5 de fevereiro de 2010

Quatro Elementos

A água turva o impedia de enxergar qualquer coisa ao seu redor. Não sabia direito onde estava nem para qual lado ficava a superfície. Sentia-se como se estivesse não apenas submerso, mas preso, sem poder nadar. Sem poder respirar. Começou a agitar os braços, desesperado, procurando se mover para qualquer lado. Não adiantou. Continuava se afogando. Aos poucos, seu raciocínio começou a falhar. Flashes de memórias pipocavam em sua mente, brigando com o instinto de sobrevivência, que começou a gritar alarmado. Seus pulmões começaram a queimar. Ia morrer. Afogado e asfixiado de saudade.

O fogo dos lábios dela invadiu os seus. Seu corpo foi inundado de oxigênio, respirável, inflamável. Ainda ofegante, correspondeu ao beijo e sentiu sua pele queimar. Primeiro, os lábios, depois o rosto e o resto do corpo. Ardia de desejo, ardia de loucura. Ardia dela. Sua pele assumiu tons vermelhos, e as chamas se espalharam por toda a sua vida. Não era apenas sua boca que estava sendo beijada. Todos os dias que havia vivido estavam presos aos lábios dela; tudo aquilo que ele seria, todos os seus sonhos estavam ali, presos entre dentes, sendo mordidos de leve. Ia morrer. Queimado e ardendo de paixão.

O ar agora estava ao seu redor. Não era mais o dono do seu corpo, flutuava. Se antes não tinha ar, agora era feito dele. Lábios mágicos haviam soprado vida em seu corpo, e dançava ao sabor do vento, feito uma folha de árvore que se recusa a cair. Voava. E, do alto, viu outro mundo, com outros olhos. Olhos de amor, olhos de paz. Ultrapassou nuvens, mergulhou na escuridão do espaço e, aproximando-se do Sol, nu, agradeceu por estar vivo, agradeceu, num grito sem som e preso no vácuo, por ela ser tão linda. E, caiu rapidamente, com o solo se aproximando vertiginosamente. Ia morrer. Estatelado e alquebrado de encanto.

A terra era vermelha paixão. Estava nu, deitado confortavelmente na terra úmida e morna, sentindo seu corpo vibrar. Não havia caído, havia pousado. Repousado. A terra penetrava por entre seus dedos e ameaçava cobrir seu corpo, engoli-lo para proteger do frio e da solidão. Torrões misturaram-se aos seus cabelos e prenderam-se nos pelos de seu corpo. Abriu os olhos e só aí percebeu que não estava no chão, mas sim numa superfície suave, doce. Estava nos lábios dela, preso num labirinto de dentes que sorriam. Fechou os olhos e compreendeu, finalmente, seu destino. Ia viver. Satisfeito e lambuzado de amor.

E molhado incandescente, sorriu, voando deitado.

Era o senhor dos lábios dela, e de todos os seus elementos.

4 leitores:

Rafiki Papio disse...

Uma bela imagem novamente. E se ele tinha os quatro elementos do que ele era feito? Que essa deusa dos lábios tome conta de todos nós.

Lary disse...

E naquele grito silencioso, compreendeu tudo que não podia ser explicado...

Camila disse...

Suavemente desesperador...ou seria desesperadamente suave?
Ah...o amor!...

Pulo no Escuro disse...

imagina um post que me deixou sem te o q comentar.
Pois é...

 

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