8 de novembro de 2010

Branco

Em pé, olhou ao redor. A sala estava totalmente vazia. As paredes eram de um branco perfeito, sem falhas ou máculas. O chão e o piso não possuíam contraste e seguiam a mesma toada. O mundo era repleto da ausência de cores. Não fazia frio ou calor, não ventava ou chovia. Fazia apenas silêncio. Sem música, sem palavras, sem risos que jogam a cabeça para trás numa tarde ensolarada. E sem escritas. Apenas branco. Branco, apenas.

Em pé, olhou para dentro de si. Um turbilhão de cores, sons e lágrimas que gargalhavam girava freneticamente em sua mente. Rastros perdidos de conversas distantes, que soavam como pertencentes à outra realidade. Tudo soava tão distante, tudo soava tão vago, como memórias de um sonho interrompido pela metade com a aurora bruta e impiedosa que transformou o tempo em algo curto demais. E sem futuro. Apenas sonho. Sonho, apenas.

Em pé, olhou para o passado. Sabendo não ser forte, encontrou apenas outro motivo. Não tinha forças. O branco exterior não machucava seus olhos, tampouco o confortava. As cores de sua mente não o faziam flutuar, tampouco o agrediam com imagens daquilo que não era mais. Não chorou nem sorriu, pois não conseguia mais. Não pertencia mais ao mundo, e o mundo nunca fora dele. E sem música. Apenas silêncio. Silêncio, apenas.

E, mergulhado eternamente num sonho de silêncio sem cores, descobriu-se velho. Apenas velho. Apenas para sempre.

5 leitores:

melinda disse...

Será que a velhice tem este gosto sombrio!!Um inventário inacabado e cheio de resignação?? Então eu tô adiantada....

Rob tu tá deprimido!!

beijo

Mari Hauer disse...

Eu bem gosto destes textos sentidos! Principalmente nesse meu estado, talvez, tão branco quanto o do texto...
Fiquei pensando ainda hoje, durante a tarde, o quanto eu não queria ter crescido. O quanto eu não queria ter deixado a faculdade. O quanto tanta coisa passou e eu não percebi... Fiquei mais que pensando. Me senti velha, com uma vida linda tirada de mim, com um amargo de nostalgia que beirava o ódio. Talvez seja só insatisfação com a vida que eu levo hoje, que não é ruim nem nada, mas anda vazia pra caralho!
Porque pior que o caos, talvez seja o tédio. E tédio muitas vezes é branco, silencioso, ausente de cores e barulhos, aquela coisa morna que não sacia nem te faz vomitar!

Mas, mesmo me arrastando, eu carrego comigo uma pontinha otimista, que me faz acreditar que daqui 30, 40 anos, eu vou estar beirando a morte e lembrar dos meus dias de tédio com graça, rindo dos dias que eu só escutava branco e via silêncio e ter a paz necessária para sentir a mesma nostalgia que eu sinto hoje da minha infância e adolescência!

Jullia A. disse...

Lembre-se que o branco 'e a juncao de cores que se anulam. analise o pensamento parte a parte e as cores voltam.

ps;voce mudou os textos varios pra mesma pagina!

Tharik disse...

Medo, de um dia me deparar com essa situação

Rob Gordon disse...

Julia:

Você pediu. :)

Beijos

Rob

 

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