7 de agosto de 2014

Paçoquita no Divã

– Como você passou essa semana?

O psicólogo cruzou as pernas e ficou em silêncio, esperando seu paciente responder. No sofá à sua frente, a Paçoquita Cremosa parecia aflita e com olhar perdido. Estava organizando seus pensamentos e emoções. Finalmente, respondeu, ainda sem olhar diretamente para o psicólogo.

– Eu não estou sabendo lidar com isso.

– Com o quê, exatamente?

– Com... Não sei, não é fama. Não gosto dessa palavra. Mas não estou sabendo lidar com esse agito todo por minha causa.

Desta vez, o psicólogo não falou nada pois sabia que a Paçoquita iria continuar seu raciocínio, e não queria interrompê-la. Dito e feito. Ela respondeu, olhando para janela, aparentemente ainda desconfortável de olhar o psicólogo nos olhos.

– Todo dia eu entro na internet e as pessoas estão falando sobre mim. Alguns reclamam que não me encontraram, outros se vangloriam por terem fotos ao meu lado. Eu não estou sabendo lidar com nada disso.

– Você se sente pressionada?

– Não, não é pressionada. Acho que não. Eu só não enxergo nenhum sentido nisso.

– Como assim?

– Ontem, por exemplo. Eu estava olhando as redes sociais e encontrei um vídeo. Era uma pessoa que estava comigo e filmou todo o processo de abrir meu pote e me passar no pão. O jeito que a pessoa fez aquilo... É doentio. É quase doentio. E as outras pessoas comentando que morriam de inveja dele, que queriam ser ele, que queriam estar comigo.

– Isso incomoda você?

– Não sei ao certo se incomoda. Eu apenas não entendo. E as notícias? Eu já vi notícias em portais sobre pessoas que conseguiram me encontrar numa loja. E eu fico olhando isso, sem saber direito como reagir.

– Por quê?

– Porque eu sou uma pasta doce de amendoim. Vamos ser sinceros? Eu não passo disso. Eu não sou nada além disso.

– Mas, talvez, para essas pessoas, você seja.

– Duvido.

– Porque elas parecem valorizar você.

– Sim, admito que talvez elas gostem do sabor. Mas isso não justifica um site ter publicado um mapa dizendo onde me achar. Sabe, eu não sou uma garrafa de água em um mundo apocalíptico. Eu sou uma porra de uma pasta doce de amendoim. Mas sabe o que é engraçado?

– Diga.

– Hoje, todo mundo fala que precisa de mim. Que não dá para ficar sem mim. Que precisam saber onde me achar para poder ser feliz. Só que seis meses atrás eu não existia, e aparentemente as pessoas não estavam sentindo falta disso. A humanidade não estava entristecida, procurando por algo que as fizesse feliz e eu apareci. Não, nada disso.

– Mas elas não conheciam você.

– Exatamente meu ponto. Ninguém ficava implorando para inventarem uma Paçoquita Cremosa. E, cá entre nós, eu não sou tão genial assim.

– Como assim?

– Sei lá. O e-mail. A roda. Essas coisas foram inventadas e mudaram o mundo. E as pessoas não ficavam pedindo por isso antes, porque nem conseguiam visualizar a coisa. Mas estamos falando da roda, não de um doce de amendoim. Achar que um doce de amendoim vai trazer felicidade é imbecil demais. Até eu que sou doce de amendoim sei que cultuar um doce de amendoim é estúpido demais.

– Mas talvez as pessoas enxerguem você algo que...

– Não. Nem continue. Eu não aguento mais as pessoas enxergando em mim algo que não sou. De ontem para hoje já vi pessoas dizendo que sou épico. Sou genial. Zerei os doces de amendoim. Sou a cara do Brasil. Sou a felicidade em forma de pastinha. Eu não aguento mais isso. Minha vontade é chamar cada uma delas de canto e perguntar se a pessoa tem problemas. Porque para você achar isso de mim, você precisa ter problemas.

– Bem, talvez as pessoas não se importem com você, mas sim com os outros.

– Como assim?

– Se todo mundo quer Paçoquita, aquele que consegue vai exibir como um troféu.

– Então eu tenho razão. As pessoas têm problemas. Porque você idolatrar um doce de amendoim só porque as outras pessoas idolatram um doce de amendoim... Você precisa não ter contato com a realidade para isso. E, olhe, eu sou um doce de amendoim. Teoricamente, eu deveria ser o primeiro a querer que os doces de amendoim fossem adorados. Mas não dá. Não assim. É imbecil demais. Vou falar uma coisa que não sei se devo.

– Diga.

– Eu tenho vergonha disso. Eu tenho vergonha do que me tornei.

– Mas não é culpa sua.

– Mesmo assim. Tudo o que eu devia fazer é ser passado num pão. E, de repente, eu me tornei celebridadezinha de internet, sem nem saber direito o motivo. E como toda celebridade de internet, logo mais começam a me xingar. Porque tem gente que sempre odeia tudo o que todo mundo adora.

– Mas isso não é normal?

– É. Mas não devia ser. É estúpido demais. Eu não sou um estilo de vida, eu sou um negócio para passar no pão.

– Mas você não tem controle sobre isso.

– Talvez esse seja o problema. Ninguém tem controle sobre a falta de bom senso das pessoas. Me chamaram outro dia para eu fazer um editorial para um blog de moda. Queriam que eu falasse que roupas uso para sair. Eu nem respondi o mail. Custa deixar eu ser uma pasta de amendoim? É pedir demais?

– Bem...

– Tem pessoas declarando juras de amor para mim na internet. Pessoas passam o dia inteiro falando de mim. Eu tenho até um pouco de medo disso.

– Medo?

– Sim, porque uma pessoa declara seu amor para uma pasta de amendoim, que fica postando fotos com a pasta de amendoim, falando que hoje vai atrás de pasta de amendoim... Sabe, está tudo errado. Essa pessoa devia estar sentada aqui conversando com você. Não eu. Eu devia estar na merda do pão, quieta no meu canto.

– Bom, você sabe que com o tempo isso vai passar.

– Ah, sim. Foi como o Kit Kat. Virou febre. Todo mundo precisava do Kit Kat. Matariam por Kit Kat. Se você não tinha Kit Kat, você era um bosta. E hoje? Onde está o Kit Kat? A última vez que ouvi falar, ele estava numa clínica de desintoxicação de drogas, com os amigos pagando porque ele perdeu tudo o que tinha. Os cupcakes? Estão aí, ganhando uma miséria participando em festinhas de quinze anos no interior. Mal têm onde morar. Outro dia, eram juras de amor eterno. Ninguém vivia sem cupcake. "Preciso de um cupcake". Hoje, virou lixo. O brigadeiro sumiu. Se bobear, morreu e ninguém sabe. Todo mundo tinha foto com o brigadeiro. Agora sumiu. Ninguém se importa.

– Sim.

– Aliás, alguém tinha que ligar para a coxinha e dizer para ela economizar um pouco. Porque isso aí não vai durar muito. Logo mais inventam outro salgado e coxinha vira coisa de gente cafona. Ingrato demais.

– Sim.

– E eu não estou sabendo lidar com isso. Acredita que quando eu vim para cá, uma garota me parou na rua e pediu para eu tirar uma foto com ela? Aí ela disse que nem tinha gostado tanto de mim assim, mas precisava de uma foto para postar no Instagram. As pessoas são vazias demais.

– Sim. Mas podemos voltar a falar disso na próxima semana. Nosso tempo acabou.

– O nosso tempo, né? O meu ainda vai durar mais uns dez dias.

– Como assim?


– É o máximo que as paixões eternas de internet duram. Mil fotos e uns vinte dias.

– Mas, como dissemos, isso é um estilo de vida.

– É aí que eu discordo de você.

– Como assim?

– Para ter um estilo de vida, a pessoa precisa, antes de tudo, ter vida. E não é o que acontece.

O psicólogo não soube o que responder. Mas não fez diferença: a Paçoquita já havia ido embora - pelos fundos, porque um site publicou que ela estava no prédio e uma multidão se acotovelada na calçada, esperando por uma chance de dizer nas redes sociais que "zerei a vida! Encontrei a Paçoquita!"

15 leitores:

Varotto disse...

Calma, calma, Paçoquita. Isso tudo paça, tudo paçará.

Unknown disse...

Rob, você poderia escrever uma crônica de cada uma dessas imbecilidades que surgem a cada dia na internet! Seria diversão constante!

Juba disse...

Já que não posso escrever como o Rob, queria pelo menos escrever como o Varotto.

Hally disse...

Só pra deixar a paçoquita menos paranoica com essa coisa toda que ela se tornou, vou tirar uma foto da nutella. Ainda mais gostosa =)

Fernanda disse...

Paçoquita, e eu acha do que isso era uma piada da internet... Não, pêra!

Anônimo disse...

Olá, meus parabéns, esse é apenas o pior texto que já li em toda a minha vida.
Não vejo muita diferença entre o que você produz e o processo de como a internet gera imbecilidades como nessa ~crítica que você escreveu. Seu texto é tão idiota quanto o assunto que você critica. Muito feio se colocar acima das coisas quando você não é muito diferente hein.

Forte abraço,
Pedro

Rob Gordon disse...

Pedro:

Seu comentário nos leva a uma pergunta:

Quem é mais idiota: o idiota que escreve ou o idiota que ainda se dá ao trabalho de comentar algo que considera idiota?

É, então. E o mais legal é que isso nos leva a uma conclusão: não importa o quão idiota um texto possa ser, pois ele sempre receberá um comentário ainda mais idiota.

Abraços,
Rob

Anônimo disse...

Oi meu caro Rob, já deveria ter imaginado que pela sua personalidade analítica e soberana você responderia meu comentário com uma pergunta retórica que não vem apenas com uma resposta, mas com uma conclusão (!!!)

Mas na verdade, respondendo sua pergunta muito relevante: não me importo de ser idiota. Se pessoas como você que se acham muito bacanas e inteligentes continuarem produzindo esses lixos de textos, acho válido ser considerado idiota. Sabe por que? Porque existe uma função lúdica nas porcarias que você escreve, onde eu paro e penso: ufa eu poderia ser esse cara, que bom que não sou!

Bom fds, abraços
Pedro

Varotto disse...

E o prêmio de melhor resposta na categoria "Você é bobo, feio e cara de mamão" vai para...

Dragus disse...

Rob ganhou um stalker para chamar de seu.

Dragus disse...

Gostaria de deixar claro, e a contento, que os trolls de estimação do sr. Rob Gordon somos eu e o Varotto.

E com gorro. Sempre com gorro.

Abraços.

Fernanda disse...

Pedro, se você quer concorrer ao premio Babaca Gourmet, veio no site errado, mas garanto meu voto quando vc achar seu caminho pra longe, tá. Sua ironia nada irônica nem consegue gerar pena, então faça um favor a todos nos: a porta é serventia da casa, e aquele xiszinho ali em cima é cortesia. Vai e não volta, faça esse bem pra todos os leitores do Champ, pro Rob e pra vc mesmo. Xô!

Marina disse...

Confesso que vim aqui só para rir do troll novo que o Rob ganhou. Parabéns, Rob. Só escritores realmente bons tem um desses.

Varotto disse...

Isso aí, Dragus! É que nem irmão: só a gente pode esculachar.

Amanda Tracera disse...

Fantástico! HAHAHAHAHAHA Já tava começando a me sentir estranha por estar incomodada com esse amor chato pela tal da Paçoquita Cremosa, uma vez que ninguém parecia concordar comigo. Vou andar com esse texto impresso pra dar de presente ao pessoal que põe esse creme de amendoim num pedestal, haha.

 

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