Ele fez tudo certo.
Passou a semana inteira se programando. Ou melhor, sonhando. Imaginou como seria o momento em que a encontrasse e como se sentiria no momento em que colocasse os olhos nela. Ela sorriria? Ou olharia para o chão, envergonhada? E pensou no que dizer, mas desistiu. Espontaneidade era tudo.
Passou a semana, também, pesquisando presentes. Conversou com a melhor amiga dela – pedindo para que a menina mantivesse segredo – sobre os gostos dela, para ter idéias. Pesquisou na internet. Decidiu fazer um CD de músicas, e varou madrugadas elaborando a coletânea ideal, pelo que havia descoberto sobre as preferências dela.
Na manhã seguinte, acordou mais cedo. Medo de perder a hora. Medo de não conseguir chegar a tempo. Tomou banho, fez a barba. Na cama, a roupa que havia comprado na véspera, especialmente para sair com ela. Escovou os dentes por mais tempo que o comum. Não queria impressioná-la, queria apenas mostrar que dava muito valor para passar um dia com ela.
No caminho, pensou no que faria. Onde almoçariam? Que tipo de comida ela gostava? E onde a levaria depois? Cinema? Ou apenas passear de mãos dadas e ver vitrines? A idéia de segurar a mão dela fez surgir um sorriso em seus lábios. Simplesmente não se agüentava mais de tanta ansiedade, mas, ao mesmo tempo, se sentia em paz.
Quase chegando ao local, teve uma idéia. Parou numa floricultura e escolheu com cuidado. Não sabia quais as flores prediletas dela, então, teve que confiar no seu instinto. E não poderia ser nada muito grande, pois eles passariam o dia todo carregando o ramalhete. Acabou escolhendo flores do campo, e escreveu um cartão com sua letra mais caprichada.
Chegou ao ponto de encontro e olhou seu reflexo numa vitrine. Arrumou a gola da camisa, limpou o rosto e ajeitou os cabelos. Não queria parecer lindo, queria apenas parecer lindo para ela. Encostou-se num canto – tomando cuidado para não sujar a roupa – e, segurando as flores e o CD, com o cartão no bolso, esperou, sorrindo.
Ela não foi.
Esperou por horas, e ela não apareceu. O sorriso diminuiu aos poucos, até sumir. Voltou para casa. Esperou por uma ligação com um pedido de desculpas, mas ela nunca aconteceu. Resignado, abraçou a idéia de que, ao menos, havia feito tudo certo. Deitou e dormiu, sem saber se tentaria fazer tudo certo novamente, com outra pessoa, em algum outro dia.
Ela nunca mais ouviu falar dele. Mas as flores, o cartão e o CD ainda estão lá, num lixo, junto com um punhado de sonhos que não deveriam ter sido perdidos.
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11 leitores:
Estou cansada de chorar com seus textos.
fiquei triste agora... D:
Quem nunca passou por uma situação parecida?
Nem digo nada sobre a produção toda, mas simplesmente por sentir algo grande por alguém e em nenhum momento passar pela sua cabeça que talvez ela não sinta a mesma coisa, ou dê a mesma importância que você.
Essa doeu lá dentro...
Mais um texto perfeito.
acho que eu poderia copiar o comentário do varotto e colocar um [2].
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isso é triste, e bonito.
lembrei de uma música, que poderia ser uma analogia aqui... "pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza..."
mas o melhor é que você escreve bem pra coisas felizes também.
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Eu sei que se decepcionar faz parte da vida, mas isso não impede que a gente chore a cada vez que acontece. O importante é que a gente esteja disposto a correr o risco de se decepcionar outra vez.
Lindo, sim! Triste, talvez! Real...toda vida! Quantos Eles e Elas não existem(resignadamente) por aí, não é?
#beijojávou
sonho que se sonha só...isso é tão triste, tão solitário...hoje é um péssimo dia para ler este texto...
impressão minha ou a media de comentários do chronicles tá crescendo??
eu, por exemplo, chego aqui e só comento mesmo para não dizerem que não comentei. pq fazer comentários, daqueles assim bem comentaristas, eu nem consigo mais.
Nossa q triste... :(
Fiquei imaginando essa cena num filme.
Esse é um daqueles textos que, quando leio, penso: putz, queria ter escrito isso.... Em devidas proporções, é um sentimento meu... Mais uma vez, parabéns!
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