23 de setembro de 2010

Gérberas

Escolheram os pratos e pediram. Vinho para acompanhar. Conversaram sobre o filme que haviam acabado de assistir. Ela adorou, mas ele não havia gostado do ator. Antes dos pratos chegarem, já estavam falando sobre suas vidas. Ela contou sobre seu trabalho, como era sua rotina, onde ficava o escritório. Ele falou sobre sua carreira, seus planos, o que gostaria de viver no futuro. Do trabalho foram para as famílias. Ele com pais na cidade, ela vinda do interior, mas já acostumada à correria. Jantaram contando histórias do tempo de escola, dando risada. Ele exagerou um ponto ou outro, mas ela não deu atenção – estava rindo demais do jeito que ele imitava a voz de um dos professores. E, depois da sobremesa, ele a acompanhou até em casa. Foram a pé. Andaram pela avenida. Ele segurou a mão dela, ela tentou esconder o sorriso, e ele fingiu que não viu. Conversaram mais. Música. Livros. Países. Um assunto puxava o outro, em perfeita harmonia. Dançavam uma valsa falada. E ali, na porta do prédio dela, se despediram. Sorrindo, ele agradeceu, dizendo que havia adorado a noite. Adorado. Com todas as letras. Ela abaixou os olhos. Despediram-se. Ela subiu os seis andares, de elevador. Emocionada, tirou as chaves da bolsa e abriu a porta do apartamento, vazio. O nó na garganta apertou. Nenhum recado na secretaria eletrônica. Ninguém a esperava. Sentou-se no sofá, colocou a bolsa de lado. E chorou baixinho, com lágrimas borrando sua maquiagem cuidadosamente escolhida horas antes. Estava feliz, felicidade de menina. Depois de tanto tempo, felicidade de menina. Chorou aquele turbilhão de felicidade para fora do corpo e levantou-se para lavar o rosto, dando-se o direito de deixar os sapatos na sala. E, deitou-se tentando redescobrir como conviver com a vontade de sorrir do nada. Adormeceu sentindo vontade de acordar logo, pela primeira vez em muito tempo. E sonhou a noite toda, sem desconfiar que poucas horas depois, receberia flores – gérberas – com um pequeno cartão, que ela guardaria na bolsa. Pelo resto da vida.

12 leitores:

Varotto disse...

Final feliz???

Gostei do "dançavam uma valsa falada".

Você tá ficando bom nisso, hein?!

Daniela disse...

"Estava feliz, felicidade de menina. Depois de tanto tempo, felicidade de menina."

Eu chorei com ela...não tenho as gérberas e o cartão, mas planos num guardanapo que vou guadar por uma vida. E cronicas suas que me marcaram nesse período de luto e volta à vida. Obrigada por essa, muito especial.

Marina disse...

A "valsa falada" foi realmente perfeito. Li umas três vezes a mesma frase, sem acreditar que você tinha mesmo escrito isso.

Lindo, Rob.

Tyler Bazz disse...

Uma gracinha!!!

Tenho certeza que ela subiu de escadas. Se ela morasse no 10º andar, esse texto estaria arruinado. Não combina com elevador.

Tyler Bazz disse...

Ok, ela foi de elevador.
Na minha cabeça a coisa toda é bem mais legal. Imagina ela subindo de escadas pra você ver...

Nathalia Alvarez disse...

texto muito bom, desses que você queria que fosse sobre você, ou que você tivesse escrito. rs e o novo layout ficou bem bonito também.

Rob Gordon disse...

Tyler

Se ela subisse de escada, se passariam dias até ela chegar ao apartamento. Neste meio tempo, ele já teria desistido de tudo, pois ela não fica mais online no Msn, nem retorna suas ligações*.

Ele se casaria com outra menina, uma colega de trabalho, anos depois, e teria dois filhos: Marcela e João Victor.

Ela, por sua vez, nunca mais teria ouvido falar dele. E nunca entendeu porque ele sumiu. Uma vez, de dentro de um ônibus, teve certeza de que o avistou na rua, mas ele desapareceu na multidão.

Mas o mais importante é que ela nunca mais se permitiu sentir isso que sentiu nesta noite. Morreu solteira, por opção. E ela não foi particularmente feliz.

Moral da história: vá escrever no seu blog, pare de atrapalhar a vida dos meus personagens e deixe-a ir de elevador em paz.


* Sim, ele não tinha o celular dela, apenas o número de casa.

Tyler Bazz disse...

Sinto falta do tempo em que você respeitava seus leitores. Só isso.

Rob Gordon disse...

Hahahahaha Pentelho!

Bia Nascimento disse...

Gostei mais do original do que o final alternativo, caso ela tivesse subido pela escada. ;)

Anônimo disse...

* Ela sobe de escada...mora no 3º andar rs.
*Faço meu, o comentário da Daniela.
*Tirei o cartão antigo da carteira, deixando espaço para o próximo.

Anônimo disse...

* Ela sobe de escada...mora no 3º andar rs.
*Faço meu, o comentário da Daniela.
*Tirei o cartão antigo da carteira, deixando espaço para o próximo.

 

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