18 de fevereiro de 2010

O Mundo dos Olhos

Ela não olhava nos olhos.

Bastava alguém a olhar mais profundamente, no meio de uma conversa, e seus olhos desviavam, corriam para longe, encaravam o chão. Era sempre assim.

Sempre fora assim, desde criança. Na escolinha, seus olhos estavam sempre para o lado, procurando por algo mais que ninguém via. Na adolescência, não encarava seus namorados. Ganhou fama de arredia, de tímida, de arrogante.

Ela mesma não conseguia evitar – ou sequer entender o porquê disso. E, com o tempo desistiu de compreender, e apenas aceitou. Não gostava de olhar nos olhos.

Cresceu sem olhar nos olhos. Virou mulher sem olhar nos olhos.

E viveu anos e anos assim.

Um dia, ela descobrirá que seus olhos eram mais que olhos, eram portas. Dentro dela existia um mundo diferente dos mundos de todas as outras pessoas. Um mundo encantado, mágico, encantador e sedutor, repleto de sonhos, desejos, loucuras e paz. Um mundo com cheiros, cores, sons e sabores além da compreensão de qualquer pessoa.

E seus olhos eram as janelas para este mundo.

Assim, ela não apenas encarava as pessoas, ela apenas desviava, dos outros, a entrada para este mundo. Era a deusa e a guardiã do seu mundo.

Pois era um mundo tão além de tudo, que ninguém estava pronto para olhar dentro dele – era tão mágico que não seria compreendido. E permitir que alguém passeasse por este mundo sem compreendê-lo totalmente seria o mesmo que violá-lo. Seria violar cada um dos seus sonhos.

Um dia, porém, alguém a fará sorrir desprevenida, e, jogando os cabelos para trás, ela olhará fixamente. Neste momento, saberá que seus olhos eram as janelas, eram parapeitos para o mundo, mas que o portal para adentrar nele sempre foi seu sorriso.

Neste momento, ela despertará e se tornará o mundo.

Neste momento, ela não sonhará mais. Ela se tornará o sonho.

6 leitores:

Varotto disse...

Vamos lá...

Já está ficando chato só eu repetir isso.

E então? E o livro do Chronicles???

Alguém aí, por favor me ajude...

Mari Hauer disse...

Ah, não sei se isso é do universo feminino, mas imagino que não... Cada um desenvolve uma forma de proteger o que é sagrado pra si, né? Pelos olhos, pelo coração, por palavras, por atos ou pela ausência deles...

E nada melhor do que ter algo ou alguém que consiga entrar no seu universo particular... alguém que consiga te olhar nos olhos mesmo quando os desviamos... alguém que te enxergue além das palavras, no silêncio...

E é delicioso quando alguém te surpreende enxergando e aceitando tudo aquilo que, para você, está além da compreensão de qualquer pessoa... E assim, compreende o incompreensível.

Lindo o texto!

E bem, eu ajudo o Varotto! E o livro do Chronicles?

Camila disse...

Vou me juntar ao coro...e o livro do chronicles???

Marina disse...

Rob,

Você, que sequer me conhece, escreveu essa sobre mim. Quase me sinto lisonjeada. Abismada, sem dúvida.

Pulo no Escuro disse...

Não... certamente esse não é o motivo de eu não encarar as pessoas.
Mas até fiquei com inveja dela.
xD

Anônimo disse...

Cara, como você consegue? Seus textos são muito profundos, depois que leio fico pensando neles...

Você sabe envolver o leitor na história. Parabéns.

 

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