Vivia confortável no meio da multidão.
E ia pulando de assunto em assunto, mudando seu estilo de
vida e acompanhando o mundo ao seu redor.
Quando escrever se tornou moda, ele não contou para ninguém
que sempre havia detestado ler e criou um blog. Quando todos começaram a ouvir
aquela banda antiga, ele não contou para ninguém que sempre achara a música ruim,
abandonou o blog e comprou todos os discos. Quando aquela raça de cachorros peludinhos
entrou na moda, ele não contou para ninguém que nunca soube cuidar de cachorros
deixou os CDs de lado e comprou um filhote. Quando todos começaram a fotografar,
ele não contou para ninguém que nunca havia sentido vontade nem de segurar uma
câmera e deixou de cuidar direito do cãozinho porque se matriculou num curso. Quando
o assunto do momento se tornou hambúrguer, ele não contou para ninguém que
desde criança gostava mais de cachorro quente e largou o curso, pois usava o dinheiro
para visitar hamburguerias famosas. Quando o assunto do momento se tornou
política, ele não contou para ninguém que nunca havia dado importância a pensar
em quem votar e largou o curso para se envolver em manifestações. Quando todos
passaram a venerar um destino turístico, ele não contou para ninguém que
detestava viajar e sumiu das manifestações, pois estava passando quinze dias no
lugar. Quando gatos se tornaram o bicho do momento, ele não contou para ninguém
que era alérgico aos pelos e abandonou os planos de uma nova viagem para cuidar
do novo filhotinho. Quando todos começaram a protestar pelos direitos civis,
ele não contou para ninguém que queria ter mais direitos que os outros, e tirou
o gato do colo porque precisava postar protestos inflamados na internet. Quando
chapéus entraram na moda, ele não contou para ninguém que achava aquilo incômodo,
e saiu da internet para poder desfilar na rua com seu chapéu novo. Quando
aquele diretor de cinema entrou na moda, ele não contou para ninguém que sempre
havia achado chato, e voltou para casa para decorar todas as falas do filme
mais conhecido do sujeito. Quando as pessoas começaram a discutir se o hábito de
todos copiarem tudo o que os outros faziam era saudável, ele não contou para
ninguém que não fazia a menor ideia de quem ele era de verdade e passou a menosprezar
publicamente quem fazia isso, acusando as pessoas de não ter personalidade
própria.
Vivia tranquilamente dentro da multidão.
3 leitores:
Ai, Rob, que agonia! Sério, foi agoniante conseguir terminar de ler o texto! o.O
[o que significa que, só pra variar, escreves bem pra caramba =D]
Triste saber que é não ficção.
Praticamente o perfil padrão da geração Y
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