Ela tinha um segredo.
Guardava, na memória do computador, todas as conversas de Messenger que significavam o final de algum de seus namoros. Não necessariamente as conversas retratavam o exato momento do rompimento – algumas sim – mas sim uma pequena fração de tempo na qual ela havia desapaixonado. Não eram apenas finais de namoro, eram finais de paixão.
Eram finais de etapas.
Ela não contava para ninguém isso. Era um pequeno segredo que já a acompanhava por anos, sem ninguém saber. Enquanto as outras meninas guardavam cartas adocicadas de antigos de namorados, ela guardava dores e desencantos. Aquelas frases, às vezes amargas, às vezes casuais, escreviam boa parte de sua história.
Claro que sua história não era formada somente de desilusões. Ela também havia colecionado sorrisos, passeios de mãos dadas, amores apaixonantes e paixões amorosas. E possuía, também, recordações de momentos felizes. Mas era a única pessoa que guardava as conversas de rompimentos. Ao menos, era a única que conhecia.
E, de vez em quando, corria para o computador para reler as conversas. Fazia isso quando se sentia um pouco perdida, um pouco sem rumo.
Relembrar daqueles diálogos fazia com que ela relembrasse dela própria. Fazia com que ela recuperasse seus sonhos, suas aspirações, seus medos.
Ela estava ali, em todas aquelas frases. Não estava na dor do rompimento ou nas lágrimas que derramou quando teve cada uma das conversas. Ela estava presente, ali, mas nas convicções das quais nunca abriu mão, nos sonhos que nasceram quando era menina e se mantiveram ao longo dos anos, na vontade se apaixonar e saber, no dia seguinte, que seria para sempre, que seria calmo e plácido.
Relia. E aprendia. Aprendia cada vez mais sobre si própria; aprendia com seus erros, e tentava aprender algo com os erros dos outros, que havia escolhido (conscientemente ou não) saírem de sua vida. Aquela era sua história. Não uma história de dor ou solidão, mas uma história de aprendizado. Era a sua história.
Não eram rompimentos. Eram ajustes no percurso, que levavam a um destino que somente ela conhecia. Não conseguia enxergar ao certo, mas sabia que este destino estava lá, e que era questão de tempo. E que jamais chegaria a ele se não fosse cada uma destas conversas, cada decisão e atitude que tomou enquanto elas aconteciam.
Um dia seria para sempre. Um dia ela voltaria a se sentar na calçada, ou numa mesa de bar, e conversar com alguém, como se tivesse quinze anos de idade, com todos os seus sonhos ali, intactos e prontos para se realizarem. E aí ela entenderia que reler estas conversas foi o que manteve cada um destes sonhos intactos.
Um dia, ela sabia, a pasta seria fechada. Nenhuma outra conversa entraria ali. Mas as antigas continuariam sempre.
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5 leitores:
Porque a vida é o caminho...
Lindo post, Rob!
Isso foi lindo. Era o que eu precisava ler. Um desses parágrafos fez muito sentindo pra mim.
Sempre encontro algo que me toca aqui...
Obrigada!
"Um dia seria para sempre".
Acho que é o que nos move. Enquanto existe o "seria", existe a busca, existe o percurso, existem as suspresas.
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