texto. Me faz lembrar de história minhas e bate aquela saudade. A história é igual ao sonho de valsa, dá vontande de guardar e ler depois e depois e depois...
Ah... sonho de valsa... Que eu-lírico narcisista. Adorei.
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