– Alô?
– Estela?
– Sim, quem está falando?
– Sou eu, Paulo.
– Paulo? Aconteceu alguma coisa?
– Não, eu precisava apenas tirar uma dúvida com você.
– Pelo amor de Deus, Paulo! São quase três da manhã!
– Sério? Desculpe, não percebi que era tão tarde. Você estava dormindo?
– Evidente que sim!
– Desculpe. Bom, agora que você acordou, pode me ajudar com algo?
– O quê?
– O que você prefere? Meu strogonoff ou meu pintado na brasa?
– Oi?
– Você sempre elogiou os dois, quando éramos casados. Mas qual deles é mais gostoso?
– Paulo, você enlouqueceu?
– É importante, Estela. Estou pensando nisso há meia hora. Você elogiava o strogonoff porque ele era realmente bom, ou porque sempre foi seu prato favorito?
– Porque ele é bom, Paulo. Posso ir dormir?
– Mas ele é bom mesmo? Melhor que o pintado na brasa?
– Paulo, você está bêbado?
– Não, claro que não. Mas eu preciso saber. É importante.
– Paulo, seu strognoff é um dos melhores que eu já comi.
– Um dos melhores? Como assim? Um dos três melhores? Um dos dez melhores?
– É, Paulo. Isso.
– Isso, qual? Três ou dez?
– Três. Um dos três melhores.
– E o pintado?
– É o melhor que comi na vida. Satisfeito?
– Então, o pintado é melhor.
– É. É melhor. Boa noite.
– É o melhor que você comeu na vida?
– É, Paulo!
– Estela, quantas vezes você comeu pintado na brasa de outra pessoa?
– Sei lá. Paulo, amanhã eu acordo as sete...
– Pode ser em restaurante. Quantas vezes?
– Não sei, Paulo. Não podemos falar disso amanhã?
– Não, preciso saber agora. Quantas vezes você comeu?
– Não me lembro, Paulo. Acho que nenhuma, não sei.
– Então não vale! Você não tem nada para comparar. Meu pintado na brasa pode ser horroroso.
– Paulo...
– Mas de strogonoff, você sempre gostou! O meu é bom mesmo?
– É, Paulo. É.
– Tanto faz se com ou sem batata palha?
– Não, Paulo, strogonoff sem batata palha não funciona. Deus do céu, não acredito que estou discutindo isso. Paulo, eu vou dormir. Boa noite.
– Espera! É importante!
– Paulo, posso saber porque você precisa saber disso?
– Eu terminei o namoro com a Laura.
– Mesmo?
– Sim. Faz alguns dias já.
– Sinto muito.
– Não tem problema. Na verdade, foi melhor assim. Ela disse que tinha criado expectativas altas demais a meu respeito.
– Puxa...
– Mas eu não quero ficar sozinho. Acho que fiquei mal acostumado com você. Doze anos de casamento, você sabe. Não gosto da casa vazia.
– Você está saindo com alguém?
– Não. É justamente por isso que liguei. Estou montando meu currículo de namorado. Para as pessoas saberem exatamente no que eu sou bom e no que não sou. Por exemplo, a Laura brigava comigo por eu não saber consertar vazamentos. Eu nunca soube! Não sei de onde ela tirou essa idéia!
– Paulo...
– Então vou imprimir esse currículo. Toda vez que eu encontrar uma mulher interessante, vou entregar uma cópia a ela. E tem tudo ali, telefone de contato, e-mail. E coloquei seu celular, como referência. Espero que não se importe.
– Você tem certeza de que não está bêbado?
– Claro. Pode ver no meu currículo, se quiser. Está lá: bebo socialmente. Eu sei, eu sei! Você está pensando naquele churrasco na casa do seu pai. Estela, aquilo foi um acidente! Era Copa do Mundo! Jogo do Brasil, aquela loucura toda! Foi um acidente!
– Tudo bem, Paulo.
– Você me ajuda, então?
– Outra hora. Agora, eu realmente preciso dormir.
– Ok. Vou de strogonoff mesmo.
– Tudo bem.
– Estela, posso perguntar uma coisa?
– Paulo, eu preciso dormir.
– Por favor? É importante.
– Diga.
– Como você classifica o meu desempenho trocando lâmpadas? Ruim, regular, eficiente, bom ou profissional?
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8 leitores:
por que eu lembrei de novo do High Fidelity aqui? ahahha
top 5 biggest breakups, Rob!
e sou eu, Otaviocohen, com preguiça de entrar na outra conta de gmail.
Cara, eu sou totalmente avesso a babar ovo pra quem quer que seja. Portanto, acredite no que vou dizer: há muito tempo não leio coisa tão boa quanto suas crônicas.
Pra alguma coisa esse twitter me serviu.
essa estela é uma santa!
sabe que se eu tivesse ligado para as exs do meu ex talvez não tivesse casado com ele?
agora já era.
Tirando a parte doente da coisa, a ideia nao é tao ruim. Acho que vou aderir.
NÃO!
Rob, essa ex-mulher não existe. Nem eu que sou uma lesa conseguiria ser assim. POde perguntar ao meu ex-marido!
Layla Barlavento
http://culpadowalter.blogspot.com
HAISUDASIDU
Muito muito bom. no começo me lembrou um outro texto seu que eu não me lembro o nome.. muito bom mesmo.
HAISUDASIDU
Muito muito bom. no começo me lembrou um outro texto seu que eu não me lembro o nome.. muito bom mesmo.
Ele tem uma ex-mulher bem tolerante. Eu com sono conheço mais palavrões que eu totalmente acordada.
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