15 de julho de 2011

#24Horas24Crônicas #1 - Formatura

(tema sugerido por @vnucci)

Estudaram juntos. Não se conheceram no primeiro dia. Talvez na primeira semana, mas não se lembravam com certeza. A data exata havia se perdido em meio a uma das muitas tardes de bebida após as aulas, desaparecendo lentamente em meio a uma gargalhada. Tanto que até mesmo o fato de não se lembrarem do dia em que haviam se conhecido se tornara uma espécie de piada entre os dois.

Mas não precisavam de uma data exata para da qual se lembrarem. Eram jovens e tinham todo o tempo do mundo, não era necessário olhar para o passado. E era justamente assim que viviam o presente, sem preocupações. Nem mesmo com aulas ou provas. Passavam a manhã inteira um ao lado do outro. Eram amigos e confidentes. Eram parceiros de farra.
Eram parceiros de estudo.

Eram parceiros de vida, daquele tipo raro que se conversa até mesmo quando se caminha em silêncio.

E assim protegendo um ao outro, atravessaram o curso inteiro. Ela queria carreira acadêmica, ele queria trabalhar na área. Ela gostava de estudar para as provas de madrugada, ele começou a passar as tardes num estágio. Mas não se separavam jamais. Nem mesmo quando ele pegou DP de uma matéria e ela fez o curso inteiro com ele, assistindo as aulas na carteira atrás dele, escondida do professor.

Eram mais que amigos, eram parceiros.

Realizavam todos os trabalhos juntos, e um passava cola para o outro. E, quando ela faltou na prova que mais precisava de nota por causa da morte do avô, ele fez a prova e entregou com o nome dela. Ela tirou oito sem saber, ele tirou zero de propósito. Da mesma forma que ela fez o trabalho mais difícil da faculdade sozinha, enquanto ele ardia de febre em casa. Tiraram nove, e ele soube apenas dias depois, quando acreditava ter perdido o semestre.

Eram mais que parceiros, eram cúmplices.

Mas não eram cúmplices do tempo, que passou impiedosamente e cada vez mais rápido. Matérias foram ficando para trás, semestres foram sendo ultrapassados como ondas, professores deixaram de ser inimigos para se transformarem em memórias doces do começo da faculdade.

Quando perceberam, tudo havia acabado. Estavam sem formando. Eram mais que amigos, mais que parceiros, mais que cúmplices, mas, a partir do dia seguinte, seriam nada. Mas um nada com diploma.

E foi justamente após receber o diploma que se abraçaram, felizes, mas com a saudade antecipada de quem irá dizer, que um deles – e não importa qual – deixou escapar.

- Eu amo você.

Apertaram-se ainda mais no abraço antes que o outro respondesse.

- Eu também. Desde o primeiro dia.

- Do primeiro dia? Mas... Você se lembra do dia que nos conhecemos?

- Faz diferença?

Não fazia. Porque o primeiro dia deles seria o dia seguinte. Casaram-se duas semanas depois. Nunca entenderam se casaram porque se amavam ou porque não imaginavam viver uma vida inteira sem o outro.

Não fazia diferença.

Agora, mais que cúmplices, eram um do outro.

Agora, para sempre.

21 leitores:

K.P. disse...

E esse foi só o primeiro deles... ai.

Claudia Iarossi disse...

Fantástico para o início!!!

Cara, como vc consegue????

Vou pensar em um tema, não sou muito boa nisso, mas vou tentar.

Anônimo disse...

Lindo, muito lindo. Parabéns!

Barlavento disse...

Conheci Meu Amor na faculdade. Não foi no primeiro dia. Na verdade foi no último semestre dele.
Lembrei da gente namorando depois das aulas.
Essa crônica me trouxe boas recordações.
Obrigada, Rob.

Bia disse...

Começou muito bem!

Lindo texto, lindo demais!

Naiana Carvalho disse...

*.* muito bom!

@reinildo disse...

Perfect!

Vitor Nucci disse...

É impressionante como ficou perfeito, parabéns. Será um prazer acompanhar as 24. :D

Mari Hauer disse...

Que delícia de texto! Eu tive um amor da minha vida na faculdade, ele soube, mas nunca aconteceu nada.
Queria que tivesse tido o final dessa crônica! Lindo!

Elise disse...

Haha, legal, gostei!
Não conheci meu amor na faculdade, mas no colégio. Lembro de como nos conhecemos, mas não lembro exatamente quando foi. Só sei que ele estava saindo, eu estava entrando. Foram sete anos até ficarmos juntos... e isso nem faz mais diferença.
Sua crônica me fez lembrar disso. =)

Camila disse...

Muito bom! =)

Marina disse...

Lindíssimo. Confesso que não dava muito pelo tema, quando li no twitter. Boss.

Varotto disse...

Opa! Cheguei atrasado!

Vou ver se consigo colocar tudo em dia.

Já começou cantando pneu!

Vejamos o que a madrugada reserva para seus neurônios...

Ana Luísa disse...

Fantástico, Fantástico! Abriu a série MUITO bem, tive que twittar frase e tudo. Amei!

Brunín Assis disse...

Se o Varotto chegou atrasado, imagina eu então... bora me atualizar de tudo!

Um excelente começo, leve e bonitinho!

Sil disse...

Lindo, lindo, me fez chorar.

Adoro suas histórias de amor com final feliz.

Carolina Dias disse...

Nossa..maravilhoso!!agora vou ter q ler todas as 24 cronicas!!!! vc é muito bom!!

Anônimo disse...

Então, comecei pelos últimos cinco textos, pois foi quando descobri a maratona. Agora volto pra ler desde o primeiro e amei esse.

Leo Barcelos disse...

Só mesmo Rob Gordon para me fazer chorar e ao mesmo tempo me identificar tanto com um texto.

Unknown disse...

Eu chorei =')

Achei absurdamente lindo!

:)

ISAIAS disse...

Depois de seculos descobri essas crônicas, parabéns,esse texto parece comigo,conheci minha esposa em um curso de pedagogia,o seu texto é lindo, cheio de analogias.Rob Gordon me desculpe a ousadia,eu não tenho uma linha publica,e vc já tem uma carreira como escritor, é porque encontrei no texto uma frase assim:"Estavam sem formando" é assim mesmo ? Ou era pra ser Estavam se formando ou si formando ?Parabéns pelo pod cast gente que escreve,te conheço de lá,kkk,com o Fabio M Barreto.Um abraço.

 

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