Depois que o café chegou, nenhum dos dois bebeu. Ela parecia
perdida em pensamentos, ele parecia perdido nela. Mas quem encontrou as
palavras foi ela.
– Você lembra do nosso primeiro encontro?
Ele fez que sim com a cabeça. Sorriu um sorriso
pequenininho, e não teve certeza de que ela percebeu. Se percebeu, não falou
nada. Ela já estava de volta ao primeiro encontro.
– Você lembra que foi no bar, certo?
– Claro.
– Mas aposto que você lembra pouca coisa além disso. Eu
lembro que você chegou quinze minutos atrasado, por causa do trânsito. Estava
começando a chover quando você chegou, e nós fomos embora dali debaixo da
tempestade. Logo depois de você me contar sobre o livro que estava lendo.
Ele mastigou o biscoitinho que estava ao lado do café. Ela
continuou.
– E eu me lembro que estava com um casaco novo. Vermelho, de
couro. E, na hora de irmos embora, você tirou sua jaqueta e colocou nas minhas
costas, para me proteger da chuva. E nós saímos correndo procurando um táxi,
mas não encontramos nenhum. Acabamos ficando escondidos embaixo de um toldo,
esperando por um táxi. E, quando eu vi, você estava me beijando.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
– Aposto que você não lembrava de tudo isso.
Ele sorriu e abaixou os olhos, dando o primeiro gole no
café. Lembrava de tudo. Lembrava com perfeição e até melhor que ela. Por exemplo,
sabia que o casaco que ela usara no primeiro encontro era preto. O casaco
vermelho realmente era novo, mas ela havia usado somente no segundo encontro.
Mas não contestou o que ela disse.
Se ela se lembrava daquele dia desse jeito, vestindo um
casaco vermelho que ainda não existia, não era a memória dela que devia ser corrigida,
mas sim a forma como o dia aconteceu de verdade.
Assim, guardou a memória do casaco preto num canto do
cérebro e fez com que ela vestisse no primeiro encontro. A partir de agora, ela
usaria casaco vermelho sempre que se lembrassem do primeiro encontro. A memória
dela sobre como as coisas aconteceram importava mais que a forma que as coisas
tinham acontecido. Ele não precisava estar certo, ele precisava proteger as
lembranças dela.
– Você sempre se lembrou de detalhes melhor que eu.
Desta vez, foi ela que sorriu.
E, no sorriso, ele entendeu que a história do dia mais
especial que havia experimentado estava guardada no lugar certo: dentro dela.
Com qualquer casaco que ela quisesse.
2 leitores:
Demais.
Ahhh cara...
Você deveria cobrar por conselhos que salvam relacionamentos para a vida toda.
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