Nunca imaginei que um dia eu chegaria ao final da primeira fase de uma Copa do Mundo fazendo contas. Era uma ideia que parecia totalmente irreal para mim. Fazer contas na primeira fase era algo relegado aos torcedores de Nigéria, Rússia, Estados Unidos. Mas como eu era brasileiro, acreditava que todas as primeiras fases de todas as Copas do Mundo se resumiam a duas vitórias, classificação e um terceiro jogo mais relaxado, com vitória ou empate que garantiam o primeiro lugar do grupo.
Isso, claro, até o zero a zero com o México. Com quatro
pontos, o Brasil tinha grandes chances de sair como primeiro do grupo, mas
tinha chances também de ser eliminado. Certo, eram chances pequenas, mas como
eu sou naturalmente pessimista em Copas do Mundo, a probabilidade do Brasil
sair da Copa crescia a cada dia. Li em algum lugar que as chances do Brasil ser
eliminado eram de menos de 10% - mas, dentro da minha cabeça, elas ficavam
entre 30% e 40% - e subiam para uns 70% quando eu pensava na bola que o time
vinha jogando.
Já as chances da Débora aparecer no bar, de acordo com meu
cálculo, giravam em torno de -15%.
Talvez tenha sido a preocupação sobre a classificação do
Brasil que me deixou pessimista a respeito de tudo. Assim, se eu voltei para
casa depois do México fora de mim pelo fato da Débora estar no bar, no dia
seguinte eu já acreditava que nunca mais a veria novamente, que ela estar no
bar fora apenas uma coincidência.
Uns três dias depois, eu comecei a desconfiar que não fosse
coincidência, apenas um joguinho dela. Aparecia no bar, estudava a minha reação
e passava o resto do tempo com o namorado – provavelmente rindo secretamente de
mim.
Mas, no dia do jogo contra Camarões, eu já não tinha mais
certeza se ela havia realmente estado no bar durante os dois jogos. Quando eu
tentava me lembrar dela ali, as imagens apareciam meio embaçadas, quase
irreais, na minha mente, como se fossem lembranças de um sonho, ou algo que
tivesse acontecido anos e anos atrás.
Mas aí eu lembrava também das defesas do goleiro do México,
pensava que tínhamos apenas quatro pontos, começava a fazer novas contas sobre
a classificação do Brasil e jurava para mim mesmo que não iria a bar algum,
iria assistir ao jogo em casa.
E estava determinado a manter minha promessa até a metade do
jogo da Holanda, quando o Batata apareceu na minha casa. Fazia três dias que eu
não tinha notícias dele e ele me explicou que havia passado os últimos dois
dias junto com uns gregos que vieram assistir a Copa.
A história era bem a cara do Batata – era confusa a ponto de
não ficar claro o que havia acontecido antes e o que havia acontecido depois –
mas deu para entender que o Batata havia se tornado amigo dos gregos até cismar
que estava apaixonado por uma grega – que ele não lembrava agora se chamava
Bernice ou Bernicia. Claro que ele foi falar com a menina. Claro que o namorado
da menina estava por perto. Claro que o Batata estava bêbado. Claro que quase
deu quebra-pau. Claro que agora os gregos estavam atrás dele.
- E eles sabem onde eu moro.
- Eles sabem onde você mora?
- Sim. Quando eu comecei a beber demais, escrevi meu
endereço num papel e dei para os gregos e falei que se eu passasse mal, era
para me colocar num táxi.
- Bom, mas a gente pode ver o jogo aqui.
- Então, mas o endereço que os gregos têm é o seu.
- Como?
- Eu não dei meu endereço. Dei o seu. Falei que morava aqui.
- Você é louco?
- Se eu ficasse bêbado a ponto de ser mandado para casa de
táxi, é porque eu não podia ficar sozinho. Então, pensei que se desse merda,
era melhor vir para cá.
- E agora os gregos devem estar aí embaixo?
- Não, eles não conhecem a cidade. Não vão achar esse lugar
aqui fácil.
- Mas eles não precisam conhecer a cidade! Precisam só dar o
papel para um taxista!
- Ah, é.
- Quantos gregos são?
- Uns quinze.
Olhei pela janela e não vi grego nenhum na rua, só três
chilenos. Eu não achava que fosse acontecer algo – provavelmente, os gregos
estavam mais bêbados que o Batata – mas era melhor tirar o Batata dali. E eu
não ia deixar ele sozinho. Resultado? Quinze minutos depois, estávamos andando
em direção ao bar. O Batata contando sobre a Bernice (ou Bernicia), falando dos
olhos verdes dela, do jeito que ela falava o nome dele (algo como “Bát-Tah”,
segundo ele) e do cheiro dela que estava sempre doce.
E eu fingia que estava prestando atenção e olhava para os
lados com medo dos quinze de Esparta aparecem de surpresa ali na rua.
Mas chegamos ao bar faltando pouco menos de uma hora para o
jogo do Brasil. Sentamos e pedimos duas cervejas. Enquanto o Batata continuava
falando da grega, eu comecei a prestar atenção na televisão e vi jornalistas
esportivos escolhendo se era melhor o Brasil pegar ou o Chile ou a Holanda.
Alguns queriam o primeiro, por ser mais fraco; outros preferiam a Holanda, por
ser um desafio maior e que poderia fazer o time engrenar.
Eu queria pegar uma marreta e destruir a TV gritando que
“Calem a boca! Nós não estamos classificados!”, mas deixei para lá e comecei a
olhar ao redor, no bar, olhando os torcedores chegando. A maior parte das
camisas, como nos outros dias, era do Brasil. Mas de vez em quando apareciam
camisas do México, da Colômbia, dos Estados Unidos. Eu olhava para todos os
lados distraidamente, tentando o tempo inteiro me convencer de que não estava
procurando pela Débora.
Talvez eu tivesse acreditado em mim mesmo, mas apenas caso
fosse preciso procurar pela Débora. Ela
estava lá, do outro lado da rua. Estava de costas para mim, mas eu não
precisava ver o rosto da Débora para saber que era ela. Na verdade, eu acho que
nem precisaria olhar na direção da Débora para saber que ela estava perto de
mim – e a prova disso é que, de alguma forma, eu sentia que a Débora estava por
perto desde a hora que cheguei ao bar, mas estava tentando ignorar esse
pressentimento para ver se ele desaparecia da minha cabeça.
Mas, como sempre, o pressentimento estava certo. Lá estava
ela com o namorado. Estavam encostados num carro; ela de costas para o bar e
ele de frente para ela. Ambos vestiam camisas do Brasil, mas não pareciam estar
muito preocupados com o jogo, já que aparentemente as coisas não estavam boas
entre eles. Era impossível ouvir o que eles falavam, mas o sujeito gesticulava
nervosamente. Às vezes era interrompido pela Débora, mas parecia ficar ainda
mais nervoso com isso, e começava a falar e a gesticular ainda mais. Às vezes, olhava
para o lado e fingia que não estava ali enquanto ela falava. Às vezes, passava
a mão pelos cabelos nervosamente, e começa a falar com ela.
Escondido dentro do bar, eu observava tudo atentamente.
Foram os primeiros minutos do meu dia que eu consegui não pensar no jogo contra
Camarões. E a briga – ou o que parecia ser uma briga – continuou por alguns
minutos, até que a Débora mudou de posição e eu pude ver que ela estava
chorando. E não era aquela choro de “alguém morreu”, ou “o Brasil foi
eliminado”.
Era aquele choro de “briga de namorado”, que vem junto com
raiva e solidão. Eu sei por que já havia chorado assim antes, e também porque
já havia visto a Débora chorar assim.
Abri um sorriso. Não foi um sorriso largo. Aliás, foi quase
imperceptível, mas grande o suficiente para eu me sentir, por um breve
instante, a pior pessoa do mundo. Ou, pelo menos, uma das mais egoístas. Mas
sobre isso eu tenho duas coisas a dizer. Primeiro: no meu lugar você também
teria sorrido; e segundo, eu percebi que estava mais preocupado em não
acreditar que a Débora brigar com o namorado teria algum efeito na minha vida
do que com meu aspecto moral.
Mas uma gritaria no bar afastou toda essa confusão da minha
mente. Brasil e Camarões estavam entrando em campo, e meu estômago se revirou
de nervoso, algo que aumentou ainda mais quando eu vi a escalação do time. Era
o mesmo das outras duas partidas. Será que ninguém percebia que o Brasil não
tinha meio de campo? Só eu conseguia enxergar que a lateral direita era uma
avenida? Até quando o Felipão ia insistir com esse time? A Débora não se tocava
que aquele sujeito provavelmente era um idiota? Ninguém mais via que o Brasil
não tinha saída de bola?
Enquanto anunciavam a escalação de Camarões, corri os olhos
rapidamente pela tela em busca do nome Eto’o no time titular. Não vi nada e
respirei aliviado. Olhei para o outro lado da rua e a Débora e o namorado também
não estavam mais lá, e respirei aliviado de novo. Eu não queria ter que dividir
minha atenção entre o jogo e a briga deles – e se eles continuassem ali,
fatalmente eu manteria um olho na TV e outro olho neles. E o jogo valia vaga,
eu precisava dos meus dois olhos na tela. Isso sem falar no meu coração, que a
esta altura já queria atravessar a rua correndo e ficar escondido atrás do
carro para descobrir qual o motivo da briga.
Mas a briga mesmo estava começando na televisão, quando o
juiz apitou. O começo do jogo foi truncado. Como eu havia imaginado, o Brasil
não tinha meio de campo. A bola ia direto da defesa para o ataque sem nada
acontecer. Aí Camarões atacava, a bola ficava com a nossa defesa, que mandava
direto para o ataque, sem nada acontecer. Com menos de dez minutos de jogo, eu
já estava começando a ficar inconformado.
– Se ferder hofe tá pora?
Olhei para o Batata. Ele estava ao meu lado, com um saco de
salgadinhos na mão. Mas a embalagem estava vazia porque todos os salgadinhos da
saco não estavam mais lá, e sim dentro da sua boca. Aliás, pela quantidade de
farelos no seu rosto e pelo esforço que ele estava fazendo mastigar, ele
parecia estar com todos os salgadinhos do bairro dentro da boca.
– Oi?
– Se ferder hofe. Pudeu?
– Engole essa merda, eu não estou entendendo nada.
Ele fez um esforço para mastigar ainda mais rápido, olhando
o jogo distraidamente. Por um instante, eu invejei o Batata e a sua capacidade
de conseguir assistir a um jogo de Copa do Mundo como uma pessoa que liga a TV
em sua casa e vai fazer outra coisa, apenas dando uma olhadela em direção à
tela. Deve ser mais fácil ver Copa do Mundo assim. E certamente é mais
tranquilo.
– Se o Brasil perder hoje está fora da Copa?
– Não. Depende do jogo do México.
– E se empatar? Aí vai para pênaltis?
–Não, Batata, isso é a primeira fase. Olha, é o seguinte.
Tem que ganhar.
– Mas se empatar...
– É Copa, Batata! Tem que ganhar e pronto!
– Entendi.
Quem também entendeu foi o time. Roubaram a bola perto da
área de Camarões, e ela foi cruzada para a área, onde o Neymar entrou e bateu
de primeira, no canto. O goleiro nem se mexeu, mas eu dei um pulo, berrando e
colocando para fora todo o medo irracional que eu havia sentido nos últimos
dias.
E, de repente, eu me vi tranquilo. De repente, tudo havia
voltado ao normal. De repente, o jogo voltara a ser uma partida de primeira
fase de Copa. De repente, o Brasil iria se classificar com facilidade. De
repente, era apenas um jogo contra Camarões. De repente, eu estava esperando
uma goleada.
De repente Camarões empatou a partida.
O silêncio no bar só não foi total porque alguém gritou um
palavrão do fundo. Eu não consegui falar nada. Estava tão irritado com o fato
de que a defesa inteira ficou olhando a bola, sem fazer nada para impedir o
gol, que não consegui nem esboçar reação. Pelo contrário, fiquei quieto no meu
canto fazendo contas, enquanto o jogo rolava.
Se o Brasil empatasse com Camarões, ele teria cinco pontos e
dois gols de saldo. Se o México ganhasse da Croácia, sairíamos como segundo do
grupo e pegaríamos a Holanda. Mas em Copa do Mundo eu não sou racional, eu sou
pessimista. Assim, comecei automaticamente a fazer contas já pensando na virada
de Camarões. O Brasil teria quatro pontos e um gol de saldo. A Croácia tinha
três pontos e dois gols de saldo. Não terminei a conta porque me senti um pouco
enjoado ao perceber que se a Croácia empatasse com o México, poderíamos estar
fora com a nossa derrota.
Mas não estávamos perdendo. Olhei para a TV e o jogo continuava
1 x 1. O Brasil estava perdendo somente dentro da minha cabeça, da mesma forma
que a Débora só estava terminando o namoro na minha imaginação. Bastou eu me
lembrar da Débora para correr os olhos pelo bar em busca dela, e percebi que
isso estava se tornando um hábito. Aproveitando que ela não estava ali, prometi
para mim mesmo que se eu não pensasse mais na Débora até o final do jogo, o
Brasil iria...
Não terminei a promessa. Quando eu percebi, estava em pé no
bar, gritando “Vai Neymar! Vai! Vai! Bate pro gol! Bate, caralho!” e explodi
junto com o bar num grito de gol vendo a bola morrer no fundo do gol de
Camarões. De pé, pulando, abracei o Batata. Estávamos na frente. Estávamos
classificados. Bastava não fazer merda e estávamos classificados.
E foi assim até o final do primeiro tempo. O Brasil jogando
e eu ali, torcendo para que o time não fizesse nada errado até a hora do
intervalo. E, quando o juiz apitou, eu respirei fundo e, ao soltar o ar,
percebi que mesmo tendo morrido de medo todos esses dias eu não imaginava que
iria sofrer tanto no jogo.
Mas percebi também que já estava procurando pela Débora no
bar. Ela e o namorado não estavam do outro lado da rua. Talvez eles tivessem
ido embora, e me senti um pouco vazio ao perceber que, caso isso tivesse
acontecido, ela não teria me visto no bar. Ela sabia que eu estava no bar por
causa dela. Quer dizer, acho que sabia. Ela sabia que eu estava abrindo mão de
todos os meus hábitos numa Copa do Mundo somente por causa dela. Eu queria
apenas que ela tivesse visto que eu estava ali.
– Quem é Fernandinho?
Olhei para o lado e vi que o Batata estava olhando para a
TV.
– Oi?
– Vai entrar um tal de Fernandinho. Nem sabia que a gente
tinha um jogador chamado Fernandinho.
– Ele vai mexer no time?
– Foi o que falaram aí. Mas vai mexer no time para quê? A
gente está ganhando.
– Batata...
– Sei lá. Meio sem noção isso aí. Só se o cara machucou.
Achei melhor não discutir.
– É. Batata. Deve ser isso.
Assim, começou o segundo tempo – e nada da Débora no bar. O
Brasil entrou com um meio de campo diferente. Saiu Paulinho, que não estava
jogando nada – e nada da Débora no bar – e entrou o Fernandinho. Fiquei
aliviado com o Felipão mexendo no time – e nada da Débora no bar –, mas não
tive tempo de ver se a alteração funcionou. Bola para a direita, cruzamento,
Fred de cabeça. Gol.
Gol. Puta que pariu. 3 x 1. De repente, eu percebi que
iríamos nos classificar e minha vontade não era gritar gol, e sim que o jogo
México X Croácia podia ir para o inferno que a gente não dependia mais do que
acontecesse ali. Mas alguém foi mais rápido que eu e reclamou que “o Fred
estava impedido, esse cara só faz gol impedido”.
Olhei para o lado e vi o autor do comentário. Antes que eu
gritasse que “existe um negócio chamado linha da bola e você é um idiota e não
deveria estar assistindo ao jogo e tire essa camisa amarela oficial porque você
não faz ideia do que essa camisa significa”, vi a Débora sentada num canto.
Estava olhando diretamente para mim. O bar inteiro estava de
pé e ela sentada, com os braços cruzados e os olhos inchados de tanto chorar.
Ao lado dela, o namorado de pé conversava com o autor do comentário sobre
impedimento. Eram amigos. Claro que o boçal tinha que ser amigo do namorado da
Débora.
Voltei os olhos para ela e, de repente, tive a certeza de
que ela não havia assistido ao jogo, mas sim a mim assistido ao jogo. Eu não
desgrudei os olhos da TV e ela não desgrudou os olhos de mim. Tive certeza
disso, mas não fiquei feliz. Talvez tenha sido a cara dela vermelha de tanto
chorar, talvez tenha sido o fato de eu estar aliviado com o placar, talvez
tenha sido qualquer coisa, mas consegui apenas sentir raiva do namorado do dela
por ter brigado com ela num dia de jogo do Brasil.
Para mim, Copa do Mundo é um sofrimento. É algo que eu
espero a cada quatro anos e que faz parte da minha história. Eu não consigo
simplesmente torcer como as outras pessoas, eu quero que ganhe. É algo meu. É
como se o torneio fosse algo pessoal para mim. Não sei lidar com as derrotas e encaro
as vitórias como minhas. Por isso eu sofro tanto. Mas, para as pessoas normais,
Copa do Mundo é uma festa, uma enorme confraternização, um motivo para torcer
junto com os amigos. A Débora era assim. E agora ela estava ali, com a cara
inchada de tanto chorar e eu só conseguia pensar no quanto o namorado dela era
escroto. Porque você precisa ser muito escroto para brigar com o namorado ou
com a namorada num dia de jogo do Brasil, ainda mais no meio de um bar, na
frente dos outros. Você precisa ser muito babaca e infeliz para fazer isso.
Sorri para a Débora. Me esforcei para dizer com meu sorriso
que “não fique assim, logo mais você vai estar bem de novo”, mas tive medo de
dizer apenas que “finalmente o Felipão mexeu no time, você viu?” e me senti o
dono do sorriso mais idiota do mundo. Mas ela não se importou e sorriu de
volta. Não foi um sorriso aberto, de mostrar os dentes, mas foi um sorriso.
Foi um sorriso de quem diz “sim”.
E eu senti um arrepio, mesmo sem fazer do que aquele “sim”
se tratava.
Assim, voltei a olhar para a TV e tentei me concentrar no
jogo. O Brasil era outro time. O Fernandinho havia preenchido um buraco, e
agora o Brasil tinha saída da bola. A bola claramente saía da defesa para ela,
que arredondava a bola para o meio de campo, que carregava para o ataque e eu
olhei para a Débora e ela estava olhando para mim.
De repente, o Brasil começou a ter jogadas de time, e não de
jogadores. E eu me lembrei do que meu pai falava, que todo time campeão passa
por um ajuste na Copa que faz o time engrenar, que havia sido assim em todas as
Copas – “menos na 70”, meu pai fazia questão de dizer – e que era algo que
fazia bem ao time e olhei para a Débora e ela estava olhando para mim.
Mas não era apenas que estava olhando para mim. Durante
diversos momentos do segundo tempo, eu percebi que o namorado da Débora também
olhava na minha direção. E não tinha nada para ele olhar naquele lado além de
mim. E, enquanto a bola começava a girar no meio de campo brasileiro pela
primeira vez na Copa, eu descobri que o motivo da briga entre eles era eu. Ou a
briga havia acontecido por outro motivo qualquer, e eu fui tragado para dentro
dela sem nem saber disso.
O ponto é que agora que eu finalmente havia vencido minha
briga particular com o meio de campo do Brasil, eu estava dentro de outra
briga, sem sequer entender o motivo disso. Bom, na verdade, eu entendia as
razões. Já no final do jogo contra o México o namorado da Débora ficou me
olhando feio. O motivo da briga – ou de estar dentro dela – era claro.
Só que a culpa não era minha. A culpa era do namorado da
Débora, que era um idiota que resolvia brigar com a namorada em dia de jogo de
Copa do Mundo.
Bom, talvez o namorado da Débora também me achasse um
idiota. Aliás, “talvez” não. Muito provavelmente. Mas eu não era idiota. Se
você perguntasse para mim, a prova de que eu não era um idiota era porque o Brasil
começou a jogar bem na Copa do Mundo quando o Felipão mexeu no meio de campo,
algo que eu falava desde o primeiro jogo que devia ser feito. Bem, talvez o
fato de eu relacionar uma mudança no time ao meu caráter me torna ainda mais idiota
que o namorado da Débora, mas ao menos eu sou um idiota que é idiota consigo
mesmo e não com os outros.
Ao menos, eu sou um idiota legal.
E sou um idiota tão legal que comecei a me esforçar para não
olhar mais na direção da Débora, e passei a me concentrar somente no jogo. Pela
primeira vez na Copa, eu vi o Brasil jogar bem. Não foi um futebol de encher os
olhos, mas jogou bem. E o jogo estava com aquela cara de 3 x 1 até que o
Fernandinho – aquele Fernandinho – entrou na área e chutou de biquinho, fazendo
a bola vencer o goleiro de Camarões.
O bar explodiu num grito, mas eu explodi mais que o bar. Aquele
gol não era do Brasil, aquele gol era meu. Aquele gol aconteceu com a mudança
que eu tinha pedido. Aquele gol aconteceu por causa das minhas reclamações.
Aquele gol aconteceu por causa do idiota aqui.
E o idiota aqui aproveitou a euforia do bar para olhar discretamente
para a Débora. Ela não estava mais ali, nem o namorado dela. Haviam ido embora
antes do final do jogo – o que fez o sujeito subir mais uns degraus na minha
escala de idiotice.
Mas a Copa não havia ido embora. Com 4 x 1, estávamos nas
oitavas.
E eu estaria no bar. E a Débora sabia disso.
Eu tinha certeza que a Débora sabia disso. Porque a Débora
podia ter alguns defeitos – e, dentro da minha cabeça, eles eram bem poucos e
bem pequenos – mas a Débora não era idiota. Ao contrário do namorado dela.
E, provavelmente, ao contrário de mim.
Para ler Débora e o Chile, clique aqui.
E, provavelmente, ao contrário de mim.
Para ler Débora e o Chile, clique aqui.
5 leitores:
Cara, eu tenho de te confessar uma coisa: eu leio os parágrafos que falam puramente do jogo quase que em diagonal só para chegar logo nos que falam da Débora. O jogo de verdade, para mim, está ali. Obviamente, isso está um pouco relacionado ao fato de que não sou exatamente um fã de futebol (apesar de não ser um babaca como o namorado dela). Mas talvez mais ainda porque esse tipo de situação (ver ela com um namorado que, invariavelmente, e por definição, é sempre um babaca, principalmente por que ele não é você) ser uma coisa que sempre me traz lembranças doídas.
É engraçado porque como todas as partes que falam do jogo são claramente autobiográficas, nesses momentos eu sempre imagino você como o protagonista. Mas quando o texto vira para o jogo com a Débora, eu sempre me vejo no lugar do protagonista.
Olha lá como você vai terminar isso, hein?!
Como eu ja disse: melhor copa!!! Aaaaah eu sabia que eles iam brigar. :P Rob Gordon, o senhor nao passa de um romantico incorrigivel!!!
Ihhh... O Varotto fez uma proposta indecente? A Ana vai deixar?
Cuidado heim... =D
(se bem que também leio a história de um lado e sua análise do jogo de outro)
Veremos como se a Débora será a Jules Rimet da hitória. =P
Sabia que eles iriam acabar brigando. E eu sou basicamente igual ao Batata vendo um jogo: não sei nada de nada. E que venha o próximo texto!!
Show, meus parabéns. O Batata é demais, quando ele perguntou se o empate levaria aos penaltes eu ri muito. Cara, tomara que o Brasil chegue até a final, para que a historia não termine triste.
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