Como fazia em todos os domingos, Roberto acordou, colocou uma roupa e saiu de casa. Foi até uma das maiores avenidas da cidade e almoçou olhando as pessoas ao seu redor. Casais de namorados, famílias, pessoas falando no celular. Ninguém reparava nele. Comeu em silêncio, numa mesa no canto – existem pessoas que, mesmo quando estão numa mesa do centro, se sentem como se estivessem numa mesa do canto – e bebeu seu suco, ainda em silêncio, observando um casal que conversava animadamente em uma das mesas.
Terminou seu almoço e entrou numa livraria. Fingia que folheava os livros, mas observava os outros clientes. Gostava de ver o que eles estavam lendo, que livros carregavam. Em um dos corredores, duas meninas discutiam se determinado livro era bom. Roberto havia lido o livro. Pensou em se aproximar delas para dar sua opinião, mas não teve coragem. Tempo para isso houve: elas ficaram quase cinco minutos ao seu lado, tempo suficiente para descobrir que uma delas se chamava Ana Flávia e a outra namorava alguém chamado Eduardo. Depois disso, foram embora.
Sem comprar nada na livraria, Roberto decidiu ir ao cinema. Entrou na primeira sessão, sem nem escolher o filme. Pelo pôster, tratava-se de um filme de terror. Sentou-se num canto da sala e, como de costume, mal assistiu ao filme. Ficou discretamente observando as pessoas ao seu redor, imaginando quem elas seriam e como seriam suas vidas. Às vezes, uma cena lhe chamava a atenção no filme, mas ele estava mais interessado na reação da platéia. Gostava de ver quais pessoas sentiam medo, quais davam risadas no cinema. E ficava tentando adivinhar quais casais de namorados ainda estavam apaixonados, e quais o tempo já tinha feito com que se acostumassem à presença do outro.
Quando as luzes se acenderam, ficou sentado, observando as demais pessoas saírem. Foi o último a sair da sala. Encostou-se ao balcão de um café e pediu um chocolate quente. Ao seu lado, um senhor, já de idade, falava no celular, com a filha, que estava viajando. O nome dela era Lúcia, e ela deveria voltar na terça-feira, mas o pai não poderia buscá-la no aeroporto. Terminou o chocolate quente, mas não arredou pé dali. Ficou ouvindo o final da conversa do homem ao lado, até que um dos atendentes veio perguntar se ele desejava mais alguma coisa.
Roberto olhou para ele e teve vontade de perguntar onde ele morava e se gostava de trabalhar ali. Mas lhe faltou coragem. Agradeceu e foi embora, em direção a sua casa. Abriu a porta do apartamento e o Sol já havia se escondido. Foi até a janela da sala, e ficou olhando os carros que passavam em sua rua. Famílias. Casais. Pessoas sozinhas. Estavam indo encontrar alguém? Por que estavam sozinhas? Onde estavam indo? Sua atenção foi distraída pelo som de risadas, vindo do apartamento acima do seu. Duas pessoas conversavam na janela, mas Roberto não conseguiu entender sobre o que falavam.
A noite já havia caído completamente. Fez um sanduíche de presunto, e comeu, frio mesmo. Bebeu um copo de água. Tirou a roupa, tomou uma chuveirada rápida e colocou o pijama. Deitou-se em sua cama e ficou prestando atenção no barulho dos carros, até adormecer.
Dez minutos depois que caiu no sono, começou a chover. Mas isso ele não viu – estava ocupado demais, sonhando que tinha alguém com quem conversar. E, como acontecia em todos os domingos, sonhou isso até amanhecer.
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7 leitores:
só de pensar que tem dias q minha vida é bem assim...
estava ocupado demais, sonhando que tinha alguém com quem conversar
Tem mais gente assim no mundo?
esse período de solidão e desencontro é horroso, ainda bem que bestas feras existem..
E mal sabia ele que nós estávamos aqui assistindo à sua vida passar...
Talvez ele saiba, Varotto. Talvez ele saiba.
Me identifiquei muito com esta crônica, Rob. Parabéns pelo texto sensível. Vou passar e ler mais o Chronicles, pois, por enquanto, tenho hábito de ler somente o Champ. Hábito não, compulsão.
Ass: Felipe Lima
Adorei o blog... E vou voltar.=)
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