Saiu de casa para trabalhar querendo voltar. Não queria ter saído da cama.
Pegou o ônibus e chegou ao trabalho pensando na hora de ir embora. Foi para a mesa e lá ficou, lutando para não pensar na cama, para se concentrar no trabalho, rezando para o dia passar logo. E nem chegou perto da máquina de café.
Na hora do almoço, não foi comer – não queria ficar parado, não queria cheiro de comida. Pensou em entrar numa livraria, mas como gostava do cheiro de papel, não quis arriscar. Andou pela rua mesmo, e voltou para o trabalho.
Não conseguia mais se concentrar, e, ao mesmo tempo, o relógio também parecia sofrer do mesmo mal: as horas não passavam. Saiu do prédio para fumar, mas desistiu com medo do cheiro do cigarro. Não queria cheiro nenhum.
E, às seis horas da tarde, desligou tudo e foi para casa, a pé mesmo, fugindo dos cheiros de chuva, de gasolina, evitando os cheiros do mundo. Entrou em casa, jogou as coisas na mesa, correu para o quarto e deitou-se na cama vazia.
O perfume dela continuava nos lençóis.
Agradeceu baixinho, tirou a roupa e deitou-se. Se enrolou nas lembranças de horas atrás. Sabendo que daria a vida para voltar no tempo, agarrou o travesseiro e dormiu.
E, no momento em que ela, no outro lado da cidade, pensava nele, ele sorriu dormindo, sem perceber.
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7 leitores:
Entendo perfeitamente isso - vivo sempre assim. =)
Eis a simplicidade das coisas.
Um pequeno gesto com uma grande emoção.
O começo pareceu minha vida. Depois, tornou-se uma história que só Rob Gordon sabe contar.
Vai pro livro, ou não vai?!?
SABIA que era um cheiro "dela", sabia!
Fantástico, como sempre!
(Já percebeu que não consigo dizer outra coisa nesse blog? =])
Os cheiros...sentir saudade de um cheiro dói mais que sentir saudade da pele, do toque...
Porque o cheiro deixa uma marca nos sentidos, passa a ser único entre tantos cheiros..
Tentar preservar a sensação dele descendo pelas narinas, deslizando até chegar no coração e ali adormecer...no sempre...no que era para ter sido para sempre...
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