5 de novembro de 2009

Anos Depois

Anos depois, ela acordou e percebeu que ele não estava ali.

Anos depois, ela ainda se lembrava dos momentos de criança.

Do sorriso de moleque dele, da forma com que ela fazia gargalhar, das piadas cochichadas em segredo no meio de uma festa. E sabia que jamais esqueceria o brilho que olhar dele assumia quando estava pensando em alguma bobagem para falar sobre algo que estavam conversando.

Anos depois, ela descobriu que se lembrava dos momentos de adulto.

De sonharem com uma casa afastada de tudo e de todos, com um quintal. Da força do corpo dele sobre o dela, do cheiro dele. Das brigas que terminavam em sexo. E sabia que jamais esqueceria o jeito que ele a beijava, que dava sempre a impressão de ser a última vez. Ou a primeira vez, tanto faz.

Anos depois, ela notou, um dia, que se lembrava de diversos momentos.

Dos passeios de mãos dadas em tardes ensolaradas, de correrem para escapar da chuva em noites de tempestade. Da forma com que ele mexia em seus cabelos, do jeito que ele procurava tranqüilizá-la quando as coisas estavam erradas, do jeito que segurava sua mão, para nunca mais largar.

Anos depois, ela se sentou na cama e soube que ainda estava pensando.

E compreendeu que faria tudo diferente. Teria discutido menos e conversado mais. Teria tentado compreender as atitudes dele. Teria dado mais valor para cada abraço, para cada “calma” e cada “vem”. Teria sido menos ela, mas, ao mesmo tempo, teria sido mais ela. Teria confiado mais nele. Nela. Neles.

Anos depois, ela se levantou sabendo que havia vivido menos e mais do que gostaria.

Já havia amado e sido amada, já havia gritado e chorado, suspirado e gemido, de dor e de prazer. Já havia se apaixonado pelas pessoas erradas, desapaixonado das certas. Já havia lido, assistido, ouvido, experimentado, bebido. Já havia explodido, já havia implodido, já havia sido vento e calmaria.

Anos depois, ela soube que havia vivido tudo isso sem ele.

E, de repente, os amores, os gritos e choros, os suspiros e gemidos perderam um pouco do valor. Todos os livros, filmes, músicas e bebidas pareciam, nesse minuto, ter um pouco menos de sabor. E, as explosões se tornaram mais fracas, as implosões mais fortes, o vento parou de soprar e a calmaria, finalmente, adormeceu.

Ela ainda o amava.

Mas isso só aconteceu anos depois. E ele nunca soube disso

6 leitores:

Climão Tahiti disse...

Triste.

Mas uma realidade.

Tyler Bazz disse...

coitado.

Unknown disse...

De alguma forma peculiar, isto acaba acontecendo com todos nós. Um dia, a gente percebe q a pessoa que seria ideal, passou pela gente, mas que os efeitos que teriam de ter surtido, acabaram não se concretizando pelo simples fato de não terem acontecido de fato. Pelo menos não com a pessoa IDEAL.

É aí que entra a grande discussão entre “pessoa CERTA” e pessoa “IDEAL”. No final do filme (filme = a vida – não no final dela, mas no final da jornada da “procura” e tal – ah, vc entendeu!) a gente tem q escolher se fica com a pessoa certa e não com a ideal. A pessoa certa tem defeitos que a gente não gosta, tem coisas que nos irritam, tem a unha do mindinho torta, tem cárie no dente da frente, mas é a pessoa certa. A pessoa ideal não tem nada disso. Ela é ideal (daí a vertente do adjetivo “idealizada”). Mas não é a certa.

Bem-aventurado é aquele que consegue unir as duas coisas.

Eu conheço muito mais gente que chega no fim (da jornada, da vida, do filme...ah, vc entendeu!) e percebe exatamente isso. Viveu todas as coisas legais com as pessoas certas. E a pessoa ideal se perde nas lembranças, que nunca existiram.

Aí a gente se pergunta: Existe pessoa ideal?

Teu texto responde isso.

Só não existe pessoa certa.

Anônimo disse...

Que texto...

Relacionamento de 12 anos, acabou.

Ainda o amo. E realmente espero viver muita coisa sem ele...
Apesar da porta ainda estar aberta.

Anônimo disse...

Nossa! Revivi uma "saudade"...sem mais o que citar!
#beijojávou

Anônimo disse...

Bravamente luto contra este bem dito um dia chamado amor. Vivo minha amada, linda mulher e hoje qualquer dia, filho querido mas vejo olhares distantes, as vezes o meu no meu passado, no nosso, devido ao mesmo passado que disse antes. Luto pelo "Eu te amo" todos os dias que pra ela são tentativas e pra mim já nosso sucesso! De material nada quero mas o mais real é o irreal que todos dizem ou abstrato: o coração das histórias felizes. Esse que eu quero.

G...

 

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