14 de março de 2013

Os Caminhos de uma Crônica



Abriu o processador de texto e começou a escrever sem rumo algum. Ignorou todas as ideias que estavam guardadas em sua mente e começou a digitar, seguindo seu instinto, vendo quais palavras apareciam no caminho. E assim escreveu em linha reta e observando a paisagem até se encontrar com uma pequena bifurcação.

De um lado, a realidade. Do outro, a ficção.

Enquanto a realidade lhe parecia mais cinzenta, o caminho que levava à ficção aparenta ser mais colorido. Assim, optou pelo segundo caminho e começou a ver suas palavras passearem por mundos inventados, cruzarem caminho com personagens inventados e testemunhando situações que nunca aconteceram de verdade. E foi desta forma que continuou caminhando sobre o teclado, até chegar a um novo desvio.

De um lado, o amor. Do outro, o humor.

Desta vez, precisou refletir. Sabia que o amor só existe de verdade com humor, e que o humor, por sua vez, também se enriquece com a leveza do amor. Sem saber que caminho escolher, confiou na sorte. Pegou a enorme barra de espaço do teclado e atirou-a para cima, vendo-a rodar antes de cair, atingindo o solo no caminho do amor. E pelo amor seguiu com suas palavras, observando personagens de mãos dadas e outros se beijando apaixonadamente – até que encontrou uma nova encruzilhada.

De um lado, o final feliz. Do outro, o final amargo.

Ambos os caminhos lhe pareciam igualmente bonitos – mas sabia que o destino de cada um seria completamente diferente do outro. Olhou para cima e viu que o céu estava azulado e sem nuvens e decidiu pelo final feliz – já que casais separados combinam muito mais com um dia nublado, de preferência com garoa fina e vento frio. Assim, rumo ao final feliz, continuou digitando fingindo para si mesmo que ainda não possuía um rumo – pois sabia que uma das coisas mais gostosas do mundo é fingir que algo bom não está acontecendo para ser surpreendido. E foi surpreendido, sim, com outro desvio.

De um lado, somente narração. Do outro, diálogos.

Sabia que diálogos emprestariam leveza e fôlego ao texto, mas a certeza de caminhar para um final feliz fez com que reunisse coragem para um desafio maior. Assim, optou por deixar os travessões de lado e concentrou-se somente no narrador, na descrição dos ambientes e na força dos sentimentos – que, ele sabia bem, nem sempre precisavam ser falados, apenas sentidos com sinceridade. Já caminhava apressado, quase correndo pelo teclado, sentindo os protagonistas ao lado, controlando-se para que sua própria ansiedade não fizesse com que a história se apressasse.

E relaxou somente quando chegou ao último parágrafo, sentindo o coração disparado de paixão quando viu seus protagonistas se beijando pela primeira vez e eternamente – pois a grande vantagem de textos que terminam com um beijo é que este beijo se torna eterno, já que o leitor não vê nada do que acontece depois.

E, com a sensação de dever cumprido, largou o teclado e respirou fundo. Havia traçado um caminho cheio de decisões, fazendo com que seus personagens descobrissem o rumo da felicidade. Digitou a palavra fim e foi descansar.

No dia seguinte, trilharia outro caminho, com outros desvios, outros mundos, outras decisões. E escreveria uma nova crônica.

2 leitores:

Anônimo disse...

Só faltou uma música de fundo...

George Marques disse...

Excelente! E de certa forma eu me vi nesse texto.

 

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