31 de janeiro de 2007

Minhas Mulheres de A a Z - Parte I

Adriana, a Anarquista
Morava sozinha e estudava filosofia na USP. Tinha uns três anos a mais que eu, mas não admitia isso de jeito nenhum, alegando que “se preocupar com idade é coisa de burguês”. Nosso principal programa era assistir aos filmes feitos em qualquer país do leste europeu que estivessem passando no Espaço Unibanco. Poderia ser tanto um filme indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro como um documentário sobre a literatura alternativa na Ucrânia nos anos 80. Mas o que ela gostava mesmo era de se enfiar nos bares do Bixiga, beber vodca e ficar falando mal dos Estados Unidos. Às vezes, bebia demais e, para meu desespero, saía pelo bar falando que havia sido uma das precursoras do movimento punk no Brasil e que todas as outras pessoas bebendo ali eram porcos reacionários. Acabamos indo um para cada lado, curiosamente sem brigas ou traumas – porque provavelmente brigas de namorados era coisa de burguês – mas, até hoje, quando vejo alguma manifestação na TV, como greve dos professores ou passeatas de funcionários públicos, fico prestando atenção, porque tenho certeza de que a Adriana está lá no meio. Tenho certeza.

Beatriz, a Louca
Aquele que nunca teve uma mulher meio louca que atire a primeira pedra. E eu, particularmente, sempre tive uma queda por elas, talvez porque eu nunca sei o que elas vão fazer no minuto seguinte. Mas a Beatriz era aquele tipo diferente de louca, era a “louca-que-sabe-que-é-louca-e-gosta-disso”. O humor dela parecia uma montanha russa. Em alguns dias, me ligava e dizia apenas “amo você”, antes de desligar na minha cara. Em outros, mandava e-mails com textos gigantescos e depressivos sobre como ela se sentia insegura em relação ao que sentia por mim e sobre como se enxergava como pessoa. E sempre assinava apenas “B”, como se fosse uma personagem de um livro russo do século 19. O bom é que suas mudanças de humor se refletiam na cama: às vezes parecia uma menininha, às vezes parecia um mulherão. Sempre dependia do humor. Eu vivia o sonho de qualquer homem: tinha um verdadeiro harém de 20 ou 30 mulheres, todas condensadas em “B”; cada noite eu ia para a cama com uma mulher diferente e, o que é melhor, sem correr o risco de apanhar em casa. Mas resolvi pular fora no dia em que ela me mandou um e-mail gigantesco, com páginas e mais páginas, onde ela copiava trechos de Crime e Castigo, do Alcorão, tudo temperado com frases desconexas das músicas do Raul Seixas e encerrando com a frase "a morte é doce é certa". E, no final, apenas... “B”.

Carolina, a “Igual ao Doce"
Fazia o tipo menininha. Toda vez que ela se apresentava para alguém, dizia sorrindo: “Carolina. Igual ao doce”. Impossível não se apaixonar por ela já nesta frase. E foi o que aconteceu comigo. Ela me deu uma foto, onde estava num quarto repleto de bichos de pelúcia, sorrindo. Sorriso de menininha. Mas, de menininha mesmo, tinha apenas isso: o sorriso. Pulei a janela dela várias vezes, sempre de madrugada, sempre sem ninguém saber, sempre me borrando de medo do pai, um coronel reformado, me pegar ali, deitado na cama dela seminu e sob o olhar reprovador de um gigantesco Pluto de pelúcia, que ficava num canto do quarto. Acabou me trocando por um cara mais velho, que andava de moto e depois de um ano e pouco fugiu com ele, acho que para Londres. Ouvi dizer que o pai enlouqueceu com isso e que a mãe quase enfartou quando, revirando as coisas dela, descobriram, atrás do Pluto, uma lingerie preta e uma garrafa de tequila. Vazia. Carolina, como o doce? Sei, sei...

1 leitores:

Mariliza Silva disse...

Oh loco!!! Vc já tá em qual letra??? Achou alguma Zelda na sua vida?

Cara, se repeti letra, é concorrência desleal, heim!!!rsrsrsrs

Hummm... das 3 teria como colega a Carolina, amiga a Adriana e Consultora para assuntos aleatórios e vingativos, a B!!!!

Beijão e some não

Mariliza

 

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