Sentado ao lado da janela, ele contou as lágrimas que caíam
do céu inundando a rua de tristeza. Sentiu o cheiro da água que inundou o
espaço entre prédios com poucas luzes acesas e viu o semblante de memórias iluminado
rapidamente por um relâmpago. E fechou os olhos ao som do trovão.
Ela havia voltado.
Seu corpo dançava sobre o dele feito tempestade, mudando de direção
com o vento de sua respiração. Seus olhos precipitaram-se sobre os dele
deixando garoar um sorriso que parecia encharcá-lo sem que ele percebesse. Molhado,
ouviu o sussurro de seu nome num som distante que parecia cair nos telhados
atrapalhando o sono dos vizinhos.
O cheiro de suor invadiu o espaço entre passado e presente,
misturando recordações com desejos. Um relâmpago mostrou a silhueta dela sobre
seu corpo, outro entregou que a sala estava vazia de amor. Com medo, fechou os
olhos e segurou a lembrança pela cintura, pedindo para que aquilo nunca
acabasse – exatamente como havia feito pouco antes de acabar.
Não entendia mais se os raios estavam no mundo ou dentro
dele. A cada facho de luz, era como se pudesse olhar para dentro de si mesmo e
descobrir que a chuva o havia deixado alagado dela. Dela e sua voz que gemia
garoas. Dela e seu corpo que dançava tempestade. Dela e de suas promessas que o
arrastaram feito dilúvio.
E de repente um trovão gritou com dor e saudade o nome dela,
exatamente como havia gritado num passado distante, ao lado da mesma janela.
Gritou seu nome e o pedido de que a chuva fosse para sempre e não durasse
apenas quarenta minutos ou quarenta noites. E, tremendo de frio, encolheu-se
nela apertando-a com força.
E quando seu lábio ofegante roçou a pele delicada dela, o
Sol brilhou.
Abriu os olhos e viu que ela não estava ali. Encolheu-se na poltrona
ao lado da janela, decidido a dormir o resto da madrugada ali mesmo, em busca
de um cheiro há muito desaparecido.
E a chuva continuava a cair.
4 leitores:
Quando uma tempestade do lado de fora consegue fazer eco com a que tá dentro da gente, basta fechar os olhos pra tudo virar uma coisa só.
Belíssima crônica, Rob. <3
Aí, cara... Eu te odeio, Rob...
Pqp.
Ainda hoje, há poucas horas aqui no trabalho, eu estava pensando nesse tema. Uma mistura de chuva e sexo.
Do caralho!
Muito bom Rob, só elogios a crônica. Com sinceridade, Parabéns!
Nem sei o que dizer, arrasou como sempre Rob
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