16 de novembro de 2009

Passado, Presente e Futuro

E eis que um domingo ele acordou e descobriu que precisava se encontrar com ela.

Fez a barba e tomou banho, mas a vontade não passava. Conseguia pensar apenas nisso. Depois de tomar café, ligou e fez o convite. Ela aceitou, mas queria saber aonde iriam. Ele não disse, era surpresa. Combinaram de se encontrar após o almoço.

No horário marcado, se encontraram e, de mãos dadas, começaram a caminhar. Ela não conhecia o bairro em que estavam, mas ele parecia familiarizado com aquele lugar. Apesar de andar na mesma velocidade que ela, parecia saber exatamente onde estava indo. Sua mão estava quente, a mão dela reparou.

Caminharam por cerca de dez minutos e entraram numa rua pequena, arborizada e com casas antigas. Andaram alguns metros e ele apontou para uma calçada, convidando-a para sentar ali.

Ambos se sentaram, um ao lado do outro. Ele abraçou os próprios joelhos e disse:

– Eu cresci neste bairro. Nesta rua. Eu morava naquela casa ali. Passei minha infância aqui, jogando bola e brincando. Fiz muitos gols ali, onde aquele carro vermelho está parado.

Ele olhou ao redor, observando a paisagem com certo saudosismo. Suspirou.

– Quando eu e meus amigos nos tornamos adolescentes, passávamos horas sentados, aqui mesmo, nesta calçada. E conversávamos sobre tudo... Falávamos sobre relacionamentos, sobre profissões, sobre futuro... Falávamos sobre tudo isso, mesmo sem saber nada sobre estes assuntos. Exatamente aqui onde estamos.

Apontou para uma árvore, à esquerda deles.

– Ali, eu dei meu primeiro beijo. E acho que foi ali que tomei minha primeira latinha de cerveja. Dei algumas das melhores risadas da minha vida nesta rua. Eram risadas sinceras, risadas de alguém que ainda não tinha apanhado nunca, sabe? Risadas de alguém que ainda tinha todos os sonhos da infância intocados.

Ele se distraiu com um senhor de idade que, a poucos metros deles, andava no Sol, sem camisa, ao lado de um cachorro.

– Foi aqui que eu comecei a viver. Foi aqui que eu comecei a fazer planos, que eu comecei a sonhar com quem eu seria no futuro. Foi aqui que eu me tornei quem sou. Nesta calçada aqui, bem aqui onde nós estamos, eu sonhei com tudo o que aconteceria comigo.

Ela permaneceu em silêncio. Ele continuou:

– E hoje eu descobri que queria essa mesma sensação mais uma vez. Aquela sensação de que você tem todo o tempo do mundo pela frente, que você tem dezenas de caminhos, e pode escolher qualquer um deles, sabe? Aquela sensação de liberdade, de que você controla toda sua vida e que, um dia, você fará diferença na vida de alguém. Aquela sensação de que você tem uma vida inteira pela frente. Eu queria ter essa sensação novamente.

Sorrindo, ele terminou:

– Mas, hoje, quando acordei, descobri que esta sensação não faria mais sentido, se você não estivesse ao meu lado. Porque você está presente na minha vida desde que ela começou. Você faz parte da minha vida desde antes de eu conhecer você. Tudo o que eu aprendi desde que me sentei aqui pela primeira vez, são coisas que estavam apenas me preparando para encontrar você. Eu precisava sentir tudo aquilo novamente, mas com você.

Ela limpou a lágrima que rolou pelo rosto, enquanto ele a agradecia, baixinho, por ter vindo. E os dois passaram a tarde ali, no Sol, conversando sobre relacionamentos, profissão e futuro, sem pressa alguma.

Naquela tarde, eles tinham todo o tempo do mundo.

12 leitores:

MaxReinert disse...

Eita!!!!





...


sem comentários!

Layla Barlavento disse...

Sublime. Como todo amor deve ser.

May. disse...

Acho que não tem nada mais delícia que se sentir tão parte da vida de alguém assim.

Otavio Cohen disse...

puta que pariu.



odeio n ter palavras.

Claudia Iarossi disse...

CARACA...lindo demais!!!!!

Lua Durand disse...

"Tudo o que eu aprendi desde que me sentei aqui pela primeira vez, são coisas que estavam apenas me preparando para encontrar você."

-

que bom que ele a encontrou.

-

o que me deixa feliz de vir aqui no chronicles, é que isso pode ter realmente acontecido

"Um arquivo com crônicas abordando situações totalmente cotidianas, completamente atemporais e com personagens puramente fictícios. Ou não."

, e assim posso acreditar que certas coisas não se perderam, que ainda existem, em pessoas, e histórias e estórias, por ai a fora.

isso me faz sorrir.

-

[...]

lindo texto.

Mari Hauer disse...

Ah, que texto mais lindo!

Adoro ler crônicas, adoro escrevê-las. E gosto das que registram a história de momentos que passam voando para a maioria das pessoas.

Gosto dos minutos capazes de durar todo o tempo do mundo!

Jullia A. disse...

Imaginei uma mãe, que já vem perdendo a memória, as lembranças..
inspirador

Sheron disse...

Que texto lindo!!!

Isso que é uma declaração de amor!!! Vou mostrar este texto para o meu namorado uahuauahua... brincadeirinha, ele é um fofo tb!

Marina disse...

Palavras? Pra quê, se você já disse todas?

Lindo, Rob.

Bia disse...

Seria piegas se eu dissesse que "Você faz parte da minha vida desde antes de eu conhecer você." foi uma das frases mais bonitas e sinceras que ouvi nos últimos tempos? Talvez, mas acho que é o meu momento... deixa pra lá! Parabéns!!!

Lari Bohnenberger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
 

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