5 de abril de 2009

Fragmentos

Foi até a varanda e observou a chuva,
esperando pelo telefone tocar.
Horas depois, a chuva passou
e ele continuava ali, quieto, esperando.

Ficou parada, em frente ao prédio dele, por horas.
Quando ele saiu, escondeu-se atrás de um carro.
Um dia, criaria coragem.
Um dia.

Durante uma hora, pensou no que iria dizer.
Ensaiou o discurso, falando sozinho.
Quando ela chegou, esqueceu tudo
e conseguiu apenas sorrir.

De madrugada, o palhaço sem maquiagem
andava anônimo pelas ruas da cidade,
procurando algo que o fizesse rir.
Ou, ao menos, sorrir.

Escreveu o texto e colocou na internet.
Dezenas de comentários, elogios e convites
para publicação. Mas ela sabia que
ele não tinha lido.

Acordou disposto a mudar tudo.
Nunca mais choraria por ela.
Levantou-se e foi pro banho.
Chorou no chuveiro.
Pelo menos, ninguém viu.

Um dia, criou um perfil falso no Orkut,
com livros, filmes e fotos das férias de outras pessoas.
Nunca mais acessou o perfil antigo.

Ligou o rádio e deu de cara com aquela música.
Sentiu-se até enjoado, de tanta saudade e raiva.
Mas esperou pelo refrão antes de desligar.

Depois de meses de insistência, ela aceitou sair com ele.
Mas justo num dia em que ele não podia.
Dois meses depois, ela se casou com o ex.

E quem poderia imaginar
que a primeira briga feia deles
aconteceu porque ela não quis que
o filho tivesse o nome do pai dele?

Depois do adeus, ele começou
a procurar a Bel em todas as mulheres.
Um dia se reencontrarão,
e ele verá que a Bel nem era tão Bel assim.

A única vez que o telefone
tocou no dia inteiro, foi engano.
E ele se arrependeu de não ter
tentado conversar com a pessoa.

Tinha uma mania:
só oficializava o namoro quando
o primeiro filme que haviam visto
nos cinemas saía em vídeo.
“Antes disso, jamais”, dizia.

Conheceram-se pelo Twitter.
Mas, apesar de apaixonados,
o namoro não foi longe.
Suas conversas eram curtas demais.

Todos os dias, ia ao trabalho pela mesma rua.
Um dia, resolveu mudar e fez outro caminho,
deixando de conhecer a mulher da sua vida.


Post em homenagem aos amigos do Twitter. Todos os textos têm, no máximo, 140 caracteres.

11 leitores:

Flavita Valsani disse...

Arasou Rob!

ps: tive que usar meu perfil do blogger pra comentar. É a Flavita. Ahahahahaha!

Varotto disse...

Cara! Fragmentos geniais!

Às vezes as partes são mais do que o todo.

Fábio Melo disse...

Autobiográficos?

=P

Anônimo disse...

Buchecha:

Alguns, definitivamente, sim.

Anônimo disse...

uia, se você não sabe, isso se chamam nanocontos, adorei. E eu adoro escrever nanocontos.

Otavio Cohen disse...

RT @otaviocohen - @robgordon_sp sensacional.

Felipe Lima disse...

Isso que é poder de concisão. Pequenos grandes textos!!

Tyler Bazz disse...

Um melhor que o outro!
E uns, só pra constar, poderiam abrir capítulos da minha biografia hehehe
(e da sua)
(e de mais gente)

Gilmar Gomes disse...

agora, finalmente entendo o Twitter...

Marina disse...

Deu vontade de twittar todos. Ô, vício mais besta, viu? Abraço!

Otavio Cohen disse...

to sentindo falta de coisa nova aqui hehe. vc tb, eu sei.

 

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