16 de julho de 2011

#24Horas24Crônicas #6 - O Mundo e o Amor

(tema sugerido por: @analubussular)

Do lado de fora da janela, o mundo respirava calmo.

Dentro da sala, ambos estavam em pé, fitando o outro naquele silêncio repleto de palavras. Mesmo à meia luz, distinguiam perfeitamente seus traços, já que os conheciam de cor. Ela percorreu seu rosto com os dedos, gentilmente, como se desbravasse um mundo novo. Ele sorriu, fazendo com que os dedos optassem em se concentrar nos lábios.

Do lado de fora da janela, o mundo suspirava apaixonado.

Dentro da sala, ele acariciou seus cabelos. Com suavidade suficiente para deslizar os dedos pelas madeixas, com força suficiente para que ela não escapasse. E os olhos dela faiscaram, entregando que ela deixara-se tornar prisioneira do toque firme e gentil que anunciava promessas de levá-la a um paraíso formado de pecados.

Do lado de fora da janela, o mundo gemia desejado.

Dentro da sala, se beijaram num daqueles beijos que não tem começo ou fim, somente metade. Metade completa. E sussurraram os próprios nomes sem emitir um som naquela primeira invasão de corpos, momento único em que se tornaram um. E, lábios em lábios, dentes em língua, pele na pele, vibraram silenciosamente.

Do lado de fora da janela, o mundo ofegava excitado.

Dentro da sala, roupas caíram no chão, desajeitadas como adolescentes. Tecidos deslizaram sobre a pele, desnudando os corpos, vestindo almas e dando roupagem às fantasias. Mãos masculinas deslizaram pelas costas nuas dela; mãos femininas brincavam sorrateiramente pela nuca dele. E gemeram baixinho ao mesmo tempo para sempre.

Do lado de fora da janela, o mundo rosnava desejoso.

Dentro da sala, se abraçaram com seus corpos dançando sem música pelo tapete, quase flutuando no ar. Ela ficou de costas para a noite, com o rosto refugiado em seu peito. Ele, voltado para a varanda, cerrou os dentes no ombro quente dela, respirando seu cheiro, erguendo os olhos em direção ao horizonte... E parou.

Do lado de fora da janela, o mundo calou assustado.

Sem se importar em estar nu, o homem foi em direção à sacada, enquanto ela se cobria com o vestido, perguntando o que foi? Ele resmungou algo sobre os leitores de um blog estarem olhando tudo do prédio da frente, mas ela não entendeu. Ainda pelado, foi até a sacada e ficou encarando a janela escura do apartamento em frente.

Do lado de fora da janela, o mundo mandou todo mundo ficar quieto que o cara percebeu.

Após instantes, o homem acreditou ter visto um movimento na penumbra do outro lado da rua. Era suficiente. Fez um gesto obsceno com os dedos, berrando algo sobre os leitores deste blog serem desavergonhados, o escritor deste blog não respeitar nada, e que iria cobrir todo mundo de porrada para ensinar um pouco de bons modos.

Do lado de fora da janela, o mundo ficou quieto e fingiu que não era com ele, que ele estava dormindo.

Visivelmente transtornado, o homem virou as costas e entrou na sala, fechando a porta da varanda. Fechou também as cortinas, impedindo que qualquer coisa que acontecesse lá dentro fosse vista do lado de fora. Mas devem ter ido para o quarto, pois era evidente que a luz de outro aposento havia sido acesa.

Do lado de fora da janela, o mundo foi ver se tinha algo na TV, pensando que precisava perder essa mania de espiar os vizinhos, porque um dia ia dar merda.

8 leitores:

Ana Luísa disse...

Hahaha, é tão legal notar em como cada pessoa encara palavras de formas tão diferentes e legais! Eu, viciada em teatro como sou, sugeri cortinas pensando em um palco, e fiquei curiosíssima para saber em que você pensaria! Amei a ideia do casal, da janela, e do mundo lá fora, do outro lado da cortina fechada!
Beijos

K.P. disse...

Sei que até o último se postado eu ainda vou mudar de opinião mas, até agora, já tenho o meu eleito! Costela doendo de rir, Rob.

Varotto disse...

Boa!

Sil disse...

Muito bom mesmo, adoro quando o texto dá uma reviravolta, principalmente divertida como essa.

Definitivamente você escreve melhor sob pressão.

Patricia Koga disse...

Hahaha, essa foi demais!

Natalia Máximo disse...

hahahaha ótimo! O mundo é, realmente, desavergonhado demais e não respeita nada!

Brunín Assis disse...

Me senti um desavergonhado agora, observando o casal. Culpa sua, Rob!

Mari Hauer disse...

Estou aqui me perguntando se esse texto não deveria ter ido pro Vinyl, HAHAHAHA... Também eu estou me perguntando se vc não estava escrevendo, uma hora não sabia como terminar, e mudou o rumo da coisa. Vou correr agora pra ler os últimos!

 

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