3 de fevereiro de 2007

Minhas Mulheres de A a Z - Parte II

Danielle, a Palmeirense
Todo homem sonha em encontrar uma mulher que goste de futebol. Pelo menos, até conhecer a Danielle. Palmeirense roxa. Apaixonada mesmo, de ir a todos os jogos no Parque Antarctica, sempre com o avô, fanático como ela. “Meu sonho é ver a gente ganhar do Boca, na Libertadores. E ganhar lá!”, ela dizia, sempre berrando a última frase. E pior que entendia da coisa. Sabia a escalação de pelo menos umas três formações do Palmeiras desde a década de 70; e não se conformava com o fato de que alguns jornalistas escalavam o Edmundo na ponta-direita do Palmeiras de todos os tempos, deixando o Julinho Botelho de fora. O problema é que entendia mais de futebol que eu. “Seu time perdeu porque não sabe jogar com dois volantes” e “Amor, a regra do impedimento passivo não se aplica neste caso” eram frases comuns, que me faziam questionar quem era o homem da relação. Chegamos ao cúmulo de eu ter que ir à cozinha preparar sanduíches enquanto ela ficava na sala, assistindo à semifinal do Paulista com meus amigos. Mas a gota d’água foi quando, no meio de uma violenta discussão que tivemos, ela gritou: “Você é um frouxo! Homem de verdade era o Luiz Pereira, que não deixava passar nada lá na zaga!”. No dia seguinte, arrumei minhas coisas e fui embora, antes que eu fosse, literalmente, rebaixado. Competir com o Luiz Pereira não é para qualquer um.

Elaine, a Indecisa
Se houvesse uma faculdade de indecisão, Elaine seria o nome do centro acadêmico. Tímida, não conseguia tomar uma decisão sozinha. Era indecisa até mesmo na aparência. Não era nem alta, nem baixa; nem gorda, nem magra; nem linda; nem horrorosa; seus cabelos castanhos e cacheados não eram nem pretos, nem loiros; nem lisos, nem encaracolados. O grande problema da Elaine é que eu quem tinha que decidir tudo. Se ela falasse que queria ir ao cinema, eu tinha que escolher o filme rápido, antes dela sugerir: “ou a gente fica em casa e aluga um filme?”. Se ela quisesse comer uma pizza, eu tinha que ligar para a pizzaria antes que ela falasse “será que não vai ser melhor pedirmos comida chinesa?” A única vez que ela decidiu algo sozinha foi quando seus pais estavam viajando e ela resolveu pintar seu quarto. Acabou ficando famosa no bairro porque era a única garota que tinha um quarto com paredes brancas e azuis, porque não conseguia escolher qual cor gostava mais. Acabamos nos separando alguns meses atrás, porque cismou que não tinha mais certeza se eu era o que ela queria, e não estava certa de que conseguiria decidir isso naquele momento. Outro dia encontrei uma amiga dela, que me disse que ela ainda está pensando se me liga ou não.

Fabíola, a Proibida
Tudo que é proibido é mais gostoso. Foi o caso da Fabíola. Ela era uma garota comum, sem não nada de especial – exceto pelo fato de que era irmã do Jonas, o aluno mais temido da escola: ninguém sabia sua idade, mas ele devia estar pelo menos há uns três anos no terceiro colegial. Algumas lendas, inclusive, diziam que ele tinha afogado no banheiro um menino da oitava série que havia beijado sua irmã, e, para sumir com as provas, devorou o corpo do garoto. Incluindo os tênis e a mochila. Eu conheci a Fabíola numa festa e passamos a noite inteira conversando. Começamos a namorar. O problema é que, para sairmos, ela tinha que inventar milhões de desculpas e mentiras para evitar que o Jonas me trucidasse na escola. Ou seja, eu estava apenas no primeiro colegial e já vivia o drama de ser um amante. Nossos encontros eram no cinema – nos encontrávamos sempre dentro da sala, já com as luzes apagadas – ou numa lanchonete do outro lado do bairro. Aos poucos, a excitação do proibido foi substituída pela idéia obsessiva de que, em qualquer momento, Jonas ia me acertar com uma pedrada na cabeça. Até o dia em que, num campeonato, minha classe jogou contra a dele. Eu já entrei em campo esperando pelo pior. E, obviamente, a teoria do deus ex-machina não se aplica a uma semifinal de futebol de salão. Na primeira dividida, Jonas, com sua classe e delicadeza habituais, me jogou para fora da quadra com uma joelhada. Quando me recompus, ele disse sorrindo: “O jogo ainda não acabou, babaca”. Na mesma hora pedi para ser substituído e, no mesmo dia, terminei o namoro. Covarde? É, pode ser. Mas você fala isso porque não conheceu o Jonas.

2 leitores:

Mariliza Silva disse...

Daria para fazer um programa legal sobre seus relacionamentos, tipo "everybody hates Chris" com você narrando, uauu!!! Seria legal demais. Até vejo seu programa passando depois do Fantastico...ia salvar o domingo!

Parabéns, cara! Alegrou meu sábado que estou cheia de falta de imaginação...eita!!!

Beijão e some não

Mariliza

Eduardo Vilar disse...

Po, nunca quis uma namorada que gostasse de futebol, eu não torço pra ninguém. Ia me sentir mais a ainda a mulher da relação ehauahe
Ta muito boa essa série, to curioso pelas pelas próximas letras
abraços

 

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