Sabia-se príncipe.
Residia num palácio dourado, adorado por criados e
reverenciado pelo povo. Experimentava jantares suntuosos e vinhos perfumados,
ouvindo cantigas e poemas que exaltavam seu nome. Adorado pelo povo, era justo e honesto,
cercado de sorrisos e de olhos brilhantes. Caminhava pelas ruas do reino experimentando
a sensação de ser adorado e venerado, sentindo-se admirado, espalhando ondas de
felicidade colorida a cada passo.
Sabia-se príncipe.
Íntegro e correto, e tinha a consciência de que outros
reinos invejavam o seu. Reinos vizinhos almejavam a mesma felicidade que
propiciava ao seu povo, os batentes e janelas de ouro, as paredes brancas e as
ruas limpas. Sabia-se o príncipe das famílias completas e felizes. Escolas
repletas de crianças, ruas repletas de sorrisos, músicas repletas de alegria,
histórias que ecoariam pela eternidade.
Sabia-se príncipe.
Mas somente por se recusar a aceitar o fato de ser pequeno e
mesquinho a ponto de ter perdido família e emprego, de ter destruído sonhos e
sorrisos, de estraçalhar vidas. Entregue à bebida e ao nada, foi para as ruas. Sujo.
Maltrapilho. Anônimo. Cada vez mais agressivo e violento, com feridas e
cicatrizes de batalhas perdidas e tentando curar a loucura da mente com a
loucura do álcool.
Sabia-se príncipe.
Encarcerado dentro da própria realidade e governando um
reino invisível e inexistente. Detestado pelas pessoas, ignorado pela
sociedade, esquecido pelos antigos amigos. E vivia cercado de sujeira e restos
de comida apodrecida, de sacos de lixo revirados com as unhas sujas. Reinando
há anos de dentro de um castelo construído a partir de uma caixa de papelão,
esquecida ao lado do muro da igreja.
Sabia-se príncipe por saber nada.
1 leitores:
E é ao saber-se Príncipe que soube saber seu não-saber...
Fenomenal, Rob!!!
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