30 de agosto de 2010

Tempos Verbais

Sorrindo, vive o presente.

Fecha os olhos e lembra-se do seu passado. Lembranças povoam sua mente. Reminiscências de todos os seus pretéritos invadem sua alma.

Lembra-se, claro, do perfeito. O momento em que a olhou nos olhos pela primeira vez, o dia em que experimentou a sensação de segurar sua mão. Aqueles pequenos segundos quando descobriu o sorriso dela, segundos que ficaram tatuados para sempre na sua memória. E mergulhou de volta naquele primeiro beijo, quando ele deixou de ser homem e voltou a ser menino para sempre.

Mas logo sua mente cai no abismo do imperfeito. As brigas que talvez pudessem ter sido evitadas, os desencontros impedidos caso eles tivessem conversado. As lágrimas que rolassem talvez fossem de felicidade; os gritos talvez se tornassem de prazer; e a escuridão, se soubesse a verdade sobre eles, se cumprisse com o combinado, quem sabe explodisse em luz e cores e sons para sempre.

Mas é no mais perfeito que encontra seu ar. Pois sabe que se apaixonou porque sempre a amara; ainda vive no olhar dela na primeira vez que a tocara; e se afoga no som que ela gemera de madrugada. Tudo porque conquistou seu amor com o valor da alma que ganhara quando a teve para si. Sempre fora sozinho, até, ao que, ao lado dela, tinha se tornado composto.

E, suspirando, pensa no futuro deste presente.

Sonha que, com ela, viverá para sempre. Andará de mãos dadas, e ela sempre entortará o polegar daquele jeito só dela. Sabe que nunca mais choverá, que o céu nunca mais nublará, e que o Sol brilhará eternamente. E tem a certeza de que as noites não cairão, e o tempo será dividido entre as manhãs de sábado, as tardes quentes no quarto e as madrugadas em que o calor dela o esquentará.

E, suspirando, pensa no futuro deste pretérito.

E, neste futuro, viveria para sempre. Andaria de mãos dadas, e ela sempre entortaria o polegar daquele jeito só dela. Sente que nunca choveria, que o céu nunca mais nublaria, e que o Sol brilharia eternamente. E arrisca dizer que as noites não cairiam, e o tempo seria dividido entre as manhãs de sábado, as tardes quentes no quarto e as madrugadas em que o calor dela o esquentaria.

Sorrindo, vive o presente.

Sorrindo pois sabe que amar está no infinitivo. E nunca foi condicional.

5 leitores:

Varotto disse...

Cara, você é bom, hein?!

Grande sacada...

Ana Savini disse...

"E, suspirando, pensa no futuro deste presente."
"E, suspirando, pensa no futuro deste pretérito."
"Sorrindo, vive o presente."

Muito bom...

Tyler Bazz disse...

Você é MUITO bom.

Fica a sensação de que o futuro é sempre melhor, mas que o presente é bom demais também. E que, se chega a ser passado, é horrível.

Jullia A. disse...

Rob, seu texto conforta.
'o abismo do imperfeito.' 'e a expressao do dia.

Carlos Cruz disse...

Cara, fantastico.

Leve numa boa, mas você é humano?

Abraço,
Carlos Cruz

 

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